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    China decepciona investidores globais com decisão sobre taxa de juros

    Corte na taxa de um ano era amplamente esperado, mas a falta de movimento na taxa de cinco anos surpreendeu negativamente

    Juliana LiuMichelle Tohda CNN

    A China surpreendeu os investidores nesta segunda-feira (21), ao decidir não cortar uma taxa de juros muito importante no país, que influencia as hipotecas.

    Segundo economistas, essa opção dificultará o retorno da confiança no problemático setor imobiliário do país, que derrubou as perspectivas para a segunda maior economia do mundo.

    O Banco Popular da China (PBOC) anunciou hoje um corte sua taxa básica de empréstimo de um ano em 10 pontos base, de 3,55% para 3,45%. No entanto, a autarquia manteve sua taxa básica de empréstimo de cinco anos (LPR), que está em 4,2%, inalterada.

    O corte na taxa de um ano era amplamente esperado, mas a falta de movimento na taxa de cinco anos surpreendeu negativamente.

    Quase todos os analistas consultados pela Reuters previam que a taxa de cinco anos, que serve como taxa de referência para hipotecas, seria reduzida em pelo menos 15 pontos-base.

    O resultado foi “abaixo do esperado”, escreveram Julian Evans-Pritchard e Zichun Huang, da Capital Economics, em uma nota de pesquisa na segunda-feira.

    “Por si só, a última rodada de cortes [de juros] é muito pequena para ter um grande impacto”, escreveram os economistas chineses. “[Isso] fortalece nossa visão de que é improvável que o PBOC adote os cortes muito maiores nas taxas, que seriam necessários para reviver a demanda por crédito.”

    O LPR define os juros que os bancos comerciais cobram de seus melhores clientes e funciona como referência para empréstimos para famílias e empresas. A taxa de um ano afeta a maioria dos empréstimos novos e pendentes, enquanto a taxa de cinco anos influencia o preço de empréstimos de prazo mais longo, como hipotecas.

    Uma redução na taxa diminuiria o custo dos empréstimos para quem contraísse empréstimos ou pagasse juros.

    As ações em Hong Kong e na China continental, bem como a moeda chinesa, enfraqueceram com as notícias. O Hang Seng (HSI) de Hong Kong fechou em queda de 1,8%, caindo ainda mais em um mercado baixista, enquanto o Shanghai Composite (SHCOMP) fechou em queda de 1,2%.

    O yuan chinês perdeu quase 6% em relação ao dólar no período acumulado de 2023, com preocupações sobre o futuro da economia chinesa, que relatou mais um mês de dados econômicos sem brilho na semana passada.

    Além de enfrentar uma crise no setor imobiliário, a China luta contra a deflação, as exportações mais fracas e o desemprego recorde entre os jovens.

    ‘Longe de ser suficiente’

    Economistas esperavam cortes na taxa básica de juros depois que a China fez uma redução surpresa em outra taxa, sua facilidade de empréstimo de médio prazo (MLF), na semana passada. Ele baixou isso em 15 pontos-base, para 2,5%.

    A taxa preferencial do empréstimo está vinculada ao MLF, por isso novas reduções na taxa nesta segunda-feira estavam “praticamente garantidas”, de acordo com a Capital Economics.

    Mas ainda que o PBOC tivesse atendido às expectativas cortando as taxas tanto quanto o esperado, ainda estaria “longe de ser suficiente para impulsionar o crescimento”, disseram analistas do Goldman Sachs em nota.

    O banco central afirmou no último domingo (20) que realizou uma reunião no final da semana passada com bancos comerciais estatais, agências governamentais e outras instituições para discutir o apoio político necessário.

    Durante a reunião, a recuperação econômica da China foi descrita como um processo que acontece em ondas e como parte de um movimento de “zigue-zague”, afirmou em comunicado conjunto com os reguladores financeiros e de valores mobiliários.

    “As grandes instituições financeiras devem tomar a iniciativa de agir e aumentar os empréstimos, e os grandes bancos estatais devem continuar a desempenhar um papel de apoio”, disseram.

    “Devemos prestar atenção para manter o ritmo de crescimento estável dos empréstimos, orientar adequadamente as flutuações de crédito e aumentar a estabilidade do apoio financeiro à economia real.”

    Dores de cabeça crescentes

    O anúncio de segunda-feira aumenta as preocupações sobre a situação da economia da China.

    Na segunda-feira, o UBS rebaixou sua previsão econômica para o país, dizendo que agora espera um crescimento de 4,8% para 2023 e 4,2% para 2024. Isso se compara às projeções anteriores de 5,2% e 5%, respectivamente.

    O rebaixamento foi feito “à luz de uma desaceleração imobiliária mais profunda e prolongada, além do enfraquecimento da demanda global”, disse o economista chinês Tao Wang em um relatório de pesquisa.

    “O crescimento econômico da China desacelerou desde abril, à medida que a crise imobiliária se aprofundou. O apoio político do governo tem sido indiscutivelmente menor do que o indicado no início do ano e menor do que esperávamos”.

    A China tentou reforçar o apoio, com o PBOC cortando ambas as taxas LPR em junho pela primeira vez desde agosto de 2022. Isso foi quando a economia estava sendo atingida por novos bloqueios de Covid e uma desaceleração imobiliária cada vez maior.

    Mas depois de alcançar um início sólido no início do ano, o quadro econômico piorou. A desaceleração foi registrada em vários setores da economia em julho e a pressão se agravou no vasto mercado imobiliário.

    Na semana passada, dados oficiais mostraram que os gastos do consumidor, a produção industrial e o investimento em ativos fixos desaceleraram ainda mais em julho, na comparação com o ano anterior. Enquanto isso, as exportações chinesas naquele mês sofreram a maior queda em mais de três anos.

    Os mercados chineses também foram afetados na semana passada por “preocupações crescentes relacionadas ao mercado imobiliário e seu contágio para a economia financeira”, observaram analistas do Goldman Sachs em um relatório de pesquisa no sábado.

    Os investidores estão preocupados com a dívida multibilionária de uma das principais incorporadoras imobiliárias da China, a Country Garden. Ultimamente, a empresa deixou de fazer alguns pagamentos e suspendeu a negociação de títulos onshore, contribuindo para o temor de inadimplência.

    Na semana passada, a Evergrande, outro desenvolvedor chinês problemático, entrou com pedido de falência nos Estados Unidos, aumentando o nervosismo sobre uma crise mais ampla. Isso significa que será ainda mais difícil para os formuladores de políticas forjar uma reviravolta.

    “Reavivar a demanda exigiria cortes de taxas muito maiores ou medidas regulatórias para restaurar efetivamente a confiança no mercado imobiliário”, disse a Capital Economics na segunda-feira.

    “O quadro geral é que a abordagem do PBOC à política monetária é de uso limitado no ambiente atual e não será suficiente, pelo menos por si só, para colocar um piso abaixo do crescimento.”

    Veja também: China estabelece meta de crescimento de 5% para 2023

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