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    Redes sociais apagam posts de Bolsonaro por contrariarem recomendações de saúde

    Nos vídeos, Bolsonaro defende que as pessoas voltem ao trabalho e cita o medicamento hidroxicloroquina como um tratamento da COVID-19

     Anthony Boadle* , da Reuters

    As principais redes sociais do mundo apagaram publicações feitas pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido) no domingo (29) e nesta segunda-feira (30). As postagens consistiam em vídeos que ele fez em cidades-satélites no Distrito Federal em que conversava com um vendedor ambulante e visitava um supermercado, causando aglomerações e contrariando orientações de autoridades de saúde para conter a disseminação do coronavírus.

    Nos vídeos, Bolsonaro defende que as pessoas voltem ao trabalho e cita o medicamento hidroxicloroquina como um tratamento da COVID-19, embora os estudos sobre sua eficácia estejam em estágios iniciais.

    Instagram, Twitter e Facebook citaram que as retiradas dos vídeos ocorreram porque as empresas entenderam que o conteúdo veiculado violou termos de uso dos serviços, que proíbem publicações contrárias à saúde pública ou que coloquem em risco as pessoas.

    O Twitter removeu dois dos vídeos publicados por Bolsonaro no domingo, enquanto o Facebook confirmou nesta segunda-feira a retirada de um deles depois que o acesso a ele não mais era possível. Diferente do Twitter, o Facebook não deixa alertas públicos sobre retirada de conteúdo de suas páginas.

    O vídeo retirado do ar pelo Facebook e o Twitter, de cerca de dois minutos, mostra Bolsonaro em Taguatinga conversando com um vendedor ambulante de comida.

    No vídeo, Bolsonaro aparece cercado por populares afirmando que a droga “hidroxicloroquina está dando certo” para combater o coronavírus. Segundo autoridades médicas, ainda não há comprovação da eficácia do medicamento no tratamento do coronavírus e o Ministério da Saúde tem dito que o uso da cloroquina deve ser restrito a pacientes graves internados em hospitais.

    A retirada do conteúdo pelo Facebook marcou a primeira vez que a rede social retirou do ar um vídeo do presidente.

    “O Twitter anunciou recentemente em todo o mundo a expansão de suas regras para abranger conteúdos que forem eventualmente contra informações de saúde pública orientadas por fontes oficiais e possam colocar as pessoas em maior risco de transmitir Covid-19”, afirmou a rede social em nota quando indagada sobre a decisão de apagar as publicações do presidente.

    “Removemos conteúdo no Facebook e Instagram que viole nossos Padrões da Comunidade, que não permitem desinformação que possa causar danos reais às pessoas”, afirmou um porta-voz do Facebook.

    Em entrevista a jornalistas ao deixar o Palácio da Alvorada na manhã desta segunda-feira, Bolsonaro disse que não comentaria a decisão do Twitter, alegando se tratar de uma empresa privada.

    Bolsonaro tem contrariado as orientações do Ministério da Saúde e da Organização Mundial da Saúde (OMS) e defendido o fim do isolamento social, que tem sido usado para conter a propagação do coronavírus.

    O presidente também tem criticado medidas de restrição à circulação adotadas por governadores e prefeitos, e afirmado que os gestores locais são “exterminadores de empregos”, trabalham com o conceito de “terra arrasado” e estão cometendo “um crime” contra a economia do país.

    Ainda no domingo, após o passeio que fez pelas cidades-satélites, Bolsonaro disse que estava “com vontade” de editar um decreto nesta segunda-feira para liberar a volta das pessoas ao trabalho, medida que contraria o que tem preconizado o Ministério da Saúde e o titular da pasta, Luiz Henrique Mandetta.

    Bolsonaro também vem minimizando a pandemia, referindo-se por mais de uma vez à COVID-19 como uma “gripezinha”.

    Segundo dados do Ministério da Saúde, subiu para 159 o número de mortos pelo novo coronavírus no Brasil nesta segunda, um aumento de 23 vítimas –ou 17%– em relação à véspera. O número de casos confirmados avançou para 4.579, um crescimento de 323 casos, ou 7,6%, na comparação com os números de domingo.

    No mundo, de acordo com a OMS, o coronavírus já matou mais de 30 mil pessoas.

    *(Com reportagem adicional de Eduardo Simões e Alberto Alerigi Jr.)

     

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