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    Torcedores trocaram estádios pelos sofás para assistir à final da Libertadores

    Torcedores de Palmeiras e Santos buscam maneiras de manter tradições e interagir com outros apoiadores - e mesmo com os rivais

    “Veremos na casa da minha irmã. Fomos campeões do Paulista lá e vamos com essa superstição”, conta a paulistana Ana Lúcia Dias
    “Veremos na casa da minha irmã. Fomos campeões do Paulista lá e vamos com essa superstição”, conta a paulistana Ana Lúcia Dias Foto: Acervo pessoal

    Larissa Santos, colaboração para a CNN Brasil

    Pela primeira vez desde 2006, dois times brasileiros decidirão a Libertadores da América. E não serão quaisquer dois times: os rivais Palmeiras e Santos se enfrentam neste sábado (30), no Estádio do Maracanã, no Rio de Janeiro.

    O jogo é histórico para palmeirenses e santistas, mas dessa vez torcedores que costumavam ir a estádios ou bares terão que se contentar em acompanhar de casa, pela televisão. 

    A partida será jogada no Maracanã e poderá contar com apenas 10% da lotação do estádio. Os ingressos foram destinados para convidados credenciados, estafes dos clubes e patrocinadores da Conmebol.

    Mesmo não podendo lotar o estádio e arredores, torcedores já se movimentam e sofrem de ansiedade para a partida de sábado. Com os jogos sem público desde a volta do futebol, em agosto, torcedores tiveram que encontrar novas tradições e mudar os hábitos para acompanhar as partidas. A torcida unida, os bandeirões e as arquibancadas foram substituídas pelas televisões de casa e a companhia da família.

    A CNN ouviu histórias de torcedores que costumavam frequentar estádios em grandes jogos e mudaram suas tradições nessa final de clássico entre rivais paulistas. As superstições podem os diferenciar, mas todos compartilham a ansiedade para a partida de sábado.

    Superstições alviverdes

    Ana Lúcia Dias é torcedora apaixonada pelo Palmeiras e durante a pandemia passou a acompanhar o verdão dentro de casa ou na casa da irmã. Para a final não será diferente. “Veremos na casa da minha irmã. Fomos campeões do Paulista lá e vamos com essa superstição”.

    O que não falta para Ana são tradições para o Palmeiras vencer. “Escolhemos camisas que ganhamos em tal jogo. Até o rímel tem que ser verde”. Seus familiares não usam nada preto no dia do jogo, apenas roupas, incluindo roupas íntimas, brancas ou verdes. Dias antes da final tão importante, a ansiedade toma conta da casa.

    A moradora da Zona Oeste de São Paulo conta que anda perdendo o sono e com frio na barriga preocupada com o jogo final. Em casa desde que ficou desempregada em junho, a ansiedade só aumenta com o maior tempo disponível e quanto mais acompanha as notícias e análises pré-jogo.

    Já Pedro Gabriel Castardo, de 22 anos, é torcedor do Palmeiras desde pequeno, time que aprendeu a amar com o pai. Antes da pandemia, ele costumava acompanhar os jogos importantes dentro de casa, uma tradição que mantém desde o Paulista de 2008, quando tinha só 10 anos de idade. Para este ano a regra se mantém: camisa do Palmeiras, no sofá em frente a televisão da sala.

    Final da Libertadores
    A especialista comercial Stéfani Santos integra a torcida Manca Alvi Verde, mas, desta vez, não poderá acompanhar in loco a partida do Palmeiras
    Foto: Acervo pessoal

    “Ao mesmo tempo que não mudou na pandemia, mudou tudo. Os jogos da Libertadores costumam ser de quarta-feira, e normalmente esse horário eu não tinha chegado em casa e perderia o primeiro tempo inteiro no transporte. Agora eu não tenho pressa e assisto inteiro. Mesmo que seja o mesmo sofá e a mesma sala, a sensação é diferente, ver o estádio vazio traz isso.”

    Pedro Gabriel diz que o principal fator que se intensificou é a ansiedade. Com mais tempo livre e isolado em casa, o jovem sente que passa mais tempo preocupado antes das partidas. “Para sábado eu não estou me aguentando de ansiedade, antes da pandemia eu saía, falava com pessoas e me distraía. Sinto que torcer esse ano está sendo mais difícil que nos outros anos”.

    ‘A brincadeira pelo WhatsApp não falha’

    Ansiedade é o sentimento regra para torcedores dos dois lados. Mas para Julia Campolino, de 22 anos, o nervosismo precisará ser controlado. A jovem engravidou no início da pandemia, e agora, a uma semana de completar nove meses, está aflita para torcer pelo Peixe. Ela pretende assistir a final em casa, com o namorado e os pais, e tentará se manter calma para não adiantar a vinda do filho.

    “Meu bebê pode nascer com o Santos com um título a mais. Estou ansiosa, mas vou desligar a televisão se ficar muito nervosa, o Rafael não pode sair do forno ainda”, conta Julia.

    Também do lado alvinegro da disputa, Matheus Cardoso, de 23 anos, torcedor do Santos e vizinho da Vila Belmiro, vai se reunir com a esposa, os irmãos e o pai, todos devidamente vestidos com a camisa  e bandeira do Peixe para torcer.

    Em um momento que os contatos se resumem a chamadas de vídeos e mensagens em redes sociais, a união para acompanhar o jogo será também online. Durante a pandemia, o empresário Mario Brossó passou a acompanhar o Santos muitas vezes sozinho, assistindo aos jogos pelo próprio celular.

     Mesmo sem presença física, o empresário tem a companhia dos amigos através de mensagens. “A brincadeira pelo WhatsApp não falha. Quando o Santos ganha, eu vou encher os meu amigos de outros times e quando perde tenho que aguentar a zoeira. Mas na brincadeira, sem maldade.”

    Aos finais de semana, o estado de São Paulo está na Fase Vermelha do plano de reabertura econômica, em que só é permitido o funcionamento de atividades consideradas essenciais, como farmácias e supermercados. O decreto não permite, portanto, a abertura oficial de estabelecimentos onde torcedores possam assistir em conjunto.

    Esse é o caso de Stéfani Santos, de 36 anos, que faz parte da torcida organizada Mancha Alvi Verde. Normalmente, ela acompanhava a torcida para assistir a jogos importantes, como bares, na quadra da Mancha, em frente ao CT e na própria arquibancada.

    Dentro de casa, a especialista comercial manteve as tradições de antes, como o banho de folhas, reza aos ancestrais antes do jogo e faz o sinal da cruz no esposo e ele nela. “O local mesmo que mudou, a gente sempre vê do nosso quarto, na cama, por que dá sorte, então é o melhor lugar para estar”.

    Para a final, Stéfani pretende ver com colegas da Mancha Alvi Verde em um lugar seguro. “Jogos desta magnitude não dá para ficar em casa. Vamos procurar algum lugar próximo ao estádio, que tenha protocolos de segurança e que possamos ficar o mais perto possível da nossa casa, que é o Allianz Parque”.