The Economist: ‘Isolamento de Bolsonaro pode ser começo do fim de seu mandato’
Revista britânica lembra que apenas outros três líderes continuam negando impacto do coronavírus, nenhum deles de regimes democráticos
![Imagem que ilustra artigo da The Economist mostra Bolsonaro afundando em bandeira do Brasil Imagem que ilustra artigo da The Economist mostra Bolsonaro afundando em bandeira do Brasil](https://preprod.cnnbrasil.com.br/wp-content/uploads/sites/12/2021/06/2738_366A30427EC068BA.jpg?w=1220&h=674&crop=1&quality=50)
Ao “minar” os esforços de seu próprio governo para combater o coronavírus, o presidente Jair Bolsonaro “se isola na direção errada” e pode estar provocando o começo do fim de seu mandato, defende a revista The Economist em artigo de sua última edição.
A revista britânica lembra que, ao lado de Bolsonaro, apenas outros três líderes continuam negando a ameaça da pandemia à saúde pública, nenhum deles de regimes democráticos: os governantes do Turcomenistão e da Bielorrússia (ex-integrantes da União Soviética) e o ditador da Nicarágua, Daniel Ortega.
Para a The Economist, as atitudes de Bolsonaro em relação à COVID-19 excedem até mesmo “seus próprios padrões”.
“Nos 15 meses desde que ele se tornou presidente, os brasileiros se acostumaram com suas bravatas machistas e ignorância em questões que vão desde a conservação da floresta amazônica até a educação e o policiamento. Mas desta vez o dano é imeadiato e óbvio: Bolsonaro associou a provocadora retórica à sabotagem ativa da saúde pública”, diz o texto.
A revista destaca os episódios em que o presidente se referiu à COVID-19 como uma “gripezinha”, em que defendeu o isolamento vertical e incentivou a população a descumprir medidas de isolamento determinadas por governadores. A publicação define o presidente brasileiro como “um homem que teme traições e tem uma necessidade perpétua de provocar”, ressaltando momentos em que ele descumpriu a quarentena e abraçou apoiadores e as ameaças de demissão do ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta.
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“Bolsonaro aparentemente está com ciúmes do perfil ascendente de um ministro ao qual alega ‘faltar humildade'”, diz o texto.
“Até mesmo para seus próprios padrões, a violação do princial dever de Bolsonaro de proteger vidas foi longe demais. Grande parte do governo o trata como um parente difícil que mostra sinais de insanidade.”
A revista ressalta que os presidentes da Câmara e do Senado estão de acordo com as medidas de combate à pandemia definidas por Mandetta, assim como militares de seu gabinete. E destaca que cresceram os pedidos pela renúncia do presidente, inclusive fora da esquerda, mas que ele ainda tem apoio popular suficiente para continuar no cargo.
“Bolsonaro é apoiado por um pequeno círculo de fanáticos ideológicos, que inclui seus três filhos, pela fé de evangélicos e pela falta de informações sobre a COVID-19 entre alguns brasileiros. Os últimos dois fatores podem mudar à medida que o vírus atingir seu sulco fatal nos últimos meses”, pondera a The Economist.
“O presidente pode não ser capaz de se blindar da culpa pelo impacto econômico. Por sua imprudência com a vida dos brasileiros, Bolsonaro jogou a possibilidade de sua prórpia saída para cima da agenda política. É provável que isso permaneça depois que a pandemia desaparecer”, finaliza.
Não é incomum a revista britânica apontar problemas na condução da política brasileiras. Em 2016, chegou a defender a saída da então presidente Dilma Rousseff diante da profunda recessão econômica “causada por erros que ela cometeu” e sua inabilidade de negociação.