Como escritores LGBTs veem na literatura uma forma de combate ao preconceito
Autores falam sobre a importância da literatura LGBT para aumentar empatia e representatividade
De acordo com Renan Quinalha, advogado, ativista e autor do livro “História do Movimento LGBT no Brasil”, a literatura é central para a comunidade. “Tem uma importância fundamental por ajudar a colocar referências e representatividade para quem esteja descobrindo a identidade possa se referenciar nesses modelos, personagens, autores”.
Victor Martins é um dos autores da nova geração deste mercado. Ele completa a visão de Quinalha sobre a representatividade proporcionada pela literatura. “É de extrema importância para uma coisa que a gente busca que é essa percepção de que o LGBT tem conflitos como todo mundo em várias áreas da vida e, com isso, gerar empatia. Quando a gente lê sobre uma vivência que não é a nossa acaba sendo provocado a repensar o assunto”, diz o escritor que foi sucesso na última Bienal do Livro de São Paulo e tem um terreno fértil para falar de literatura em suas redes sociais. Só no Instagram são mais de 42 mil seguidores.
Aliás, as redes sociais são espaço de muitos desses autores para divulgar pensamentos, experiências e textos mais curtos. É o caso de Daniel Bovolento, autor dos livros “Depois do Fim” e “O que eu Tô Fazendo da Minha Vida”. A experiência pessoal de Daniel, sempre presente naquilo que escreve também influenciou na formação de seu público e no desejo de escrever mais sobre os LGBTs.
“A minha saída do armário pública em 2015 mudou muito isso. Eu percebo que meus textos e livros ganharam algo diferente e tenho sentido muita necessidade de trazer para a mesa esses assuntos LGBTs”, conta o autor, que admite a dificuldade que as histórias sobre casais do mesmo sexo têm para romper a bolha da comunidade. “O público hétero, quando vê um livro LGBT não se interessa, não se sente representado.”
Aliada ao cinema, a literatura conseguiu quebrar essa parede nos últimos anos. É o caso de “Me chame pelo seu nome”, livro de André Aciman que virou filme e levou o Oscar de Melhor Roteiro Adaptado em 2018. Antes disso, o romance “The Prince of Salt”, de Patricia Highsmith, recebeu seis indicações ao Oscar em sua adaptação no filme “Carol”.
Junto ou separado?
Categorizar os livros numa estante LGBT nas livrarias e nos sites de venda também é uma questão. Por um lado, representa um avanço e ajuda aos interessados a encontrarem mais facilmente. Por outro, pode ser uma forma de separação que afasta outros públicos.
Daniel Bovolento conta que já ouviu de um editor que quando entrasse na categoria, corria o risco de só ser visto como um escritor gay. Vitor Martins compartilha do mesmo dilema. “É um orgulho muito grande falar sobre isso e é importante que as pessoas saibam que é uma história de protagonismo LGBT, mas só sou procurando quando é para falar sobre isso e sou um autor capaz de falar de outras coisas”, diz.
Embora haja divergências, Renan Quinalha diz que essa segmentação ainda é necessária. “É importante para ajudar a constituir um campo do debate público sobre isso, mas o ideal é chegar num momento em que não haja mais isso e seja literatura como qualquer outra literatura”.