Facilitar voto na pandemia poderia ter reduzido abstenção, diz especialista
Abstenção no segundo turno foi de 29%, seis pontos a mais do que no primeiro
O TSE informou que o segundo turno das eleições municipais neste domingo (29) teve 29% de abstenção — seis pontos acima da taxa do primeiro turno, quando os 23,1% registrados já representavam o maior índice desde 1996.
As maiores capitais do país, São Paulo e Rio de Janeiro, também obtiveram números recordes de ausências: de 30,81% e 35,45%, respectivamente.
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O número alto parecia já ser previsto pelo presidente do TSE, Luis Roberto Barroso, que pediu aos eleitores que fossem às urnas em pronunciamento no rádio e na TV na véspera do pleito.
No entanto, para o professor de ciência política da UnB (Universidade de Brasília), Lucio Rennó, essa não era a única medida possível para aumentar o comparecimento nessa eleição fora do comum.
Lucio avalia que o salto no número de abstenções está definitivamente associado à pandemia do novo coronavírus, mas que o órgão poderia ter adotado medidas que facilitassem o comparecimento em meio à crise sanitária, como o aumento do número de dias de votação e votação antecipada.
“A única alteração que tivemos foi a prorrogação de horas e a alteração da data”, citou.
Para exemplificar, o professor cita as eleições na Coreia do Sul e nos Estados Unidos, que, mesmo durante a pandemia, tiveram recordes de comparecimento.
“Não tem porque afirmar que [as eleições municipais] sejam menos motivantes, até porque, nas eleições municipais, as taxas de abstenção são menores do que na eleição presidencial”, declarou.
Abstenção nas eleições municipais
1996 | 18,3% |
2000 | 14,9% |
2004 | 14,2% |
2008 | 14,5% |
2012 | 16,4% |
2016 | 17,5% |
2020 | 23,14% |
Lucio reconhece que há uma porcentagem que cresce constantemente de eleitores que não comparecem às urnas, mas que o salto deste pleito é fora do padrão que vinha ocorrendo.
“Se tem uma porcentagem crescente de eleitores que não tinham interesse [em ir votar], a pandemia reforçou essa tendência”, disse.