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    Brasileiro treinado por Jack Nelson foi banido por má conduta sexual

    José Brito, da CNN, em São Paulo

    O Fort Lauderdale Swim Team (FLST), uma das principais equipes de natação da Flórida, foi fundado por Jack Nelson, que também era o técnico-chefe. Muitos atletas brasileiros passaram pela sua equipe, entre eles Leonardo Hobi Martins, nascido na cidade de Garanhuns, em Pernambuco, mas criado em João Pessoa, na Paraíba. 

    No começo dos anos 2000, Leo foi levado para morar e treinar nos Estados Unidos pelo ex-técnico-assistente do FLST, o também brasileiro Alexandre Pussieldi. 

    Ele terminou o ensino médio, em 2002, pelo colégio Cardinal Gibbons e seguiu estudando e competindo nos EUA. Até hoje, a Universidade do Estado do Arizona mantém públicos os recordes do nadador, entre eles, um terceiro lugar na história da instituição de ensino na modalidade 200 metros costas com o tempo 1:59,26. E, entre os anos de 2007 e 2008, foi treinador de natação, na Pine Crest.

    Em 2015, um ano após se registrar na USA Swimming como treinador, o nome de Leonardo foi incluído em duas novas publicações, mas ao lado de pesadas punições. Ele entrou na lista de profissionais banidos por má conduta sexual da organização e da US Center for Safe Sport’s, um recurso criado para manter o público informado quando os indivíduos violam o Código SafeSport. Atualmente, constam 185 banimentos feitos entre o ano de 1991 até o mais recente, em 28 de julho deste ano. 

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    A reportagem da CNN teve acesso à queixa criminal feita em 29 de novembro de 2014, no escritório do xerife do condado de St. Johns, que motivou a investigação da USA Swimming e, consequentemente, a penalidade dada ao brasileiro. No documento, consta o depoimento de uma mulher, que teve a identidade preservada, dizendo que teria sido estuprada por Martins no jardim da casa dele, durante uma festa. 

    “Enquanto a vítima estava deitada no quintal do réu por não se recuperar bem de consumir álcool, o réu ajoelhou-se ao lado da vítima e começou esfregando suas nádegas com a mão. O réu então puxou para baixo as calças da vítima e penetrou digitalmente em sua vagina. O réu fez isso mesmo quando a vítima disse repetidamente para parar. O réu foi interrompido momentaneamente pelo som da porta de tela se abrindo em sua varanda. O réu então voltou a penetrar digitalmente na vítima novamente depois que ela puxou as calças de volta. O réu então abaixou as calças e colocou o pênis na boca da vítima e disse a ela para ‘chupar’. A vítima afirmou: ‘não, não vou fazer isso, você vai machucar sua esposa’. O réu então colocou os dedos na boca da vítima após penetrar digitalmente em sua vagina. A vítima mordeu os dedos do réu fazendo com que ele removesse os dedos. Novamente, o réu foi interrompido por outros indivíduos da residência que saíram para o pátio, o réu disse algo em uma língua diferente (possivelmente português) aos indivíduos, momento em que eles voltaram para dentro de casa. Uma vez que os indivíduos estavam dentro de casa, o réu puxou as calças da vítima para baixo e ficou atrás dela quando ela estava deitada de lado direito e inseriu o pênis em sua vagina. A vítima disse repetidamente ao réu para parar, ela não queria isso, e o réu estaria machucando sua esposa ao fazê-lo. O réu só parou de penetrar na vítima com seu pênis quando ouviu pessoas de sua residência voltando para a varanda. Deve-se notar que a vítima é amiga da esposa do réu e o réu era anteriormente dela. O réu, no processo, não usou força física ou violência que pudesse causar danos pessoais graves, ao contrário do Estatuto da Flórida 794.011”, diz o documento. 

    Trecho de depoimento de vitima de Leonardo
    Trecho de depoimento de vitima de Leonardo em 2014
    Foto: CNN Brasil

    A vítima forneceu uma declaração juramentada por escrito, juntamente com seu testemunho pessoal em uma entrevista gravada em áudio e vídeo que atesta os eventos listados neste relatório. Questionada pelo detetive Stephen Conway, a denunciante disse que só no dia seguinte foi compreender o que teria acontecido e procurou o brasileiro dois dias depois. 

    “Ele primeiro culpou a bebida e disse que estávamos todos bebendo muito e apenas levamos as coisas um pouco longe demais e isso saiu do controle. Isso não funcionou comigo e essa não era a resposta que eu estava procurando. Leo, não me importa o quão bêbados vocês estavam e o quão bêbado eu estava, eu sei o que aconteceu e isso não foi mútuo de forma alguma e eu não consenti com isso. Nem eu jamais consentiria com isso e, francamente, foi uma daquelas situações em que esta foi a única vez em sua vida em que ele poderia ter se safado com algo assim, e ele o fez. Umm, não foi até eu colocar em perspectiva que o que ele fez poderia mandá-lo para a prisão que ele realmente lamentou. Foi quando ele se desculpou e, mesmo assim, não acho que ele se arrependeu. Mas a partir daí ele me implorou para mantê-lo entre nós dois e me pediu para ficar quieto”, consta no documento. 

    A mulher relata que Martins teria perguntado o que ele precisava fazer para manter aquilo em segredo, mas ela disse que aquilo não era uma opção no momento e queria iria falar a esposa dele. Segundo a denunciante, a amiga teria ficado em negação, após o incidente ser revelado a ela. “Essa foi a nossa conversa e na manhã seguinte (…) descobre que está grávida de uma semana da primeira criança e me diz primeiro. Ela está entusiasmada com isso e, a partir de então, foi como se fôssemos empurrar isso em banho-maria. ‘Temos que superar isso, estamos grávidos agora e só quero energia positiva para o bebê’. Ela tem tipo estado em negação desde então. Eu não falei com eles depois que eles partiram para o Brasil.”

    Em 12 de junho de 2015, uma declaração de mandado foi concluída pelo xerife contra Leonardo por agressão sexual com um pedido de prisão imediata e a acusação foi enviada a Procuradoria do estado da Flórida para revisão. Em 6 de maio de 2016, o procurador da República adjunto, Christopher Ferebee, arquivou o caso por insuficiência de provas. Leonardo foi procurado pela CNN para dar a sua versão das acusações, mas não respondeu nossas mensagens e desligou a ligação telefônica após a reportagem se identificar.