Pela primeira vez, Nasa extrai oxigênio de Marte
Um instrumento do rover Perseverance, que está estacionado na superfície de Marte, conseguiu converter o abundante dióxido de carbono em ar respirável
O Perseverance está estacionado em um mirante, em Marte, para capturar voos do helicóptero Ingenuity nas próximas duas semanas. Isso não quer dizer que o rover está perdendo seu tempo na superfície do planeta vermelho.
Nesta terça-feira (20), o equipamento de exploração converteu com sucesso parte do abundante dióxido de carbono de Marte em oxigênio em um primeiro teste de seu instrumento chamado Mars Oxygen In-Situ Resource Utilization Experiment (MOXIE).
Essa nova tecnologia funciona dividindo as moléculas de dióxido de carbono, que incluem um átomo de carbono e dois átomos de oxigênio. Ele separa as moléculas de oxigênio e emite monóxido de carbono como um produto residual.
O dióxido de carbono passa por um processo de aquecimento de cerca de duas horas e disso é produzido 5,4 gramas de oxigênio. Isso é o suficiente para sustentar um astronauta por cerca de 10 minutos.
O instrumento tem o tamanho de uma torradeira e, se for bem-sucedido, poderá auxiliar na exploração humana de Marte no futuro.
A fina atmosfera de Marte tem 96% de dióxido de carbono, o que não ajuda muito os humanos, que respiram oxigênio.
Portanto, um instrumento que converta esse dióxido de carbono é extremamente útil, não apenas para permitir que humanos respirem em Marte. Versões maiores e melhores de algo como o MOXIE no futuro poderiam converter e armazenar o oxigênio necessário para o combustível do foguete.
Materiais tolerantes ao calor, como um revestimento de ouro e aerogel, foram usados para fazer o instrumento, uma vez que esse processo de conversão requer temperaturas que chegam a 800 graus Celsius. Esses materiais evitam que o calor se irradie e danifique qualquer aspecto do rover.
“Este é um primeiro passo importante na conversão de dióxido de carbono em oxigênio em Marte”, disse Jim Reuter, administrador associado da Diretoria de Missão de Tecnologia Espacial da Nasa, em um comunicado.
“O MOXIE tem mais trabalho a fazer, mas os resultados dessa demonstração são promissores à medida que avançamos em direção ao nosso objetivo de um dia ver humanos em Marte. O oxigênio não é apenas para respirarmos. O propelente de foguete depende do oxigênio e futuros exploradores dependerão da produção de propelente em Marte para fazer a viagem de volta para casa.”
Para lançar quatro astronautas da superfície de Marte de volta à Terra seriam necessários cerca de 7 mil kg de combustível de foguete e 25 mil kg de oxigênio. Vivendo na superfície de Marte, os exploradores espaciais consumiriam muito menos.
“Os astronautas que passam um ano na superfície usarão talvez uma tonelada métrica (de oxigênio)”, disse Michael Hecht, principal investigador do MOXIE no Massachusetts Institute of Technology (MIT).
Transportar tanto oxigênio da Terra para Marte seria incrivelmente difícil e caro e significaria menos espaço na espaçonave para outras necessidades. No entanto, um conversor de oxigênio pesando cerca de 1 tonelada poderia produzir o oxigênio necessário.
Em testes futuros, o MOXIE provavelmente gerará até 10 gramas de oxigênio por hora. O instrumento executará cerca de nove testes nos próximos dois anos, e a equipe de pesquisa usará os dados para projetar as gerações futuras do MOXIE.
Durante a primeira fase, a equipe avaliará como o instrumento está funcionando. Uma segunda fase testará o MOXIE em diferentes condições, como hora do dia ou estações do ano. E durante a terceira e última fase, “vamos inovar”, tentando novos modos de operação ou introduzindo novos desafios, realizando e comparando “operações em três ou mais temperaturas diferentes”, disse Hecht.
Uma tecnologia como o MOXIE pode, portanto, ajudar futuros astronautas a viver em Marte utilizando os recursos locais.
“O MOXIE não é apenas o primeiro instrumento a produzir oxigênio em outro mundo”, disse Trudy Kortes, diretora de demonstrações de tecnologia da Diretoria de Missão de Tecnologia Espacial da Nasa, em um comunicado.
Segundo Kortes, ele pode pegar regolito, uma substância que cobre as rochas, “e colocá-lo em um processador para transformá-lo em uma grande estrutura, ou pegar dióxido de carbono – a maior parte da atmosfera – e converter em oxigênio. Esse processo permite que convertamos esses materiais abundantes em coisas utilizáveis, como propelente, ar respirável ou, combinado com hidrogênio, água.”
Os resultados positivos deste primeiro teste colocam a humanidade mais perto de, um dia, pousar no planeta vermelho.
(Esse texto é uma tradução. Para ler o original, em inglês, clique aqui)