As principais baixas do governo Bolsonaro
Desde a posse de Jair Bolsonaro, houve uma série de exonerações no alto escalão do governo; relembre as mais polêmicas
Desde que o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) foi empossado, em janeiro de 2019, o alto escalão do governo sofreu diversos desfalques. Perderam seus cargos pessoas que fizeram oposição pública a Bolsonaro, como o cientista Ricardo Galvão, e antigos aliados de primeira hora do presidente, como o ex-ministro Gustavo Bebianno, que morreu no dia 14 de março deste ano.
Entre as saídas mais barulhentas, estão a do ex-secretário nacional de Cultura, Roberto Alvim, que protagonizou um vídeo de inspiração nazista; e do ex-ministro Carlos Alberto Santos Cruz, general que acumulou atritos com pessoas próximas a Bolsonaro.
Relembre as principais baixas do governo Bolsonaro até agora:
Alex Carreiro
9 de janeiro de 2019
Presidente da Apex
Carreiro foi o primeiro nomeado por Bolsonaro a cair, apenas seis dias após ser admitido. Sua posição ficou fragilizada após um desentendimento público com outra diretora do órgão. Também pesou contra ele a ampla divulgação de que não possuía fluência em inglês ou experiência em comércio exterior –atributos desejáveis para chefiar a Apex (Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos).
Carreiro foi sucedido pelo embaixador Mario Vilalva, demitido em abril após uma rixa com o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo. Hoje, a Apex é chefiada pelo almirante Sergio Segovia.
Maria Inês Fini
14 de janeiro de 2019
Presidente do Inep
Antes de assumir a presidência, Bolsonaro já havia criticado o Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas), responsável pela organização do Enem, por conta de uma questão da edição de 2018. A pergunta cobrava interpretação de um texto sobre o pajubá —conjunto de expressões usadas por gays e travestis.
Em transmissão no Facebook, o presidente disse que, no ano seguinte, não haveria pergunta semelhante, pois inspecionaria a prova anteriormente. Em entrevista ao El País Brasil, Fini disse que o governo não mandaria no exame. Foi exonerada na segunda semana de mandato.
A presidência do Inep teve outros três ocupantes desde então. Atualmente, o órgão é chefiado por Alexandre Lopes.
Gustavo Bebianno
18 de fevereiro de 2019
Ministro da Secretaria-Geral da Presidência
Um dos coordenadores da campanha presidencial e então presidente do PSL, legenda pela qual Bolsonaro se elegeu, Bebianno era visto como um dos homens-fortes do governo.
A relação estremeceu após o jornal Folha de S.Paulo revelar o esquema de candidaturas laranjas do PSL na eleição de 2018. O ministro disse em entrevista ao jornal O Globo que não havia crise interna e, para provar, afirmou que havia falado com Bolsonaro diversas vezes naquele dia.
Deu-se início a um processo de desgaste, em que tanto o presidente quanto seu filho Carlos foram às redes sociais desmenti-lo.
Bebianno acabou demitido, e o general Floriano Peixoto foi anunciado como novo Secretário-Geral da Presidência. Mais tarde, a revista Veja revelou áudios e mensagens de texto trocados entre o ex-ministro e o presidente, provando que, de fato, estavam em contato durante aquele período.
Desde então, Peixoto deixou a Secretaria-Geral para assumir a presidência dos Correios. Atualmente, o ministro é Jorge Oliveira, ex-chefe de gabinete de Eduardo Bolsonaro (PSL-SP).
No dia 14 de março deste ano, Bebianno morreu aos 56 anos. Segundo o presidente do PSDB-RJ, Paulo Marinho, o ex-ministro não resistiu a um infarto. Depois de romper com Bolsonaro, Bebianno era pré-candidato à prefeitura do Rio pelo PSDB.
Ricardo Vélez Rodríguez
8 de abril de 2019
Ministro da Educação
Indicado pelo escritor Olavo de Carvalho, Vélez acumulou uma série de polêmicas, recuos e demissões em altos cargos do ministério em pouco mais de três meses no cargo.
A primeira controvérsia foi logo no dia seguinte à posse, 2 de janeiro de 2019, com a publicação de um edital que permitiria a compra de livros didáticos com erros, publicidade e sem referências bibliográficas. Foi anulado na semana seguinte.
