O Grande Debate: Teich fez a escolha certa ao sair do Ministério da Saúde?
No Grande Debate da manhã deste sábado (16), os advogados Gisele Soares e Thiago Anastácio avaliaram a decisão de Nelson Teich em deixar o Ministério da Saúde. O ex-ministro deixou a pasta após pressão do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) para a assinatura de um decreto que autoriza o uso da cloroquina para o tratamento de pacientes com Covid-19.
Para Anastácio, Teich fundamentou sua escolha com base na ciência, que ainda não garante totalmente a eficácia da cloroquina contra o novo coronavírus. “O ministro não disse qual foi o motivo de sua saída, mas todos nós sabemos: é essa droga vendida como o grande milagre, enquanto, na verdade, a cloroquina é uma possibilidade de tratamento”, explicou.
O advogado complementou que a pressão de Bolsonaro é uma “tentativa vã e empobrecida de copiar o presidente Donald Trump”. “A ciência ainda está tentando explicar [a eficácia do medicamento], mas não consegue porque as pessoas não querem ouvir. A cloroquina está em um leque de possibilidades de tratamento. Ela pode ser usada, mas não deve.”
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Gisele Soares afirmou que o combate à pandemia requer escolhas difíceis, incluindo a própria saída de Teich do Ministério da Saúde. “É uma escolha difícil também para os pacientes. O presidente Bolsonaro quer que haja a possibilidade de que a cloroquina seja incluída nos protocolos de uso do medicamento para pacientes que tenham contraído a Covid-19 nos primeiros sintomas”, pontuou.
Para a debatedora, por mais que não haja evidências científicas sobre o uso da cloroquina no tratamento da doença, não se deve ignorar os resultados positivos já comprovados que o medicamento teve durante a pandemia.
“É um tratamento que vem trazendo respostas e, infelizmente, não há ainda evidências científicas seguras à aplicação da cloroquina e o uso como remédio contra o novo coronavírus. Mas já há estudos incipientes, principalmente na rede privada, em que pacientes concordaram [em usar o remédio] e tem dado resultados positivos. Por que não usá-lo também na rede pública e dar aos pacientes a possibilidade de fazer essa escolha difícil?”, questionou.
Thiago Anastácio ponderou que Nelson Teich não foi “fritado” para deixar o ministério, mas o ambiente insalubre já estava instaurado para dificultar o seu trabalho de forma autonôma. “O ex-ministro Teich não foi queimado, mas o óleo já estava na frigideira e estavam acedendo o forno. É assim que parece acontecer nessa republiqueta que estamos vivendo. Nós estamos querendo que a ciência seja interpretada de uma forma que nos convém politicamente.”
Gisele disse que não teve nem tempo de Teich sofrer “fritura” durante seu período no Ministério da Saúde, mas concordou que eram inúmeras as dificuldades para a sua permanência no governo. “Pessoas que vêm da rede privada para o poder público têm uma dificuldade muito grande, os processos são diferentes e é necessário se adaptar. O ministro assumiu a pasta com todos esses desafios e com os números da pandemia galopando. Todos esse desafios foram pesados e complexos para Teich.”