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    Grande Debate: flexibilizar o isolamento pode prejudicar a economia?

    Augusto de Arruda Botelho e Caio Coppolla discutem a decisão do governo de São Paulo de prorrogar a quarentena no estado até 31 de maio

    Da CNN, em São Paulo

    No Grande Debate da noite desta sexta-feira (8), Caio Coppolla e Augusto de Arruda Botelho discutiram se uma eventual flexibilização do isolamento social pode prejudicar a economia. A dupla de debatedores também abordou a prorrogação da quarentena no estado de São Paulo até 31 de maio, deixando de lado o plano de reabertura econômica que havia sido anunciado em abril. 

    Caio Coppolla defendeu que “é possível flexibilizar, sim, porque São Paulo tem situação confortável de leitos de UTI”. Segundo ele, a pandemia está servindo de palco para diversos problemas na rede pública de saúde. “Bastidores da saúde pública em São Paulo mostram encenações para a imprensa, escassez de equipamentos de proteção individual, descaso com população enferma. Também me preocupa os contratos de licitação, que não são mais necessários nessa pandemia”.

    Augusto de Arruda Botelho, por sua vez, disse que “a maior ameaça à resposta do Brasil contra a Covid-19 é o próprio presidente do Brasil”, citando falas do editor chefe da revista científica The Lancet, que dedicou seu editorial para criticar a condução da crise por Bolsonaro. “O editorial diz que o Brasil tem alguns dos melhores cientistas do mundo. Porém, nosso presidente disse que fará churrasco para 30 pessoas nesse final de semana. Churrasco para comemorar o que? É possível flexibilizar com responsabilidade? Sim, mas requer um estágio de controle da pandemia que não chegamos”.

    Caio trouxe dados segundo os quais a média móvel de óbitos no estado, que exclui efeitos de sazonalidade e atrasos de diagnóstico, mostram que a curva de contágio na região começou a cair.

    “O gráfico indica que o estado atingiu o pico de óbitos em 29 de abril e, desde então, está em trajetória descendente, tomando como base 50% de isolamento, o que condiz com a realidade paulista. Podemos sim, paulatinamente, atividade por atividade, reabrir os negócios onde é possível realizar o distanciamento social”, afirmou.

    Augusto então se voltou à taxa de contágio, índice utilizado internacionalmente para medir quantas pessoas podem ser contaminadas por um paciente de COVID-19, e lembrou que o índice necessário para pensar em reabertura precisa ser menor do que um.

    “Com a taxa de isolamento atual, o índice de contágio está em 1,18. Caso a porcentagem fosse de 30% a taxa de contágio seria 2. Com 70% de isolamento, atingimos 0,87; aí poderíamos pensar em flexibilização. Estudos mostram que, com o isolamento em São Paulo, conseguimos salvar em média 51 pessoas por dia”.

    “Fico espantado com sua certeza ao prever um futuro que não existiu sobre as vidas salvas pelo isolamento”, disse Caio, que lembrou que a organização internacional Open Knowledge classificou o estado de São Paulo com um dos menos transparentes em relação à divulgação de dados sobre a pandemia. “Como você quer estabelecer políticas públicas se há falta de dados?”, questionou.

    “Nao faço afirmações com base na minha opinião, apenas reproduzo dados de especialistas”, disse Augusto, que lembrou um estudo normalmente citado por Caio, feito por autores brasileiros, que faz correlação entre o aumento do desemprego e o aumento da mortalidade. “Sobre o artigo que diz dos impactos do desemprego na mortalidade, autores do texto disseram que a interpretação do estudo está sendo feita de maneira errônea para defender o fim do isolamento em prol da economia”.

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    Augusto terminou sua fala dizendo que o isolamento está sendo feito para salvar vidas, para que as pessoas possam retomar suas atividades com saúde.  

    Já Caio avalia que hospitais de campanha são medidas midiáticas, e que o dinheiro usado para a construção deles poderia ser usado para ampliar o convênio com hospitais particulares.

    “Hospitais de campanha são medidas midiáticas, uma vez que atendem apenas pacientes médios e graves que são encaminhados para outros lugares. Com o valor de um hospital de campanha, o governo pode contratar mais de 23 mil diárias em UTI de hospitais privados. Porém, só agora o governo fechou parceria com 11 grandes hospitais da capital”.

    Augusto disse que os impactos na economia não são exclusividade do Brasil, e que os problemas econômicos não nasceram com a quarentena, e sim com a doença.

    “A economia não está sendo afetada pelo isolamento, mas sim pela pandemia. Se flexibilizamos agora, será pior para a economia porque não estamos prontos, a epidemia ainda não atingiu o pico. Eu quero propostas. Se ela é correta, veremos depois de ser adotada”.

    “Novamente, o número de óbitos está caindo desde a última semana”, reiterou Caio, que criticou a atitude do governador paulista, João Doria (PSDB), diante da pandemia. “O discurso do governador não corresponde com a realidade dos fatos. A verdade é que a falta de licitações são um incentivo perverso para manter o isolamento. Não falo aqui de uma abertura geral e irrestrita, mas com método e protocolos de segurança”.

     

     

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