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    ‘Brasil hoje é visto como pária internacional’, diz ex-ministro

    Para o ex-chanceler, objetivo do presidente no discurso foi tentar contrapor o que é dito no mundo com as informações ou desinformações que foram dadas

    Da CNN, em São Paulo

    O ex-ministro das Relações Exteriores Celso Amorim avaliou o discurso do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), na abertura da Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), como uma tentativa de defesa em relação às críticas feitas pela mídia mundial.

    Amorim também disse, em entrevista à CNN na noite desta terça-feira(22), que o país é visto como “pária internacional”.

    O ex-chanceler diz que o objetivo dos formuladores da declaração do presidente e até mesmo dele “não será alcançado”. O intuito, segundo Amorim, “é tentar contrapor o que é dito no mundo [sobre o governo Bolsonaro], com as informações ou desinformações que foram dadas, que não combinam com nada que é noticiado pela imprensa nacional, internacional e pelos órgãos científicos”, afirmou.

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    Celso Amorim, ex-ministro das Relações Exteriores durante entrevista para a CNN
    Celso Amorim, ex-ministro das Relações Exteriores durante entrevista para a CNN (22.set.2020)
    Foto: CNN Brasil

    Para Amorim, o único mérito do discurso de Bolsonaro deste ano, se comparado com o do ano passado, foi que o primeiro foi “violentamente cheio de ódio”.

    “[Agora], ele não foi, pelo menos, tão agressivo, embora com duas menções inapropriadas à Venezuela, que está longe de ser provada aquela história do derramamento do petróleo”, disse.

    Discurso

    Bolsonaro comentou nesta terça-feira (22), no discurso virtual durante a Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), as queimadas no Pantanal e na Amazônia. Ele afirmou que o país é “vítima de campanha brutal de desinformação”.

    O presidente declarou que, apesar da crise mundial, a produção rural não parou no Brasil. “Nosso agronegócio continua pujante e, acima de tudo, possuindo e respeitando a melhor legislação ambiental do planeta. Mesmo assim, somos vítimas de uma das mais brutais campanhas de desinformação sobre a Amazônia e o Pantanal”, disse.

    Segundo Bolsonaro, a floresta amazônica é úmida e não permite propagação do fogo. “Os incêndios acontecem praticamente, nos mesmos lugares, no entorno leste da floresta, onde o caboclo e o índio queimam seus roçados em busca de sua sobrevivência, em áreas já desmatadas”.

    Ele afirmou que, desde o começo da pandemia, o Brasil tinha dois problemas para resolver. “O vírus e o desemprego, e que ambos deveriam ser tratados simultaneamente e com a mesma responsabilidade”, lembrou.

    “Por decisão judicial, todas as medidas de isolamento e restrições de liberdade foram delegadas a cada um dos 27 governadores das unidades da federação”, destacou Bolsonaro.

    Bolsonaro falou ainda que “parcela da imprensa brasileira também politizou o vírus, disseminando o pânico entre a população”. “Sob o lema ‘fique em casa’ e ‘a economia a gente vê depois’, quase trouxeram o caos social ao país”, declarou.

    “Longe da realidade”

    As afirmações do presidente da República sobre a origem dos incêndios no Pantanal e na Amazônia despertaram contestações de várias frentes especializadas no assunto. 

    Em entrevista à CNN nesta terça-feira (22), Suely Araújo, ex-presidente do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e especialista em políticas públicas do Observatório do Clima, afirmou que o quadro mostrado pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido) sobre a situação do Pantanal e da Amazônia, em seu discurso na Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), “está longe da realidade”.

    Sobre a declaração de Bolsonaro de que o “caboclo e o índio” podem ser responsáveis pelo início das chamas, a especialista afirma que a realidade não é essa. “A faixa dos incêndios mais intensos acompanha a faixa do próprio desmatamento. Então, a grande parte das áreas queimadas são áreas de desmatamento recente”, explica. 

    E acrescenta: “Ao contrário do que ele falou, – como se o fogo fosse questão cultural das populações indígenas e das pequenas comunidades–, os dados técnicos, tanto do governo quanto da sociedade civil, mostram que, na verdade, o fogo tem ocorrido para limpeza do terreno que foi desmatado, e não pelas populações tradicionais”.

    Diante disso, avalia, “o quadro mostrado pelo presidente está longe da realidade”. “Nós realmente estamos com números inaceitáveis tanto no desmatamento quanto nas questões dos incêndios florestais este ano”, afirmou.

    (Edição: Sinara Peixoto)

     

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