Conselho Nacional de Saúde pede que ministério recue de liberação da cloroquina
Órgão é vinculado à estrutura da pasta e aponta que não há comprovação científica sobre uso da substância
O CNS (Conselho Nacional de Saúde), vinculado ao Ministério da Saúde, pediu a suspensão da orientação da própria pasta que libera o uso da hidroxicloroquina para tratar sintomas leves de contaminação pela Covid-19. No documento, o conselho afirma que a orientação do ministério não está baseada em evidências científicas e se baseia em estudos já criticados por pesquisadores.
“O uso da cloroquina, sem comprovação da eficácia, coloca em risco a vida de milhares de pessoas. As orientações desrespeitam a ciência porque inexistem estudos que indiquem eficácia do uso de cloroquina para sintomas leves”, afirma Débora Melecchi, representante da Federação Nacional dos Farmacêuticos (Fenafar) e integrante do conselho.
A substância é usada para o tratamento para o tratamento de outras doenças como contra a malária, lúpus e artrite reumatoide e, de acordo com a nota, sua indicação de uso contra a Covid-19 está impactado na disponibilidade do medicamento para os pacientes destas doenças.
“A possibilidade do desenvolvimento de efeitos colaterais graves, decorrentes do uso de cloroquina ou de hidroxicloroquina em pacientes leves, pode exigir uma internação que poderia não acontecer sem o uso desses medicamentos, acarretando a necessidade de mais leitos hospitalares”, aponta o documento encaminhado à pasta.
No recomendação, o CNS pede que o “governo federal desempenhe seu papel na defesa da ciência e a redução da dependência de equipamentos e insumos, construindo uma ampla e robusta produção nacional”. A recomendação também foi endereçada ao Ministério Público Federal a quem o CNS pede providências para que a indicação seja suspensa, pelos riscos à saúde da população brasileira.
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Em encontro com apoiadores neste sábado, na entrada do Palácio da Alvorada, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) voltou a defender o uso da substância para tratar pacientes com o novo coronavírus — mesmo sem comprovação científica.
“Na Guerra do Pacífico o soldado chegava ferido, sem sangue, e não tinha doador. Daí os caras foram lá, pegaram um coco e meteram na veia dele água de coco. E deu certo Se fosse esperar um protocolo, né, uma comprovação científica, iam morrer centenas ou milhares e iam descobrir depois que dá certo”, disse.
Mudança no ministério
A liberação da substância para os casos de Covid-19 esteve no centro das discussões que levaram à queda de dois ministros da Saúde durante a pandemia, Henrique Mandetta e Nelson Teich. A mudança de protocolo se deu após o general Eduardo Pazuello assumir a pasta.
Pela nova recomendação, os pacientes podem tomar, entre o primeiro e 14º dia, cloroquina ou sulfato de hidroxicloroquina associado à azitromonicina durante cinco dias. A orientação vale para todos os casos (leves, moderados e graves), observadas as especificações de dosagem. Para os casos graves, o medicamento é indicado também após o 14º dia, observando as características de cada paciente.
O documento divulgado pelo Ministério da Saúde faz algumas ressalvas. Entre elas, que o medicamento deve ser prescrito por um médico e que ele tem autonomia para decidir ou não sobre o uso.
O texto afirma também que não existe outro medicamento eficaz disponível para o tratamento do novo coronavírus atualmente, que não recomenda a auto prescrição do remédio pelo portador da doença (uso sem acompanhamento médico) e que a divulgação do novo protocolo pretende uniformizar as orientações para os profissionais do Sistema Único de Saúde (SUS) para o tratamento da Covid-19.