Oscar 2021: Filmes pequenos e chances de prêmios inéditos definem ano estranho
Indicações de filmes exibidos em serviços de streaming e fechamentos de cinemas são fatores refletidos na cerimônia deste ano
Quão incomuns serão os prêmios do Oscar deste ano? A começar pelo fato de que a premiação marcará o fim de um calendário de prêmios de 14 meses, celebrando uma lista de filmes que as pessoas assistiram (ou pensamos que assistiram, mas não sabemos exatamente) na TV.
O extenuante ambiente pandêmico da mídia que se instalou pouco depois do Oscar do ano passado deu lugar a uma temporada de premiações pontuada por índices recorde de audiência em eventos como o Emmy, Globo de Ouro e Grammy.
Após adiar a premiação e expandir a janela de elegibilidade até fevereiro, a 93.ª cerimônia de entrega dos Academy Awards, ou Oscar 2021, prosseguirá com uma cerimônia principalmente presencial, onde a logística tem um grau de dificuldade excessivamente alto.
Se a temporada de premiações parece uma maratona, o Oscar não consegue evitar a sensação de que está mancando na linha de chegada. Os próprios filmes – cinco dos oito indicados ao prêmio de melhor filme foram exibidos, principalmente, em serviços de streaming – falam sobre a época e o ano pandêmico de maneiras diferentes.
Pequenos em escala, são o oposto dos sucessos globais (antes do novo coronavírus, pelo menos) que foram o sangue vital de Hollywood.
Embora as atenções certamente se concentrem nessa corrida central, algumas das ações mais interessantes e com potencial para o espectador ocorrerão em outras categorias, onde a história pode ser feita de várias maneiras – um ano depois de Parasita se tornar o primeiro filme em língua estrangeira a ganhar o prêmio de melhor filme.
Mesmo nos melhores momentos, o Oscar luta com o fato de que os filmes indicados caem cada vez mais no reino dos “filmes de arte”, em oposição aos títulos amplamente populares.
Conforme relatado pela revista Variety, nenhum vencedor de melhor filme “esteve no top 10 em vendas de ingressos” desde O Senhor dos Anéis: O Retorno do Rei, em 2004. Como os serviços de streaming raramente compartilham dados de visualização, não há nem mesmo um barômetro claro de quantas pessoas viram os candidatos deste ano.
A relativa ausência de sucessos óbvios de bilheteria – muitas vezes indicados em categorias técnicas, como efeitos especiais e som – é ainda mais pronunciada este ano, com a maioria desses filmes adiados para além da janela de elegibilidade na esperança de um lançamento nos cinemas.
O possível vencedor de melhor filme deste ano, Nomadland, estrelado por Frances McDormand como uma mulher que abre mão de tudo e pega a estrada, estreou no Hulu. Seria um tiro no escuro esperar muito entusiasmo comercial em qualquer evento.
Nos últimos dias, o filme atraiu críticas por sua rápida descrição das condições de trabalho da Amazon e dos trabalhadores temporários, embora mentes desconfiadas tenham se perguntado se os estúdios, no passado, não empurravam essas histórias para influenciar os eleitores contra os rivais.
A história de Nomadland sobre a busca por conexão e a celebração ao ar livre certamente ressoou de forma diferente em uma época em que muitos estavam confinados em casa.
Da mesma forma, Os 7 de Chicago e Judas e o Messias Negro exploraram momentos históricos sobre turbulência política e racial que parecem extraordinariamente oportunas; Minari celebra a experiência do imigrante por meio de uma família coreano-americana; e Bela Vingança trata de agressão sexual, seguindo os cálculos da indústria do entretenimento após a condenação do produtor (e vencedor do Oscar) Harvey Weinstein por ato sexual criminoso e estupro, e alegações de má conduta contra outros homens famosos.
Mank, por sua vez, é uma retrospectiva em preto e branco do apogeu do cinema, sobre a produção de Cidadão Kane. Anthony Hopkins e Riz Ahmed foram indicados por Meu Pai, um filme baseado em uma peça teatral sobre um homem que sofre de demência e O Som do Silêncio é sobre um baterista que perde a audição.
Analisando as premiações anteriores desta temporada, as quatro categorias de atuação do Oscar têm chances de irem para pessoas negras, o que seria algo sem precedentes na histórica da Academia.
Chadwick Boseman, o já falecido intérprete de Pantera Negra, é o favorito para se tornar o terceiro vencedor póstumo na história do Oscar por A Voz Suprema do Blues – o primeiro desde Heath Ledger por Batman: O Cavaleiro das Trevas, em 2009.
Da mesma forma, Yuh-Jung Youn (em Minari) pode ser a primeira atriz coreana premiada, e a diretora de Nomadland, Chloé Zhao, representaria a primeira mulher de cor a lecar o cobiçado prêmio – ela já venceu o Directors Guild Awards e o Globo de Ouro. Apenas uma mulher, Kathryn Bigelow (por Guerra ao Terror), venceu antes o prêmio de Melhor Diretora.
Outra indicada a atriz coadjuvante, Glenn Close, pode escrver um tipo diferente de história: se ela não ganhar a premiação por Era Uma Vez Um Sonho, empatará com Peter O’Toole com o maior número de indicações ao Oscar (8) sem levar uma estatueta para casa.
Além dessas trivialidades, a missão mais ampla da transmissão deste ano será promover não apenas esses filmes, mas a experiência de ir ao cinema depois de um ano. Para muitos em Hollywood, esse problema foi ilustrado pelo anúncio do fechamento da rede ArcLight Cinemas, obscurecendo o futuro do histórico Cinerama Dome.
Esses fatores prometem um Oscar tão estranho, em alguns aspectos, quanto o ano que o precedeu. O passo lógico depois de ver quem ganha determinado prêmio será, se for do seu interesse, descobrir em qual plataforma de streaming assistir o filme – supondo que você ainda não o tenha assistido.
A cerimônia do 93º Oscar vai ao ar no dia 25 de abril, às 20h (horário de Brasília).
(Texto traduzido; leia o original em inglês)