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    Calamidade pública permite governo estourar meta fiscal e comprar sem licitação

    De acordo com especialistas, medida abre espaço para gastos públicos extraordinários que sejam necessários para conter a pandemia do novo coronavírus

    O ministro da Economia, Paulo Guedes, concede entrevista exclusiva à CNN Brasil
    O ministro da Economia, Paulo Guedes, concede entrevista exclusiva à CNN Brasil Foto: CNN Brasil - 15.mar.2020

    Guilherme Venaglia e André Spigariol Da CNN Brasil, em São Paulo e em Brasília

    Se autorizada pelo Congresso Nacional, a decretação da pandemia do coronavírus como um estado de calamidade pública permitirá ao presidente Jair Bolsonaro expandir os gastos públicos sem correr os riscos previstos nas leis orçamentárias, segundo advogados ouvidos pela CNN nesta segunda-feira (17).

    “É uma medida orçamentária e administrativa, que não interfere em liberdades individuais. Estado de calamidade é um status em que o governo tem uma série de facilidades para gastos e contratações. Vai poder gastar mais do que o normal, afrouxando os limites previstos em lei”, afirma o advogado Daniel Falcão, professor de Direito Constitucional do Instituto de Direito Público (IDP).

    Segundo a advogada Vera Chemim, mestre em direito público pela FGV, são consideradas calamidades públicas as situações que “afetem a normalidade coletiva da sociedade”.

    “Poderia ser uma enchente ou uma seca em grandes proporções, assim como agora, com uma doença infecciosa que tem um impacto grande no dia-a-dia dos brasileiros”, explica.

    Pela legislação brasileira, caso o governo não cumpra a meta fiscal estimada no orçamento anual, o presidente da República fica passível de um processo de impeachment por crime de responsabilidade. Para 2020, a meta fiscal é de um déficit de R$ 124,1 bilhões.

    O governo justificou o pedido com a “necessidade de elevação dos gastos públicos para proteger a saúde e os empregos dos brasileiros” e a “perspectiva de queda de arrecadação”.  

    Gastos extras

    De acordo com Vera Chemim, a autorização do estado de emergência também flexibiliza as contratações sem licitação.  

    A lei que estabelece as regras para as compras públicas prevê que em situações como essas, o governo poderá fazer gastos que estejam alinhados com a “urgência de atendimento de situação que possa ocasionar prejuízo ou comprometer a segurança de pessoas, obras, serviços, equipamentos e outros bens, públicos ou particulares”.

    O estado de calamidade também permite ao governo fazer transferências sem contrapartida, como o pagamento de benefícios a afetados ou a concessão de subsídios e renúncias de impostos. Nesta terça (17), o presidente Jair Bolsonaro admitiu a possibilidade de encaminhar um socorro ao setor aéreo, um dos mais afetados pela crise.

    “Fica muito mais caro se você não colaborar, porque demissões virão. Os empregadores terão que pagar encargos trabalhistas e do nosso lado fica o seguro-desemprego”, disse Bolsonaro a jornalistas em Brasília.

    Solução temporária

    Segundo o economista Carlos Góes, pesquisador-chefe do Instituto Mercado Popular, “o desafio é fazer com que o mercado entenda que o governo vai elevar a sua dívida no curto prazo, mas vai manter a trajetória de estabilidade do nível de endividamento no médio e longo prazo”.

    De acordo com Góes, gastos adicionais do governo neste momento são “consenso” entre especialistas da área, que consideram necessário que se contenha uma queda do PIB no curto prazo. “Há um consenso entre macroeconomistas de que o governo deve gastar agora para conter uma retração no PIB no curto prazo. Uma retração no PIB poderia piorar a arrecadação do governo e levar a uma situação em que o país não consiga pagar credores no médio prazo”.

    Na nota divulgada mais cedo, o governo federal disse que “reafirma seu compromisso” com a agenda de reformas, como a tributária e administrativa, assim como com a manutenção do teto de gastos, que está previsto na Constituição.