G. Dias pediu retirada do próprio nome de relatório da Abin para o Congresso, mostram mensagens
Pedido já havia sido revelado por ex-diretor da Abin Saulo Cunha em depoimento à CPMI do 8/1; documento seria enviado ao senador Esperidião Amin, então presidente da Comissão Mista de Controle das Atividades de Inteligência do Congresso
A CNN teve acesso à troca de mensagens entre o ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) Gonçalves Dias — o G. Dias — e o ex-diretor-adjunto da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) Saulo Moura da Cunha.
No dia 17 de janeiro de 2023, às 16h30, G. Dias enviou mensagens a Saulo Cunha para tirar uma dúvida:
- saber se a relação de alertas da agência de inteligência seria entregue ao senador Esperidião Amin (PP-SC).
À época, Amin era presidente da Comissão Mista de Controle da Atividade de Inteligência do Congresso Nacional, colegiado responsável por acompanhar e fiscalizar os trabalhos da Abin.
Perguntou ainda a Saulo Cunha se o nome dele, Gonçalves Dias, poderia ser retirado da lista.
Veja a seguir as mensagens, exatamente como foram redigidas:
- Gonçalves Dias: Será que meu nome pode ser retirado daquela relação.
- Saulo Cunha: Aquela relação é só para seu conhecimento.
- Gonçalves Dias: Ela ia ser entregue para o Espiridiao
- Saulo Cunha: Negativo. Eu pedi que levasse ao senhor primeiro para avaliarmos.
- Gonçalves Dias: Ok
Outro lado
A CNN procurou o ex-ministro Gonçalves Dias por telefone e por mensagens e aguarda retorno sobre as mensagens.
O ex-diretor-adjunto da Abin Saulo Moura da Cunha disse, por telefone, que não iria comentar o assunto.
A CNN conversou com o senador Esperidião Amin. Ele afirmou à reportagem que fez um pedido de informação sobre todos os alertas à Abin no dia 9 de janeiro de 2023 e que a agência respondeu, enviando o relatório, no dia 20 de janeiro, às 18h.
VÍDEO – Ex-Abin: G. Dias mandou excluir nome dele de relatório
Saulo Cunha já havia confirmado publicamente a tentativa de G. Dias retirar o nome dele do relatório, durante depoimento à Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do 8 de janeiro.
“Eu fiz os dois relatórios. Fiz primeiro uma planilha que continha alertas encaminhados pela Abin a grupos e que continha alertas encaminhados por mim, pessoalmente, pelo meu telefone para o ministro-chefe do GSI”, afirmou Saulo Cunha à CPMI em 1º de agosto.
“Eu entreguei essa planilha ao ministro e o ministro determinou que fosse retirado o nome dele dali, porque ele não era o destinatário oficial daquelas mensagens”, concluiu o ex-diretor.
“Não adulterei documento”
Em depoimento à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Câmara Legislativa do Distrito Federal (CLDF), em junho, G. Dias admitiu ter modificado o documento antes de enviá-lo à comissão do Congresso, mas negou se tratar de uma fraude.
“Não adulterei nem fraudei nenhum documento”, declarou o militar à CPI em 22 de junho.
“Sempre falei no GSI que todo documento que passasse por lá tinha que ser a expressão da verdade. A CCAI [Comissão de Controle das Atividades de Inteligência do Congresso Nacional] solicitou ao GSI o que a Abin tinha produzido sobre os atos. A Abin fez um compilado de mensagens de aplicativos. Lá tinha três partes como ‘dia tempo, acontecido e difusão’. Esse documento tinha ‘ministro do GSI’. Eu não participei de nenhum grupo, não sou difusor. O documento não condizia com a verdade”, completou na ocasião.
Na mesma sessão da CPI, Gonçalves Dias também informou que a Abin fez outro relatório da mesma situação, no entanto, sem a citação ao ministro.
“O documento enviado de forma igual ao MPF [Ministério Público Federal] estava diferente na parte ‘difusão’. Não tinha GSI”, disse à época.
*Colaborou Nathan Lopes, da CNN
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