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    Diversão é menos “pensar” e mais “fazer”, diz cientista

    Em livro, psicólogo comportamental explica como o aumento intencional de momentos alegres pode melhorar a saúde, os relacionamentos e até a produtividade

    Jessica DuLongda CNN*

    Em uma sociedade que valoriza a produtividade, em que a ocupação se torna um ponto de orgulho e o “trabalho árduo” um distintivo de honra, a diversão muitas vezes é deixada de lado.

    Em seu livro “The Fun Habit: How the Pursuit of Joy and Wonder Can Change Your Life” (na tradução livre: O Hábito da Diversão: Como a Busca Pela Alegria e Admiração Pode Mudar Sua Vida), o psicólogo organizacional e cientista comportamental Mike Rucker compartilha evidências dos benefícios físicos e psicológicos de priorizar o prazer.

    Um componente do nosso bem-estar depende de diversão, brincadeiras e lazer, argumenta Rucker. Seu livro explica como o aumento intencional de momentos alegres pode melhorar a saúde, os relacionamentos –e até a produtividade– e oferece dicas práticas, ferramentas e táticas para incentivar atos de diversão no dia a dia.

    Diversão não é um “extra”, insiste Rucker. “É um ato de autocuidado radical”.

    CNN: O que é diversão? Como é diferente da felicidade?

    Mike Rucker: A felicidade é focada em resultados. Muitas vezes, em vez de aproveitar conscientemente o que a vida tem a oferecer, estamos usando energia para desvendar por que somos ou não felizes. Podemos ficar presos ruminando sobre a lacuna entre onde pensamos que estamos e como pensamos que a felicidade deve ser.

    Diversão é menos “pensar” e mais “fazer”. É demonstrável, observável, real e imediatamente ao nosso alcance. Você é atraído, encontra prazer e se envolve com uma atividade? Isto é diversão. Disponível para qualquer pessoa a qualquer momento, a diversão oferece uma rota neurológica direta para melhorar nosso bem-estar.

    Também não precisa ser algo extravagante. Atividades silenciosas e de baixa excitação que proporcionam equilíbrio e renovação, como jardinagem, meditação ou leitura, contam como diversão.

    CNN: Que efeito tem nutrir um hábito divertido tem em nossas vidas?

    Rucker: Muitas vezes olhamos para nossas vidas pelas lentes da produtividade, em vez de nos basearmos no que seria restaurador ou agradável.

    Um hábito da diversão se alinha com ser mais produtivo e viver uma vida significativa. Perguntar: “Como posso aproveitar isso?” nos ajuda a identificar elementos que podemos manipular, incluindo nosso ambiente, as pessoas com quem estamos e as atividades nas quais estamos envolvidos.

    Desenvolver uma tendência para a diversão pode distorcer o equilíbrio de nossas experiências para mais coisas boas do que ruins. O riso e o bom humor reduzem a ansiedade, diminuem o estresse, aumentam a autoestima e aumentam a automotivação. Uma estrutura focada na diversão também pode nos ajudar a aprender a nos divertir mesmo quando as coisas não saem do nosso jeito.

    Atividades simples, como jardinagem podem ajudar a construir hábitos divertidos/ Getty Images

    CNN: Que medidas práticas podemos tomar para nos divertirmos mais?

    Rucker: O primeiro passo para adicionar atividades novas e prazerosas à sua vida diária é auditar seu calendário para diversão em vez de produtividade. Fazer isso revelará oportunidades ocultas para aumentar sua diversão, mesmo sem sacrificar a realização das coisas.

    Por uma semana, você pode tentar registrar suas atividades por hora. Em seguida, categorize como você está gastando seu tempo usando um modelo simples de quatro quadrantes, que traça as atividades ao longo dos eixos de diversão e esforço.

    As atividades que são fáceis e altamente prazerosas pertencem ao quadrante “agradável” superior esquerdo. Embora o tempo gasto aqui muitas vezes seja classificado como frívolo, a pesquisa nos diz que essas atividades criam a sensação de que nossa vida vale a pena e é gratificante.

    CNN: O objetivo é passar toda a nossa vida no quadrante “agradável”?

    Rucker: De jeito nenhum. Uma vida plena inclui altos e baixos, alegrias, dores e tédio. A positividade tóxica refletida nas mensagens de “boas vibrações apenas”, “sem dias ruins” de alguns no complexo industrial da felicidade reflete uma problemática falta de flexibilidade emocional.

    Ao contrário da felicidade, a diversão pode coincidir com uma variedade de estados emocionais ou até mesmo transcendê-los completamente.

    CNN: Depois de rastrear como estamos gastando nosso tempo, como podemos inclinar a balança para a diversão?

    Rucker: O rastreamento de atividades pode nos ajudar a ter uma agenda para liberar mais tempo para diversão. Como é da natureza humana preencher rapidamente qualquer espaço que criamos, sugiro criar o que chamo de arquivo divertido –uma lista robusta de atividades divertidas que você gostaria de integrar aos seus dias.

