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    Treinador de ‘halls da fama’ já foi denunciado por estupro

    José Brito da CNN, em São Paulo

    Um ex-nadador olímpico e ex-treinador da seleção feminina dos EUA que conquistou uma medalha de ouro nos Jogos de Montreal, em 1976. Assim pode ser resumida a carreira de Jack Nelson, eleito o Homem do Ano pela Câmara do Comércio da cidade de Fort Lauderdale, em 1993, e que colecionou presença em “halls da fama” das escolas em que foi treinador e instituições do esporte como técnico de honra. 

    As homenagens a Nelson são questionadas por uma de suas ex-alunas da Pine Crest School, localizada no estado da Flórida. Diana Nyad, hoje com 71 anos e palestrante motivacional, é conhecida no mundo da natação por nadar grandes distâncias, principalmente em mar aberto. Ela afirma que foi abusada pelo treinador desde os 14 anos. Apesar de décadas de denúncias, Jack Nelson nunca foi indiciado formalmente. Ele morreu, em 2014, e sempre negou todas as acusações. Em entrevista à CNN, Diana descreveu a relação que tinham e como teria acontecido o primeiro estupro que diz ter sofrido. 

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    “Fui para a casa de Jack Nelson para tirar uma soneca à tarde entre as preliminares e as finais da noite. Frequentemente fazíamos isso com todas as crianças de nossa equipe, éramos babás para os filhos dele. Eu não era muito próxima da minha própria família e esses predadores são muito bons nisso. Eles são muito bons em escolher quem não vai contar e quem precisa desse tipo de atenção. Então, fui para a casa dele tirar uma soneca. No meio do cochilo ele entrou no quarto, me agarrou, agarrou e puxou minha blusa, ele molestou meus seios e não fez, sabe, sempre é difícil falar todas essas palavras, mas ele não penetrou em mim, não tivemos relações sexuais. Mas ele tirou a calça, ficou em cima de mim… Ele não conseguia entrar em mim. Eu estava assustada. Eu estava congelada. Eu era como aço. Eu era como aço congelado. Eu não conseguia respirar”, lembra.

    A ex-nadadora Dyana Nyad
    A ex-nadadora Dyana Nyad
    Foto: Arquivo pessoal

    Nyad disse que, desde então, teve que lidar com muita terapia para entender que não era culpa dela. “Não é que as pessoas não tenham acreditado em mim ao longo dos anos, mas o fim legal disso é muito difícil. É difícil provar, em parte porque para um crime cometido na década de 1960, eles remontam às leis dos anos 1960”, conta. 

    Ela diz que havia dificuldade de o que aconteceu ser tratado como um crime. “Existe uma lei na cidade da Flórida que diz: ‘um molestamento ou estupro não pode ser chamado assim a menos que o molestador tenha uma arma, uma faca ou uma arma, a menos de quinze centímetros de seu corpo’. Bem, Jack Nelson não tinha faca. Ele não tinha arma. Ele apenas tinha seu controle sobre mim e sobre os outros nadadores. Ele era um Deus para nós. E ele tinha que estar certo e eu tinha que ser a que estava errada. Portanto, fiquei envergonhada e silenciada”, desabafa.

    Técnico já foi preso por transportar pornografia infantil

    A Pine Crest School é uma tradicional escola particular de alto padrão com campus, em Fort Lauderdale e Boca Raton, na Flórida. A instituição conta com um complexo aquático chamado Pine Crest Swimming Club e acumula recordes nas piscinas conquistados por seus atletas mirins e juvenis. Mas, em novembro de 2008, um dos responsáveis por esses nadadores, o técnico assistente do clube, Roberto Manuel Caragol, foi preso e sentenciado a mais de 12 anos de prisão por transportar imagens de menores de idade em conduta sexualmente explícita. 

    No sumário da investigação do agente especial Alexis Carpinteri, ao qual a CNN teve acesso, consta que o provedor de internet AOL denunciou ao gabinete do xerife do condado de Broward que um usuário havia encaminhado um e-mail para múltiplas pessoas contendo imagens que aparentavam ser de pornografia infantil. Ao ser questionado, “Robert”, como também é conhecido, admitiu ser dono do e-mail investigado, mas em um primeiro momento negou ter recebido, distribuído ou estar em posse de material desse tipo e ainda entregou seu laptop para os oficiais. 

    “Um exame forense foi conduzido pelo agente especial sênior do ICE, que descobriu aproximadamente 40 miniaturas (versões de tamanho condensado dos arquivos originais) contendo imagens de meninos menores de 18 anos que estavam envolvidos em atividades sexuais e alguns de meninos nus. Algumas das imagens foram salvas no arquivo “Documents and SettingsRobertMy PicturesThumbs.db”, consta no documento.

    Em 18 novembro de 2008, Caragol foi entrevistado e admitiu que, entre 2003 e 2008, enviou, recebeu e armazenou, pelo menos, algumas centenas de imagens de jovens garotos entre 10 e 18 anos com caráter sexual. Ele revelou também que teve atividade sexual com crianças menores de idade, desde 2001, sendo um deles seu aluno na época. O ex-treinador ficou preso em um presídio federal até 9 de agosto do ano passado e segue em liberdade condicional, em Miami. 

    A reportagem entrou em contato com Caragol por telefone, mas ele não quis dar declarações. “Me desculpe, mas eu não vou dar nenhuma declaração sobre isso. Eu nunca faço isso. Eu tenho coisas a fazer e será a mesma resposta há poucos minutos, agora, amanhã e no próximo ano”, disse.

    Após ser procurada pela reportagem, em agosto, a vice-presidente de Marketing e Communications da Pine Crest School, Christine Dardet, disse que não pode dar detalhes dos vínculos profissionais de Leonardo e Caragol porque o registro de funcionários fica em um centro de armazenamento fora do campus e que não podem priorizar isso, dada a situação da Covid-19 e a abertura de escolas para os alunos.