Especialistas debatem sobre vazamento e proteção de dados na internet
Arthur Igreja e Patricia Peck analisam ataque a Bolsonaro e outras autoridades
O vazamento de informações pessoais do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), filhos e aliados colocou em pauta a discussão sobre a segurança de dados na internet. Na terça-feira (2), o ministro da Justiça, André Mendonça, disse que determinou que a Polícia Federal abra inquérito para apurar vazamento de dados do presidente e das demais autoridades.
Em entrevista à CNN, Arthur Igreja, especialista em tecnologia e segurança digital e Patrícia Peck Pinheiro, advogada e PHD em direito digital, analisaram o caso envolvendo a exposição de dados do presidente e comentaram sobre a frequência dos golpes virtuais e a consequência de tais crimes. Para ambos, o meio virtual não é uma ‘terra sem lei’ e rastros são deixados para investigação chegar aos envolvidos.
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Primeira a falar, Patrícia afirmou que outros episódios de vazamentos de dados já colocam dados de autoridades na internet, mas que cada vez mais é necessário investir em leis que garantam a proteção no meio virtual.
“Com toda certeza, a informação deveria estar mais protegida e temos vivido há alguns anos esta crítica no Brasil. Neste episódio é preciso que se faça uma investigação para saber em qual lugar estas informações foram obtidas, se já estavam espalhadas pela própria internet ou algum outro meio. Temos que investir em cibersegurança e avançar nestas proteções pois estamos frágeis”, disse.
Igreja relembrou que ainda no início do mandato do presidente foi sugerido que ele utilizasse telefones protegidos contra ataques, entretanto, o mandatário optou por seguir com os telefones pessoais.
“O que aconteceu agora é um crime e destaco que grande parte dos conteúdos que foram vazados podem ter sido obtidos de outra maneira, mas de qualquer forma é algo muito grave e sensível. E fica uma ansiedade para os próximos vazamentos, mas não é um tema novo”, explicou.
Para os especialistas também é passível de crime quem se aproveitou dos dados divulgados para realizar compras ou outras movimentações financeiras.
“É importante relembrar que quando você utiliza essa informação você já está cometendo crime de dano. Em seguida, por exemplo, conforme eles vão registrando essas ações em sites como os de partidos políticos, você poderá responder por falsidade ideológica. Se você também divulga nas redes sociais admitindo que cometeu o ato, isso também é apologia ao crime. Portanto, nós temos uma série de crimes sendo realizados.”, explicou Patrícia.
Arthur Igreja aproveitou para alertar para o cuidado necessário para a divulgação de dados nas plataformas digitais e afirmou que os ataques ao presidente não vieram apenas de invasões à dispositivos.
“O cidadão precisa se conscientizar que hoje nós deixamos esses rastros digitais em muitos lugares. Existem plataformas que conseguem congregar estas informações formando um verdadeiro ‘big data’ [servidor de dados], inclusive para uso comercial e sendo possível montar um verdadeiro dossiê sobre a pessoa. O Brasil se destaca neste tipo de tecnologia.”
“Pelo que eu analisei [do caso da família Bolsonaro], a impressão que temos é que não foi apenas fruto de vazamentos de dados e sim um somatório de estratégias”, concluiu.
(Edição de Luiz Raatz)