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    ‘Eu já vi crises maiores do que essa’, afirma o jornalista Alexandre Garcia

    Jornalista criticou as mídias brasileiras alegando que hoje estaria faltando uma neutralidade por parte da imprensa no tratamento do governo Bolsonaro

    Da CNN, em São Paulo

     

    O jornalista Alexandre Garcia foi entrevistado pelos analistas da CNN, Caio Junqueira e Renata Agostini, sobre a atuação do governo Jair Bolsonaro (sem partido) no enfrentamento à pandemia do coronavírus. Ao ser questionado sobre a postura do presidente, que tem agravado o momento para uma, também, crise política, Garcia afirmou que não acredita que o Brasil esteja enfrentando uma de suas maiores crises. “Nos meus 80 anos eu já vi crises maiores do que essa. Na hora que Getúlio Vargas se matou, por exemplo, na hora que Jânio Quadros renunciou, os impeachments de dois presidentes”.

    Além disso, ele discordou da ideia de que ele seja um apoiador de Bolsonaro, e procurou refutar dizendo: “Estou procurando analisar os fatos e condenar, no lado da mídia, uma militância. Eu não vi isso em toda minha vida de jornalista nestes 50 anos”. Alexandre Garcia criticou as mídias brasileiras dizendo que hoje estaria faltando neutralidade por parte da imprensa.

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    O jornalista chamou a atenção para a bifurcação da atual crise, avaliando ser uma ameaça sanitária, mas também econômica. “Estão separando as coisas como se fossem alternativas, erroneamente. Se defender a vida, tem que parar a economia, se parar a economia, está agredindo a vida. Quando as duas ciências – da economia e da saúde – têm que agir de forma inteligente e sensata, para que tenhamos menos morte e menos consequências. Estamos entrando em uma fase econômica de catástrofe”.

    “O dinheiro que seria economizado com a reforma da Previdência já foi embora. Está indo dinheiro para os Estados, assistência social, esse coronavoucher, e a economia parada, com exceção do agro (negócio), que está com bons resultados. O governo vai ter que resolver problemas de um outro Brasil. A crise sanitária está presente, mas a crise econômica mal começou”, continua. 

    Para isso, Alexandre sugere que Bolsonaro convoque um grupo de cientistas econômicos e outro de cientistas da saúde para encontrar soluções em conjunto. “Talvez o presidente esteja pecando por uma decisão única”, afirma. “Ele foi eleito para governar, mas bem que poderia ter mais aconselhamento da área científica”.

    No que se refere à crise política, concomitante à pandemia, o jornalista acredita que a saída do ex-ministro Nelson Teich do Ministério da Saúde foi por falta de “liga” entre Jair Bolsonaro e Teich. Avalia também que a conduta de Bolsonaro frente aos outros poderes, e o tensionamento constante, está sendo coerente ao seu comportamento enquanto deputado federal. “É o temperamento dele, esse é o presidente eleito por quase 58 milhões de eleitores. Se ele mudasse seria um hipócrita, tem que lidar com isso e administrar. Esse temperamento explosivo tem gerado significado reação negativa contra ele”, diz.

    Alexandre Garcia defende que parte do que Bolsonaro tem sofrido de perseguição – seja por meio de perguntas capciosas da imprensa para que ele dialogue ou do próprio povo pedindo sua saída – seja por um inconformismo por ele ter sido eleito. “No governo Lula, do PT, no governo de Fernando Henrique, no governo de Sarney, a gente teve também estas histórias de fora Sarney, fora Fernando Henrique, fora Collor, são manifestações livres, naturais, mas nunca vi algo assim. Eu não acredito em teoria da conspiração, mas as vezes não é possível que isso não seja combinado, é incrível como se torce a informação e como se omite algumas informações”. Garcia questiona se a imprensa está fazendo militância ou se está sendo fiel aos fatos.

    Pedidos de impeachment 

    O jornalista diz que não há uma única pessoa, uma liderança, que esteja à frente de um movimento que pede a saída do presidente, no entanto afirma que alguns governadores parecem estar sonhando com a próxima eleição presidencial. “O que eu tenho visto é o Supremo e o Ministério Público – e eu não me refiro apenas ao presidente, mas governadores e prefeitos –  sofrendo uma interferência do poder judiciário, como se executivo fosse. Como se tivesse poder de veto sobre decisões do poder executivo. Ao mesmo tempo, o Supremo Tribunal Federal tem feito a mesma coisa em relação ao poder legislativo”.

    Bolsonaro e as forças armadas

    Uma das críticas da imprensa acerca de Bolsonaro foi por ele participar, mais de uma vez, de atos em que seus apoiadores defendiam bandeiras pedindo o fechamento do Congresso e a volta do Ato Institucional nº 5, decreto emitido pela ditadura militar. Alexandre Garcia parafraseou uma frase do ex-presidente General Castello Branco, que governou no período do golpe militar, para dizer: “Eu não iria para a frente do QG do exército, onde estavam fazendo manifestações, ‘vivandeiras de quartel’, ou qual o nome que se possa dar”. Alexandre Garcia opina que não foi o momento nem o local adequado e que os manifestantes também estavam perdendo tempo em reacender estas ideias.

    Sobre a forte presença dos generais e forças armadas no governo de Jair Bolsonaro, Alexandre Garcia acredita que as escolhas foram feitas porque são pessoas de confiança para ele. “Alguém que tem a possibilidade de nomear pessoas tem a tendência de escolher quem confia”. E fala que se em governos anteriores as escolhas eram feitas por compra de votos no Congresso, melhor que agora esteja sendo à base de confiança. “Aparece manchete dizendo que ele quer alguém que tenha afinidade no comando da polícia federal. É óbvio. Se não fosse, ele seria um banana”.

    Sergio Moro

    O jornalista analisa a ascensão do ex-ministro da Justiça. “Acho que ele não deu muito certo como político, mas tem força política. Já tinha força política quando era juiz: ganhou um apoio nacional entusiástico, foi escolhido ministro de comum acordo, tanto que abandonou uma carreira brilhante, e, no ministério, parece que não se acertou com o presidente, dizia que o presidente se metia nas coisas dele. Parece que não teve liga, saiu e está sendo aplaudido por gente que não o aplaudia. Acho que ele é um bom candidato em oposição a Bolsonaro na eleição presidencial”. 

    STF

    Garcia comentou ainda a atuação do Supremo Tribunal Federal (STF). “Que o Supremo não se politize, fique em torno da Constituição e sem compromissos com o poder politico. Temo que possa haver politização, mas sei que são 11 pessoas humanas que podem interpretar o mesmo artigo de forma diferente”.

     

     

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