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    Para virologista, praias só deveriam ser liberadas se houvesse testagem em massa

    Raphael Rangel diz que aplicativo de demarcação de lugar na areia no Rio ‘vem para tentar solucionar uma ideia errônea de liberar praias nesse momento’

    Jéssica Otoboni, , da CNN, em São Paulo

    A prefeitura do Rio de Janeiro vai lançar nos próximos dias um aplicativo para que os frequentadores marquem horário e lugar nas areias das praias da cidade. Para o biomédico virologista do Instituto Brasileiro de Medicina e Reabilitação (IBMR) Raphael Rangel, uma decisão como essa deveria ser tomada somente se fosse possível “testar a população em massa, o que não está sendo feito”.

    “Existe o mundo ideal e o mundo real. Parece que os governantes vivem num mundo utópico”, afirmou ele à CNN nesta terça-feira (11). Rangel destacou que uma das maiores preocupações com o uso do aplicativo é monitorar os banhistas, com relação ao distanciamento social e o uso de máscaras, por exemplo.

    “Se você não consegue monitorar a sua população, como já libera praias?”, questionou ele. “O aplicativo vem para tentar solucionar uma ideia errônea de liberar praias nesse momento.”

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    Raphael Rangel, biomédico virologista do IBMR
    Raphael Rangel, biomédico virologista do Instituto Brasileiro de Medicina e Reabilitação (IBMR)
    Foto: Reprodução – 11.ago.2020 / CNN

    Rangel disse que o uso de máscaras em um ambiente de muito calor, como a praia, pode levar a outros problemas, já que as pessoas podem passar mal. Para ele, o dinheiro público seria melhor utilizado se o governo comprasse mais testes, em vez de investir em um aplicativo. 

    “A cada 100 mil habitantes, o Rio de Janeiro faz 290 testes. É um número muito pequeno”, afirmou ele. “É uma utopia pensar que isso [aplicativo para demarcar lugar na praia] pode dar certo.”

    O virologista também destacou que comparar a liberação das praias com a das academias não faz muito sentido, já que estas são de iniciativa privada. Com isso, segundo ele, se o local não conta com funcionários para fiscalizar os clientes, contrata. “Na praia, sem a areia estar liberada já tinha aglomeração. Imagina agora.”

    Nas últimas semanas, contrariando as regras estabelecidas pela prefeitura para conter a disseminação do novo coronavírus, banhistas têm lotado as areias e promovido aglomerações. 

    Para muitos, o anúncio sobre a criação de um aplicativo para que os frequentadores marquem horário e lugar nas areias das praias da cidade é polêmico. Além da questão legal quanto à demarcação de um espaço na faixa de areia, a proposta suscita uma série de outras questões, como a viabilidade do cumprimento das recomendações sanitárias, a exemplo do uso de máscara.

    A CNN apurou que o aplicativo está sendo desenvolvido pela Secretaria Municipal de Meio Ambiente, enquanto a prefeitura mantém conversas com o governo federal sobre a medida. De acordo com o artigo 20 da Constituição, as praias são bens da União, ou seja, estão sob a responsabilidade do governo federal.

    (Edição: André Rigue)

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