Para mostrar unidade, Bolsonaro visita obra de hospital com Mandetta
Os dois aparecem juntos pela primeira vez após ministro da Saúde quase ser demitido do seu cargo
O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta (DEM), visitaram as obras do hospital de campanha de Águas Lindas de Goiás, em Goiás, na manhã deste sábado (11).
A visita durou pouco mais de meia hora.
É a primeira vez que os dois aparecem juntos publicamente desde que a CNN noticiou uma conversa em que o ministro da Cidadania, Onyx Lorenzoni (DEM), e o deputado federal Osmar Terra (MDB), discutiam uma possível saída de Mandetta do cargo.
Depois deste período turbulento, que quase levou à queda do ministro, Bolsonaro e Mandetta cumpriram agenda juntos para mostrar que existe unidade no governo e que as medidas para controlar os avanços do novo coronavírus estão sendo tomadas.
Os dois chegaram juntos ao local em um helicóptero presidencial para se encontrar com o governador de Goiás, Ronaldo Caiado (DEM), e vistoriar o local. Caiado foi outro que se desentendeu com Bolsonaro nos últimos dias, por não concordar com a postura do presidente de pedir um relaxamento nas regras de distanciamento social.
Ao chegar, Bolsonaro, que estava sem máscara de proteção, se aproximou e cumprimentou populares e foi de encontro ao governador do estado para abraçá-lo. Caiado pediu então que o presidente passasse álcool em gel nas mãos antes de aceitar a saudação do chefe do executivo.
O presidente deixou o local sem falar com a imprensa, diferentemente do ministro. Ele afirmou que o hospital será um teste e que poderá ser replicado em outros lugares. O Amazonas, que vive situação de emergência por conta da COVID-19, deve ser o segundo estado a receber a estrutura. Perguntado sobre a postura do presidente de ir cumprimentar a população durante o compromisso, disse que “pode apenas dar recomendações”.
Mandetta ganhou o cargo no governo Bolsonaro justamente com o apoio de Caiado. Então aliado, o governador de Goiás, que é médico, rompeu com o presidente no mês passado, após o chefe do Executivo minimizar a pandemia, chamada por ele de “gripezinha”, e incentivar a população a retomar suas rotinas, contrariando medidas de isolamento adotadas pelos estados.
Aglomeração
Na sexta-feira (10), Bolsonaro andou novamente por áreas comerciais e residenciais de Brasília, apesar de orientações das autoridades sanitárias de que a população mantenha o isolamento social para diminuir o ritmo de transmissão da COVID-19. Na rua, houve manifestações de apoio ao presidente, mas pessoas também bateram panelas em suas janelas e gritaram palavras de ordem contra o presidente.
Já a estratégia de quebrar o isolamento político tem um objetivo de neutralizar o DEM, que ganhou protagonismo durante a crise, e recuperar espaço no jogo político. Além de Caiado e Mandetta terem confrontado Bolsonaro, os presidentes da Câmara, Rodrigo Maia (DEM), e do Senado, Davi Alcolumbre (DEM), criticaram medidas defendidas por Jair Bolsonaro durante a crise.
Leia também:
The Economist: ‘Isolamento de Bolsonaro pode ser começo do fim de seu mandato’
Dono de padaria onde Bolsonaro esteve pode sofrer sanções
Caio Junqueira: Bolsonaro só deve trocar ministros após crise
No entorno do presidente, a avaliação é a de que o novo coronavírus se transformou num palanque político para o DEM. A popularidade do ministro Mandetta – que, segundo recentes pesquisas, supera a de Bolsonaro – ajudou a acender o alerta entre aliados políticos do presidente. O grupo ligado ao escritor Olavo de Carvalho passou a pregar também que existe um projeto de poder do DEM que é necessário sufocar.
O hospital, que será instalado num terreno de cerca de 10 mil metros, deverá ter 200 leitos e ficará pronto nos próximos 15 dias. O investimento, de R$ 10 milhões, será custeado pela união. A construção começou no último dia 7 e atende uma demanda local do governo estadual, devido à necessidade de atenção especial à COVID-19 na região.