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    Enem ocorre neste domingo com expectativa de ausência recorde

    Além da alteração na data, a pandemia da Covid-19 trouxe ao mundo uma nova realidade

    Rodrigo Maia, da CNN, em São Paulo

    A prova do Enem deste ano é diferente de qualquer outro exame. Além da alteração na data, a pandemia da Covid-19 trouxe ao mundo uma nova realidade. As relações mudaram, o contato mudou, a escola fechou e milhares de alunos ficaram sem aula e sem acesso aos conteúdos curriculares.

    A diferença social entre estudantes de escolas públicas e privadas foi ainda mais evidenciada. Enquanto alunos de escolas particulares conseguiram o mínimo de contato, por meio de aulas pela internet, uma boa parte dos jovens de escolas públicas ficaram parados.

    Para completar, no fim de 2020, poucas semanas antes do exame, o novo coronavírus registrou um expressivo aumento de casos em diversas regiões, além da nova cepa e do colapso na saúde em Manaus, que ficou sem oxigênio nos hospitais.

    Neste contexto, hoje, dia 17 de janeiro, quase 6 milhões de inscritos estão convocados para fazer o Exame Nacional do Ensino Médio.

    “Eu acho que teremos aumento nas abstenções. Normalmente, o Enem já tem abstenção alta e, neste ano, será maior, por dois fatores: receio da covid e, também, porque muitos estudantes se acham despreparados em função de não terem tido aulas presenciais em 2020”, explica o professor Wolney Candido de Melo, doutor em educação pela USP.

    O professor Dr. João Hilton Sayeg-Siqueira, titular de Língua Portuguesa da PUC-SP entende que a abstenção pode ser pequena. “O interesse dos candidatos a vagas em universidades é grande. Alguns podem não comparecer para se valer da situação, pleiteando alguma vantagem posterior.”

    Nas redes sociais, alunos e familiares estão preocupados com as condições de segurança sanitária durante a realização do exame. Este, aliás, foi um dos principais motivos para a solicitação do adiamento do Enem.

    “Mesmo seguindo todos os protocolos de segurança, acredito que é impossível evitar a aglomeração. Seja na entrada, ou na própria sala. Na Fuvest do último domingo, houve aglomeração nas entradas mesmo com a ampliação de horário de entrada. O volume de pessoas é muito grande”, argumenta a professora Rita Carolino, mestre em tecnologia e especialista em educação.

    O conteúdo da prova também está gerando grande expectativa em boa parte dos candidatos. Com um ano atípico e de explosão da vida digital, as questões e as já conhecidas situações-problema apresentadas na prova devem seguir uma linha diferente dos anos anteriores.

    O coordenador pedagógico do colégio Compa, Rudney Soares, acredita que a maioria das questões tratará da segurança sanitária mundial, de pandemias que ocorreram ao longo do tempo, de fake news, com enfoque nas medidas de combate ao coronavírus em todo mundo e no fato histórico que foi o desenvolvimento de vacinas em curto espaço de tempo.”

    Rudney também acredita em novos modelos nas escolas. Segundo o professor, a pandemia mudou completamente as escolas, famílias e os estudantes.

    “Ensino híbrido, recursos tecnológicos, livros digitais, reuniões virtuais, simulados e provas a distância: tudo isso fará parte do cotidiano escolar, independentemente da modalidade de ensino e de onde estiver localizado o colégio. A pandemia foi ruim em vários aspectos, mas é inegável que moveu as escolas para outro patamar. A década que se avizinha será a década da Educação, não tenho dúvidas. Jamais se viu a valorização do ensino como a que veremos nos próximos anos.”

    Porém, o cenário digital presente nas escolas particulares não faz parte da realidade da maioria dos estudantes brasileiros de escolas públicas.

    A professora Rita Carolino lamenta essa situação. “Minha expectativa é de uma prova que, infelizmente, mais uma vez, traga à tona o abismo que existe entre a educação privada e a educação pública. Os alunos das escolas públicas com menos chance ainda de conseguir uma boa classificação para usar os programas de educação e ingressar no ensino público.”

    As transformações ocorridas em 2020 por causa do contexto pandêmico atingiram de forma direta a educação em todo o mundo. No Brasil, que segue buscando melhorias na qualidade de ensino e no rendimento de seus estudantes, ainda mais.

    As instituições de ensino não estavam preparadas para uma mudança abrupta de realidade, e os estudantes que vão sentir na pele, ao ingressar no mercado de trabalho, a falta de um ano de estudos e de aquisição de conhecimentos, competências e habilidades.

    É difícil e arriscado prever o futuro da educação no país, mas novas profissões e novos comportamentos sociais chegaram e outros ainda estão por vir. Preparar as novas gerações com qualidade é uma obrigação do Governo e uma missão de todas as escolas e, no aspecto pessoal, das famílias.

     

     

     

     

     

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