Novo fóssil ‘brasileiro’ homenageia personagem de ‘O Senhor dos Anéis’
O Elessaurus gondwanoccidens remete ao personagem Aragorn, cujo nome na língua élfica é Elessar
Nos cinco eventos conhecidos de extinção em massa da Terra, a vida reapareceu e prosperou após cada desastre. Recentemente, pesquisadores brasileiros descobriram os fósseis de um réptil anteriormente desconhecido do período triássico inicial que fez exatamente isso. E fãs de J.R.R. Tolkien podem reconhecer o nome “Strider”, que batiza o animal que viveu entre 247 a 251 milhões de anos atrás.
A história do fóssil começa com o maior evento de extinção em massa da história conhecida da Terra, há 250 milhões de anos, no final da era do Permiano. O evento de extinção em massa do Permiano destruiu 95% da vida marinha e 70% das espécies terrestres. Ao contrário de outro evento de extinção bem conhecido, o asteroide que causou a extinção dos dinossauros há 66 milhões de anos, a causa da extinção do Permiano ainda não foi totalmente esclarecida. Cientistas acreditam que erupções vulcânicas e um clima quente tenham levado ao evento.
Uma evolução da vida animal aconteceu nos anos após o evento de extinção em massa do Permiano, mas alguns grupos floresceram mais que outros. Entre eles estava uma categoria de répteis chamados arquossauros. Vários subgrupos faziam parte desses répteis predadores nomeados arquossauros: um grupo que comia plantas; outro de répteis blindados semelhantes a crocodilos; e por fim, dinossauros primitivos. Eles prosperaram e se espalharam pelo mundo durante o período Triássico.
Um grupo misterioso desse período, os tanystropheus, intrigam os pesquisadores há alguns anos. Vários espécimes desses répteis de pescoço comprido apareceram ao longo dos anos, geralmente do período Triássico Médio a Tardio em áreas da Ásia, Europa e América do Norte. Meio bizarros, esses répteis tinham pescoço muito longo, com algo entre oito e treze vértebras alongadas. O pescoço comprido era parte de uma espinha alongada, que ia até rente ao chão.
Fósseis de tanystropheus descobertos anteriormente foram encontrados em sedimentos marinhos, sugerindo que eles viviam em corpos d’água. Mas os restos dos primeiros exemplares desses répteis estranhos são incrivelmente raros. Por isso, foi uma surpresa bem-vinda quando os pesquisadores descobriram os fósseis do Triássico Precoce de um réptil de aparência semelhante na Formação Sanga do Cabral, no Rio Grande do Sul. Eles acreditam que o achado seja de um primo, e o parente mais próximo conhecido, do tanystropheu. O estudo foi publicado quarta-feira na revista “PLOS ONE”.
Os pesquisadores nomearam a nova espécie Elessaurus gondwanoccidens. Os fãs da série “O Senhor dos Anéis” de J.R.R. Tolkien podem reconhecer parte do primeiro nome, derivado da língua élfica de Tolkien, chamada quenya. Em quenya, Elessar significa “pedra élfica”. E Elessar Telcontar é o nome escolhido pelo rei Aragorn II – que também usa os apelidos Strider e Passolargo.
Dado o fato de que este réptil tinha pernas longas, os pesquisadores acharam que era um nome apropriado. O nome da espécie, gondwanoccidens, deriva do supercontinente Gondwana, que já incluiu as regiões modernas da Antártica, América do Sul, África, Índia, Península Arábica, Austrália e Nova Zelândia. Em latim, “occidens” significa “do oeste”. Juntas, as palavras que formam o nome da espécie sugerem a localização do fóssil.
De acordo com os pesquisadores brasileiros, uma análise do Elessaurus de pernas longas revelou que provavelmente vivia em terra. O fato de esse primo do tanystropheu viver em terra, e mais ao sul de seu parente misterioso, sugere que Elessaurus se diversificou, se espalhou e evoluiu após a extinção do Permiano. Os pesquisadores agora acreditam que o Elessaurus pode ser o ancestral dos tanystropheus posteriores, que evoluíram para viver nas águas dos continentes do norte.