Roubos e vandalismo em vários pontos da Argentina tensionam campanha eleitoral
Primeiro turno está marcado para outubro, mas, após as prévias, em agosto, houve desvalorização de 20% da moeda
Uma série de atos de vandalismo e roubos a supermercados e empresas, ocorridos em diversos pontos da Argentina desde o fim de semana passado, aumenta a incerteza e o clima de crise no país devido à inflação elevada, após as eleições primárias em 13 de agosto e a desvalorização de 20% da sua moeda no dia seguinte.
As autoridades, que ordenaram a prisão de 94 pessoas, asseguram que se tratam de grupos com objetivo de “gerar conflito”, tendo em vista as próximas eleições presidenciais de outubro.
O ministro da Segurança, Aníbal Fernández, disse aos jornalistas que “não é uma coincidência”. “Aqui havia vocação para gerar algum tipo de conflito e tentamos evitar”. No entanto, acrescentou que “ainda” não tinham “dados confiáveis” para apontar os responsáveis.
Os primeiros assaltos e tentativas de roubo planejados ocorreram no fim de semana nas províncias de Mendoza, Córdoba e Neuquén.
Mas os alertas dispararam quando acontecimentos semelhantes começaram a ser relatados na terça-feira (22) em torno da capital, em alguns dos bairros mais pobres dos chamados subúrbios ou da Grande Buenos Aires.
Em cidades como José C. Paz, segundo disse a interveniente juíza Gabriela Persichini em entrevista ao canal TN, cerca de 100 pessoas assaltaram um supermercado.
E, em Moreno, houve assaltos a um supermercado e a uma loja de roupas.
Boatos de ataques
Em outros bairros também podem ter sido constatados roubos semelhantes. Mas em muitos casos não houve confirmação oficial. Nas redes sociais, viralizaram vídeos de supostos acontecimentos do tipo que se revelaram falsos em seguida.
Nesse sentido, o ministro da Segurança da Província de Buenos Aires, Sergio Berni, disse que achou “surpreendente” que o tema tenha sido discutido na mídia e em outros espaços durante o dia, quando ainda não haviam sido registrados incidentes.
O governador da província de Mendoza, Rodolfo Suárez, que pertence à coligação oposicionista Juntos por el Cambio [de Patricia Bullrich], também se referiu à circulação de informações falsas e confirmou que a polícia local frustrou tentativas de vandalismo em algumas áreas.
Por sua vez, o governo da Província de Córdoba divulgou uma mensagem no X, antigo Twitter, informando que houve reuniões com câmaras comerciais para garantir a segurança da comunidade devido aos falsos boatos que circulam no WhatsApp e outras redes sociais.
Na província de Buenos Aires, os prefeitos dos subúrbios também reagiram. O município de Três de Fevereiro afirmou, em comunicado, que houve tentativas de vandalizar empresas, mas que foram controladas por forças especiais provinciais.
Em Morón, no oeste da Grande Buenos Aires, o prefeito Lucas Ghi disse que entrou em contato com os comerciantes do município para evitar a propagação do medo, mas acrescentou que a polícia não detectou nenhuma situação suspeita nas ruas.
Impacto político
Toda essa situação, sensível à memória dos argentinos, entrou rapidamente na agenda política do país, que foi abalada pelo resultado das primárias de 13 de agosto, quando o economista Javier Milei, candidato de extrema-direita que se define como o representante da “anticasta política”, foi o mais votado.
Assim, desencadeou-se uma série de cruzamentos entre representantes do governo e setores da oposição, que se apontaram por supostas responsabilidades, acusações sobre as quais não apresentaram provas nem foram verificadas pela Justiça até o momento.
Gabriela Cerruti, porta-voz do governo de Alberto Fernández, acusou diretamente, também sem apresentar provas, o partido de Milei, La Libertad Avanza, de estar por trás de uma série de rumores que circulam nas redes sociais sobre supostos ataques a empresas.
“Esta é uma operação que visa gerar desestabilização e incerteza”, disse Cerruti. Depois disso, dois líderes do partido de Milei entraram com uma ação judicial contra ela.
Cerruti apresentou as suas declarações em resposta a um tuíte de Milei no qual ele comparava a situação atual com os saques de 2001, mas sem ter em conta que, naquela época, a situação era muito mais massiva e que muitas condições do país eram diferentes das atuais.
A CNN entrou em contato com a equipe de Milei, mas ainda não teve retorno.
Veja também: A vitória de Javier Milei nas primárias argentinas (análise)
Na quarta-feira, a porta-voz presidencial insistiu na sua tese e juntou a outra candidata oposicionista Patricia Bullrich às suas acusações, novamente sem apresentar provas, depois dela questionar a mensagem de Cerruti, insistir no apelo à mão pesada contra a insegurança e até sugerir decretação de estado de sítio, medida extraordinária que suspende as garantias constitucionais em caso de comoção interna ou ataque estrangeiro.
“Se o controle for total e absolutamente perdido, e o governo tiver que pedir o estado de sítio, ele tem que fazê-lo”, disse Bullrich em entrevista ao canal de notícias TN.
A última vez que houve estado de sítio na Argentina foi no final de dezembro de 2001, em meio à crise desencadeada após o chamado “corralito”, que restringia a retirada de divisas dos bancos e dos numerosos saques em diferentes pontos do país.
No entanto, a situação atual está longe daquela. Os atos de vandalismo, agora, não foram massivos e parecem ter sido controlados em poucas horas, algo completamente diferente do que aconteceu há quase 22 anos.