Um mês depois, o MEC enviou a escolas uma carta pedindo que filmassem os alunos durante a execução do hino nacional. Antes, deveria ser lida uma carta assinada com “Brasil acima de tudo, Deus acima de todos”, mote da campanha eleitoral de Bolsonaro — o que poderia configurar improbidade administrativa. Também houve preocupação com o registro dos menores sem a autorização dos pais. Três dias depois, o ministro desistiu da medida, alegando “dificuldades técnicas e de segurança para armazenar os vídeos”.
Em março, o Inep publicou uma portaria adiando para 2021 o exame que mediria o nível de alfabetização de alunos da educação básica. Após quatro dias, a medida foi revogada.
O ministro também chegou a dizer que mudaria os livros didáticos para revisar o entendimento da ditadura militar e do golpe de 1964. Segundo ele, “não houve golpe em 31 de março de 1964 nem o regime que o sucedeu foi uma ditadura”.
No dia 5 de abril, Bolsonaro disse abertamente a jornalistas que Vélez não estava “dando certo”. Três dias depois, o ministro foi demitido e substituído pelo economista Abraham Weintraub.
Franklimberg de Freitas
12 de junho de 2019
Presidente da Funai
Franklimberg foi substituído após entrar em conflito com interesses de ruralistas, chefiados pelo secretário de Assuntos Fundiários do Ministério de Agricultura, Luiz Antonio Nabhan Garcia. Nabhan, que é amigo de longa data de Bolsonaro, defende mudanças na demarcação de terras indígenas e pediu a exoneração ao presidente. Foi substituído pelo delegado da Polícia Federal Marcelo Augusto Xavier da Silva.
Carlos Alberto Santos Cruz
13 de junho de 2019
Ministro da Secretaria de Governo
O general Santos Cruz acumulou desafetos durante os seis meses em que ocupou a Secretaria de Governo da Presidência. Teve atritos com Onyx Lorenzoni, chefe da Casa Civil, e Fábio Wajngarten, que comanda a Secom (Secretaria Especial de Comunicação Social).
Santos Cruz também se desentendeu publicamente com Olavo de Carvalho, que publicou textos se referindo ao ministro como “fracote”, “bandidinho” e “fofoqueiro”. Em entrevista ao jornal “Folha de S.Paulo”, Santos Cruz declarou que era “claro o desequilíbrio” do ideólogo do governo.
Após o longo histórico de rusgas, Santos Cruz foi demitido por Bolsonaro. Foi substituído pelo também general Luiz Eduardo Ramos Baptista, ex-assessor parlamentar do Exército.
Juarez de Paula Cunha
14 de junho de 2019
Presidente dos Correios
A exoneração veio após Cunha criticar a privatização dos Correios e tirar fotos junto de parlamentares da oposição. Segundo Bolsonaro, ele “foi ao Congresso e agiu como sindicalista”. Assumiu em seu lugar Floriano Peixoto, que antes estava no comando da Secretaria-Geral da Presidência da República.
Joaquim Levy
16 de junho de 2019
Presidente do BNDES
O descontentamento de Bolsonaro com Levy vinha desde o governo de transição, quando afirmou que havia uma resistência “devido a [Joaquim Levy] ter servido à Dilma, ao Cabral [Sérgio, ex-governador do Rio de Janeiro]”. O estopim da crise foi a indicação de Marcos Barbosa Pinto, que havia sido chefe de gabinete da presidência do BNDES durante o governo Lula, para a diretoria de Mercado de Capitais. Após ter o cargo ameaçado publicamente por Bolsonaro, Levy pediu demissão. Foi sucedido pelo economista Gustavo Montezano.
Eugênia Gonzaga
1° de agosto de 2019
Presidente da Comissão sobre Mortos e Desaparecidos Políticos
A demissão aconteceu uma semana depois de o órgão apontar que Fernando Santa Cruz —pai do presidente da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), Felipe Santa Cruz— foi preso e morto por agentes do Estado brasileiro durante a ditadura militar. Sem provas, Bolsonaro afirmou que Santa Cruz teria sido assassinado pelo grupo de oposição Ação Popular. “De onde eu obtive as informações? Com quem eu conversei na época, ora bolas”, respondeu ao ser questionado sobre a origem de suas declarações.
Além de Gonzaga, foram demitidos outros três dos sete integrantes da comissão. Quem assumiu a chefia do órgão foi Marco Vinicius Pereira de Carvalho, filiado ao PSL e assessor da ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos, Damares Alves.