    A criação de listas ajuda a estimular nossa curiosidade, além de nos fornecer um recurso para onde recorrer. Depois de ter sua longa lista, divida-a em categorias e, em seguida, reduza-a a uma pequena lista de oito a 15 opções alcançáveis. O cérebro funciona bem com tantas opções.

    Pessoas passeiam de bicicleta no Rio de Janeiro / REUTERS/Pilar Olivares

    CNN: Por que é tão importante priorizar essas atividades em nossas vidas já carentes de tempo?

    Rucker: Diversão é o antídoto para aquilo que a vida nos joga. Uma ferramenta de enriquecimento e uma válvula de alívio para as pressões da vida, a diversão nos mantém saudáveis. Também nos ajuda a fazer melhor uso geral do tempo que temos.

    Estudos sugerem que as pessoas que conseguem reservar tempo para diversão, renovação e fazer coisas interessantes são as pessoas mais produtivas. Além disso, as pessoas que não estão se divertindo procuram formas ruins de escapismo.

    Digamos que você se considere uma pessoa ativa que trabalhe 60 horas por semana, gerando uma unidade de produção a cada hora. Compare isso com pessoas que estão se divertindo –que sabemos, com base na ciência– são mais produtivas. Elas podem realmente produzir mais unidades de saída para cada hora de trabalho.

    Além da quantidade, vemos que o trabalho mais inovador e criativo vem de quem protege seu lazer. O tempo para diversão libera a capacidade de pensamento não linear.

    CNN: Quem tem acesso para arranjar tempo para se divertir?

    Rucker: Como acontece com a maioria das coisas, o privilégio abre portas para a diversão. A capacidade de trocar tempo por dinheiro, por mais eficaz que seja, está enraizada no privilégio. Dito isso, os dados de uso do tempo mostram que mesmo as pessoas com menos tempo geralmente têm períodos do dia em que têm algum controle sobre o que estão fazendo. Se você for criativo, há uma série de maneiras de aumentar sua riqueza de tempo sem precisar de dinheiro.

    Agrupar atividades pode ser uma maneira de se tornar mais eficiente. Por exemplo, uma médica com quem trabalhei gostava de desenhar, mas tinha dificuldade em encaixar isso em sua agenda até começar a desenhar enquanto fazia acompanhamento dos pacientes.

    A colaboração com os membros da sua comunidade também pode ajudar. Um esquema de rodízio de período para cuidar das crianças com conhecidos pode liberar os pais para uma noite de encontro de baixo custo. E os recursos online oferecem ótimas opções para atividades gratuitas com pessoas que pensam como você.

    CNN: Quanto tempo devemos gastar com diversão todos os dias?

    Rucker: A pesquisa sugere duas horas por dia como o “ponto dos Cachinhos Dourados” para passar o tempo se divertindo. Numa sociedade que exige tantas horas de trabalho e desvaloriza a importância da diversão, isso pode parecer muito.

    Se isso parecer um exagero, comece com uma a três horas por semana para testar alguns dos itens da sua lista divertida. Não pense que você tem um período de 14 horas imediatamente. Mesmo um aumento lento mostrará os benefícios desse novo hábito. Uma vez que as pessoas percebem que serão realmente mais produtivas se divertindo, essa abordagem se torna mais fácil de entender.

    Ler um livro também pode ser uma atividade divertidade / Alexandra Fuller on Unsplash

    CNN: Como um diário ajuda a criar um hábito divertido? Quais práticas específicas ajudam mais?

    Rucker: O registro no diário nos ajuda a armazenar memórias e processar nossas experiências. As entradas que se concentram em saborear ou relembrar amplificam o poder da diversão que você já teve, porque você pode experimentá-la novamente.

    A chave é incluir detalhes memoráveis sobre a experiência que você está descrevendo. Por que foi divertido? Como você se sentiu? E a memória te ilumina? Inclua detalhes sensoriais e, se puder, uma lembrança –uma foto, letra de música ou videoclipe, por exemplo. Isso pode ajudar nossa memória, trazendo de volta informações que foram codificadas em nosso cérebro.

    Lembre-se de que o registro no diário não precisa necessariamente acontecer em papel e caneta. Um álbum de recortes, um frasco de memória, todas essas coisas podem ser extremamente úteis. Não importa como você catalogue, essas memórias podem atraí-lo de volta para mais do que você gostou no passado.

    Ao chamar nossa atenção para os bons momentos que tivemos –e poderíamos ter novamente– relembrar aumenta nossa consciência de que temos mais agenda e autonomia para afetar a maneira como nos movemos no tempo do que às vezes pensamos.

    A pesquisa mostra que documentar e ativar memórias positivas traz benefícios de longo prazo e pode até ajudar a suprimir a depressão. Além disso, memórias divertidas nos ajudam a construir recursos que oferecem resiliência emocional em momentos não tão divertidos.

    A diversão nos permite lidar com a dor da vida e, às vezes, até transcendê-la, experimentando mais plenamente os presentes ela nos dá.

    *Jessica DuLong é uma jornalista baseada no Brooklyn, Nova York, colaboradora de livros, treinadora de redação e autora de “Saved at the Seawall: Stories From the September 11 Boat Lift” e “My River Chronicles: Rediscovering the Work That Built America”.

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