Gabbardo diz que eventual recontagem mostrará mais mortes e infectados no Brasil
João Gabbardo criticou, em entrevista à CNN, nesta segunda-feira (8), a declaração do empresário Carlos Wizard Martins sobre recontar casos e mortos
Ex-secretário executivo do Ministério da Saúde na gestão de Luiz Henrique Mandetta e atual chefe do centro de combate à Covid-19 em São Paulo, o médico João Gabbardo criticou, em entrevista à CNN, nesta segunda-feira (8), a declaração do empresário Carlos Wizard Martins, disse que não acredita que a pasta fará recontagem e que, caso seja feita, constatará um número maior de casos e mortes no Brasil.
“Tenho certeza de que o próprio ministro, o general Eduardo, conhece essa realidade. Ele foi a primeira pessoa que discutiu no Ministério da Saúde, ainda na fase da transição, essa divergência que existia entre a confirmação de casos da Covid-19 e o número de sepultamentos que estava sendo feito em Manaus. Ele mostrou, com dados, que o número de sepultamentos tinha aumento em relação à média diária, de 20, para 140 por dia. Tinha aumentado sete vezes, e o número de casos confirmados de Covid-19 era muito menor do que essa diferença. Então o próprio general conhece essa realidade. Ele sabe que, se for recontado, haverá muitos casos que não foram notificados. De pessoas que faleceram em casa ou não foram diagnosticadas e que, se analisar a situação clínica e o motivo do óbito, terminará sendo considerado Covid-19”, assegurou.
O ex-secretário da Saúde ainda disse acreditar fortemente que a recontagem não será feita neste momento, e que mudar a sistemática apenas iria atrapalhar o combate ao novo coronavírus. “Tenho convicção de que o Ministério da Saúde, com a responsabilidade que tem, não vai fazer essa mudança na sistemática da quantificação de número de mortos”, disse.
“Quando terminada a pandemia, os países todos fazem uma revisão nos casos e, invariavelmente, todos tiveram aumento no casos confirmados. Isso aconteceria no Brasil se fosse feito. Mudar a sistemática neste momento só atrapalharia. O enfrentamento dessa doença já é tão complexo para todos, e criaríamos outra motivação de conflito que não seria positivo. Mas insisto: tenho convicção de que o Ministério da Saúde não vai tomar essa iniciativa”, concluiu.
Na última semana, Carlos Wizard, ainda cotado para Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos, defendeu a revisão dos números de casos confirmados e de mortos da Covid-19 e acusou gestores públicos de estarem “se valendo dessa pandemia para trazer um maior volume de recursos para seus estados e municípios”. Após as reações sobre a declaração, ele anunciou que recusou o convite para o cargo na pasta.
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Perguntado, Gabbardo classificou a manifestação de Wizard como “infeliz”, e disse não ter relação relevante entre números da pandemia e recursos destinados às pastas. “Essa manifestação do futuro ex- secretário foi uma declaração muito infeliz”, avaliou.
“Desconfiar que um gestor está colocando casos para aumentar sua receita é não desconhecer nada da forma de distribuição de recursos do governo federal. Isso não leva em conta a quantidade de casos, há outros indicadores para fazer isso. Houve apenas uma portaria que distribuiu recursos baseado no número de casos, porque houve uma discussão no Congresso Nacional, mas isso é insignificante perto do volume de recursos que é repassado para estados e municípios”, acrescentou.
Também questionado sobre a gestão de Pazuello, Gabbardo citou a falta de conhecimento em saúde pública, mas afirmou que preferia não fazer avaliações, por considerar que este é um momento de união contra a doença. Ele disse torcer pelo novo ministro em exercício.
“Tenho dito que o enfrentamento da pandemia é tão complexo e cheio de problemas que precisamos estar unidos e acho que, neste momento, querer fazer incêndio nessas relações entre governo federal e estadual não é o mais adequado. Agora é momento de união e de estarmos todos juntos pelo enfrentamento”, considerou.
“Acho que o Ministério da Saúde fez uma opção em buscar apoio dos militares, que têm grande conhecimento nessa área de logística. Eles interpretaram que essa área é muito importante neste momento. Acho que, de certo modo, essas pessoas não têm experiência em saúde pública e algumas áreas do ministério podem ficar prejudicadas, mas é uma decisão que temos que respeitar. Vamos torcer para dar certo, torço para que o general tenha uma ótima atuação, e que a gente possa enfrentar e acabar com essa pandemia o mais rápido possível”, finalizou.
(Edição: Sinara Peixoto)