Ricardo Galvão
2 de agosto de 2019
Diretor do Inpe
Galvão passou a ser atacado por Bolsonaro após a divulgação de dados oficiais que apontavam desmatamento recorde na Amazônia. Segundo o presidente, os números do Inpe eram “mentirosos”, e o diretor do órgão estava “a serviço de alguma ONG”.
Em entrevista ao jornal “O Estado de S.Paulo”, Galvão respondeu às acusações, chamando a atitude do presidente de “pusilânime e covarde”. “Ele fez comentários impróprios e sem nenhum embasamento e fez ataques inaceitáveis não somente a mim, mas a pessoas que trabalham pela ciência desse país”, disse.
Após duas semanas de intensa troca de farpas entre o Inpe, o Planalto e os ministros Marcos Pontes (Ciência, Tecnologia, Inovação e Comunicações) e Ricardo Salles (Meio Ambiente), Galvão foi exonerado. Posteriormente, ele foi eleito pela revista científica Nature -referência na área- como um dos 10 cientistas de destaque de 2019 em todo o mundo. Atualmente, é o militar Darcton Policarpo Damião quem chefia o instituto.
Roberto Leonel
20 de agosto de 2019
Presidente do Coaf
Leonel foi substituído depois de questionar a decisão do STF (Supremo Tribunal Federal) que suspendeu investigações criminais que usassem dados de órgãos de controle, como a Receita Federal e o próprio Coaf, sem autorização judicial.
O pedido foi feito pela defesa do senador Flávio Bolsonaro (sem partido), investigado pelo Ministério Público do Rio de Janeiro. Atualmente, quem chefia o Coaf —rebatizado como UIF (Unidade de Inteligência Financeira)— é o economista Ricardo Liáo.
Henrique Pires
20 de agosto de 2019
Secretário de Cultura
Pires deixou o governo após a suspensão de um edital de séries para a televisão com temática LGBT. Em entrevistas, Pires disse que não compactuaria com censura.
Segundo nota do Ministério da Cidadania, o secretário foi demitido por “não estar desempenhando as políticas propostas pela pasta”. Foi substituído pelo dramaturgo Roberto Alvim.
Roberto Alvim
17 de janeiro de 2020
Secretário de Cultura
O terceiro a assumir a Secretaria Especial de Cultura no primeiro ano do governo Bolsonaro, o dramaturgo Roberto Alvim ganhou notoriedade após atacar publicamente a atriz Fernanda Montenegro, chamando-a de “sórdida” e “mentirosa”. Na ocasião, ela havia posado para a capa da revista “Quatro Cinco Um” como uma bruxa sendo queimada em uma fogueira de livros, em alusão a episódios envolvendo censura e o governo federal.
Sua gestão durou pouco menos de três meses: a posição se tornou insustentável após Alvim publicar um vídeo em que plagiava o discurso de Joseph Goebbels, ministro da propaganda do ditador nazista Adolf Hitler.
“A arte brasileira da próxima década será heroica e será nacional. Será dotada de grande capacidade de envolvimento emocional e será igualmente imperativa, posto que profundamente vinculada às aspirações urgentes de nosso povo, ou então não será nada” Roberto Alvim, em vídeo postado nas redes sociais | “A arte alemã da próxima década será heroica, será ferreamente romântica, será objetiva e livre de sentimentalismo, será nacional com grande páthos e igualmente imperativa e vinculante, ou então não será nada” Joseph Goebbels, em discurso em maio de 1933, segundo o livro “Joseph Goebbels: uma Biografia”, de Peter Longerich |
A publicação anunciava um edital de incentivo a obras “alinhadas ao conservadorismo nas artes”. Após ser fortemente repudiado pela sociedade civil, entidades judaicas e até membros do governo, Alvim foi demitido. Em 29 de janeiro, a atriz Regina Duarte aceitou liderar a pasta.
Gustavo Canuto
07 de fevereiro
Ministro do Desenvolvimento Regional
Atrasos no Minha Casa, Minha Vida foram apontados como o principal motivo para a exoneração de Canuto. Quem assumiu a posição foi Rogério Marinho, ex-secretário especial do Trabalho e da Previdência.
Canuto continua no governo, na presidência da Dataprev (Empresa de Tecnologia e Informações da Previdência), vinculada ao Ministério da Economia.
Osmar Terra
13 de fevereiro de 2020
Ministro da Cidadania
Osmar Terra foi exonerado da chefia do Ministério da Cidadania após divergências com a equipe econômica sobre a reformulação do Bolsa Família. Sob sua tutela, o principal programa social do governo voltou a ter uma longa fila de espera, com quase meio milhão de famílias aguardando inclusão.
