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    Oposição macrista deve sair vitoriosa das primárias, mas precisa superar clima de Boca x River

    Coalizão oposicionista Juntos por el Cambio tem grande chance de sair como a força política mais votada na Argentina

    Daniel Rittnerda CNN , em Brasília

    Há grandes chances de que a coalizão oposicionista Juntos por el Cambio, do ex-presidente Mauricio Macri (2015-2019), saia das eleições primárias neste domingo (13) como a força política mais votada na Argentina.

    O desafio do grupo, no entanto, será garantir unidade interna para transformar essa força em efetivo favoritismo nas presidenciais de 22 de outubro. Por ora, prevalece o clima de Boca x River entre os dois nomes que disputam, palmo a palmo, o título de candidato definitivo à Casa Rosada: Patricia Bullrich e Horacio Larreta.

    Há dez anos, poucos colocavam Bullrich como uma pretendente ao cargo. Larreta, ao contrário, é o tipo de político que se preparou a vida toda para chegar um dia à cadeira.

    Apesar de pertencerem ao mesmo partido, é comum achar eleitores de um que não suportam as características e as propostas de outro.

    Exilada no Rio de Janeiro durante a ditadura militar na Argentina, ex-deputada pela Cidade Autônoma de Buenos Aires, Bullrich foi ministra de Segurança no governo Macri, mas não fazia parte de seu núcleo político. Depois, assumiu a presidência do Propuesta Republican (PRO), legenda criada pelo ex-chefe e sustentáculo do Juntos por el Cambio.

    Larreta, por outro lado, foi um dos cofundadores do PRO e o auxiliar mais próximo de Macri durante toda sua gestão como chefe de governo
    (uma espécie de prefeito) de Buenos Aires por oito anos. Macri, quando decidiu tentar a Casa Rosada, escolheu o ex-chefe de gabinete como sucessor. Desde 2015, Larreta comanda a capital argentina.

    A relação entre cria e criador, porém, deteriorou-se fortemente nos últimos meses. Mesmo sem declarar abertamente apoio a um dos pré-candidatos do Juntos por el Cambio, Macri deixou vazar à imprensa sua torcida por Bullrich nas primárias.

    A ex-ministra e Larreta estão tecnicamente empatados nas pesquisas. Quando se somam os números de ambos, o total da coalizão opositora supera as intenções de voto do governista Sergio Massa ou de Javier Milei, o ultradireitista antissistema cheio de propostas polêmicas que hoje aparece como terceiro colocado.

    O risco para o Juntos por el Cambio é que muitos eleitores de Bullrich abandonem Larreta caso ela perca as primárias deste domingo. Também soa irrealista que todos os eleitores de Larreta embarquem na campanha de Bullrich se ele sair derrotado nas internas.

    Bullrich é linha-dura nas questões de segurança pública. Do tipo que, se estivesse em São Paulo ou no Rio, defenderia “Rota nas ruas” ou “mirar na cabecinha” para combater a criminalidade. A violência urbana, conforme diversas pesquisas, é a segunda maior preocupação atual dos argentinos — só perde para a inflação, que está acima de 100% ao ano.

    Se ela não estiver mais no pleito, analistas políticos apontam boas chances de que parte de seu eleitorado migre diretamente para a candidatura de Milei, com quem Bullrich tem excelente interlocução. Para esses eleitores, Larreta é visto como alguém fraco e hesitante.

    O prefeito de Buenos Aires é um economista com mestrado em Harvard, de perfil técnico e classificado como um “dialoguista”. Na pandemia, atuou junto com o presidente Alberto Fernández nas questões sanitárias. Defende o liberalismo econômico, mas sem as extravagâncias de Milei, que quer dolarização e extinção do Banco Central.

    Muitos eleitores de Larreta podem preferir a linha “converso com todo mundo” de Sergio Massa, um político fora do círculo próximo da família Kirchner e tido como moderado dentro do peronismo, à postura de Bullrich.

    Para evitar sinais de divisão, Macri providenciou um QG único para celebrar os resultados deste domingo e ungir o escolhido do Juntos por el Cambio, mas palavras de unidade podem soar artificias ao público.

    Um colunista político em Buenos Aires escreveu recentemente que, se Bullrich tornar-se presidente, Larreta pretende pedir um cargo de embaixador da Argentina na Lua — para manter-se bem distante da colega de partido. O inverso é verdadeiro.

    Para superar o peronismo, fragilizado pela crise econômica, mas sempre competitivo, e o sedutor discurso antissistema de Milei, Bullrich e Larreta precisarão um do outro. Mais espírito de equipe, menos Boca x River.

    VÍDEO: Argentina tem eleições primárias no domingo (13)

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