Líder Uru-Eu-Wau-Wau é encontrado morto dentro de terra indígena em Rondônia
Integrante de associação local diz que o território está invadido e indígenas estão sob ameaça
Neste domingo (19), é celebrado o Dia do Índio. No entanto, as lideranças indígenas Uru-eu-Wau-Wau passaram o dia em busca de informações sobre a morte do líder Ari. Ele foi encontrado morto na madrugada de sábado (18) em Tarilândia, distrito do município de Jaru, em Rondônia.
Em vídeo compartilhando pelas lideranças indígenas, Tangan Uru-Eu-Wau-Wau, irmão de Ari, conta que ele saiu por volta das 18h de sexta-feira (17) e não voltou para casa durante a noite. Na parte da manhã, Tangan foi até o local em que estava o corpo e a moto do irmão. Segundo ele, a Polícia Militar, que estava no local, recebeu o chamado por causa da ocorrência.
Ari era do grupo de vigilância do povo Uru-Eu-Wau-Wau e foi ameaçado pelos garimpeiros, madeireiros e grileiros que invadiram a terra indígena, de acordo com Ivaneide Bandeira, da associação de defesa etnoambiental Kanindé.
A suspeita dos indígenas da aldeia em que ele morava é que Ari foi assassinado. De acordo com a Comissão Pastoral da Terra, órgão da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), nove indígenas foram assassinados no último ano, sendo sete lideranças. De acordo com o relatório publicado no dia 17 de abril, esse é o maior número de lideranças indígenas assassinadas registrado nos últimos 11 anos.
Segundo Ivaneide, os indígenas encontraram o corpo a 10 km da aldeia. Embora Ari tenha sido encontrado morto, sua motocicleta estava em perfeito estado e estacionada — o que, segundo a Polícia Civil de Jaru, o que indica que não houve acidente.
Ainda de acordo com a polícia, informações extraoficiais do IML (Instituto Médico Legal) indicam que a contusão no queixo encontrada no corpo de Ari foi “provavelmente causada por um instrumento contundente”. Oficialmente, a causa da morte ainda não foi determinada.
Ivaneide Bandeira informou que os indígenas registraram pingos de sangue ao lado da moto de Ari, assim como informou a Polícia Civil de Jaru. Tanto os indígenas quanto a Polícia Civil informaram que o corpo foi encontrado do outro lado da estrada, oposto à moto.
Ainda segundo Ivaneide, na região em que Ari foi encontrado morto, há ossadas e pedras ensanguentadas. “Esperamos que a Polícia levasse todo esse material para ver se era sangue dele, se era sangue animal, o motivo porque tudo estava ali”, disse.
A Secretaria de Estado de Segurança de Rondônia e a Polícia Federal do estado informaram que o caso estava sendo investigado pela Polícia Civil, pois era regional. No entanto, segundo Ivaneide, é “questão da Polícia Federal”:
“Jogar para a Polícia Civil é querer jogar como um mero acidente. E isso a gente não aceita. A gente vem dizendo o que está acontecendo, que está tendo invasão, que está tendo ameaça de morte. E a gente quer uma investigação”, disse ela.
Segundo a Polícia Civil, as investigações já começaram e a Polícia Federal foi acionada.
A Defensoria Pública da União em Porto Velho enviou ofício à Polícia Federal pedindo para que a corporação esclareça se foram abertas investigações sobre a morte de Ari, assim como sobre os relatos de invasão e ameaças aos Uru-Eu-Wau-Wau.
Até às 20h30 de domingo (19), a Funai (Fundação Nacional do Índio) não respondeu solicitação de informações da CNN. No entanto, publicou uma nota em que diz lamentar a morte de Ari e que acompanha o caso.
Invasões
Na manhã deste domingo (19), os indígenas Uru-Eu-Wau-Wau encontraram dois invasores em suas terras. Segundo Ivaneide Bandeira, eles foram rendidos pelos indígenas, que os levaram até a aldeia para esperar pela Funai e pela Polícia Federal.
“Hoje de manhã cedo, o pai do falecido saiu para a floresta atrás da aldeia e deu de cara com dois invasores a poucos metros da aldeia. Prenderam e levaram os dois para a aldeia”, disse. “A gente não sabe qual é a ligação, mas só sei que prenderam.”
Segundo a Polícia Civil, não há registro de invasão nas terras indígenas na última semana. A presidente da Kanindé afirma que houve invasões em fevereiro e março, além de ameaças a outras lideranças.
“Também registramos a ameaça ao Awapy, outra liderança. O território está invadido e temos recebido ameaças aos indígenas. Nós vínhamos pedindo constantemente por fiscalização.”