Bolsonaro também buscava uma vaga para recolocar Onyx Lorenzoni, então ministro da Casa Civil e fiel apoiador do governo desde os tempos de campanha. O órgão chefiado por Lorenzoni foi perdendo atribuições aos poucos, sinal que causou especulação sobre sua possível demissão do governo. Em 13 de fevereiro, Bolsonaro anunciou que o general Braga Netto assumiria a Casa Civil e Lorenzoni, o Ministério da Cidadania.
Osmar Terra voltou a assumir seu mandato como deputado federal pelo MDB-RS.
Luiz Henrique Mandetta
17 de abril de 2020
Ministro da Saúde
Luiz Henrique Mandetta foi demitido na tarde da quinta-feira, 17 de abril de 2020. A notícia chegou a partir de sua própria conta no Twitter, onde confirmou o seu afastamento da pasta. A exoneração já era esperada. Diante da crise da COVID-19, Bolsonaro e Mandetta divergiram quanto às recomendações de segurança.
Seguindo as recomendações da Organização Mundial da Saúde, o ex-ministro defende o isolamento social – medida criticada pelo presidente. Bolsonaro explicitou a falta de sintonia por criticar a posição de Mandetta que estaria indo conta a sua autoridade.
Para assumir o Ministério, o médico oncologista e empresário Nelson Teich apresenta pontos de vista próximos aos do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) sobre políticas de isolamento social e o equilíbrio entre quarentenas e retomada da atividade econômica.
Sergio Moro
24 de abril de 2020
Ministro da Justiça e Segurança Pública
Sergio Moro pediu demissão do cargo no dia 24 de abril de 2020, horas depois de Bolsonaro publicar no Diário Oficial da União a exoneração do diretor-geral da Polícia Federal (PF), Mauricio Valeixo. Este foi demitido pelo presidente não estar satisfeito com a forma com que a PF vinha atuando em seu governo.
Principal juiz da Operação Lava Jato, Moro aceitou deixar uma carreira de 22 anos como juiz federal para comandar o Ministério da Justiça logo após as eleições de 2018, quando Bolsonaro foi eleito em segundo turno.
Tido como um dos principais ministros do governo, Moro teve total autonomia para montar sua equipe e recebeu a promessa, na época, que teria “carta branca” para conduzir a pasta.
Ao longo do tempo em que ficou no cargo, no entanto, o ex-juiz precisou sair de diversas saias-justas com o presidente, incluindo a transferência do Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) para o Ministério da Economia e a desidratação do Pacote Anticrime, seu principal projeto, aprovado em janeiro depois de sofrer mudanças profundas.
Enquanto era juiz federal no Paraná, Moro foi responsável pela primeira condenação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva por corrupção no caso do triplex do Guarujá, em 2017. A manutenção da sentença, em 2018, impediu o petista de disputar a eleição daquele ano, vencida por Bolsonaro.
Nelson Teich
15 de maio de 2020
Ministro da Saúde
Substituto de Luiz Henrique Mandetta, Teich ficou menos de um mês do cargo. Ele pediu demissão por se recusar a autorizar o uso da cloroquina – uma droga sem a eficácia cientificamente comprovada contra a Covid-19 -, como quer o presidente Jair Bolsonaro.
Ao pedir demissão, Teich disse que não iria “manchar sua biografia” por causa da cloroquina. Nas quatro semanas em que comandou o SUS, Teich tentou implementar uma tática de testagem em massa e isolamento inteligente, mas esbarrou no aumento exponencial de casos de Covid-19 no país, que, na altura de sua demissão, já superavam os 200 mil, com mais de 14 mil mortes.
Abraham Weintraub
18 de junho de 2020
Ministro da Educação
Décimo ministro a deixar o governo, o economista Abraham Weintraub permaneceu 14 atribulados meses na pasta da Educação.
Entre as controvérsias acumuladas, estão protestos contra contingenciamento de gastos, um inquérito de crime contra racismo, erros na realização do Enem 2019 e uma fala que “mandaria prender os ‘vagabundos’ do STF”.
A mesma expressão foi utilizada em um encontro com manifestantes pró-governo, o que teria irritado o presidente. Weintraub anunciou sua saída em um vídeo publicado nas redes sociais e deve ocupar um cargo na direção do Banco Mundial.