Onda prolongada de calor na Sibéria gera alerta entre cientistas
Site russo registrou 38º C na região no sábado. Possível recorde de temperatura no Ártico, dado será revisado pela Organização Meteorológica Mundial
Localizada na região russa da Sibéria, a cidade de Verkhoyansk registrou calor de 38º C no sábado (20), segundo indicadores do site de meteorologia local Pogoda i Klimat. A Organização Meteorológica Mundial (WMO, na sigla em inglês), entidade ligada às Nações Unidas, reconhece preliminarmente a temperatura como um recorde nos arredores do Ártico, considerando medições realizadas desde 1885.
“A WMO premilinarmente aceita que foi batido um novo recorde, ainda sendo necessária uma revisão detalhada”, disse, ao jornal americano The Washington Post, Randy Cerveny, que lidera equipe da organização responsável por validar registros.
O possível recorde foi compartilhado por meteorologistas de todo o mundo ao longo deste final de semana e pela ativista sueca Greta Thunberg. Outras máximas acima dos 30º C foram detectadas na região nos últimos dias.
Em maio, as temperaturas registradas na Sibéria estiveram 10º C acima da média histórica, segundo dados do Serviço Copernicus da Mundança Climática (C3S), um programa afiliado à Comissão Europeia, que coleta dados da região desde 1979.
Segundo o cientista climático Martin Stendel, o desvio de temperatura no noroeste da Sibéria no mês passado aconteceria apenas uma vez em 100.000 anos, se não fosse pela mudança climática.
O C3S destaca o prolongamento da alta de temperaturas, que, segundo a entidade, vem superando a média histórica desde janeiro. “É sem dúvida um sinal alarmante”, disse Freja Vamborg, cientista sênior da organização.
A Sibéria tende a apresentar variações significativas de temperaturas a cada mês, mas o C3S considera anormal que as médias estejam consideravelmente mais altas por tantos meses seguidos.
Embora a Terra como um todo esteja aquecendo, o aumento da temperatura não ocorre uniformemente em todo o planeta, disse Vamborg. Segundo a cientista, o oeste da Sibéria se destaca como uma região com maior tendência de aquecimento e maiores variações de temperatura.
Os cientistas dizem que a região do Ártico está esquentando, em média, duas vezes mais rápido que o resto do planeta, como consequência do aquecimento global.
No início deste ano, o Centro Hidrometeorológico da Rússia informou que o país registrou seu inverno mais quente nos 140 anos de história de observações meteorológicas.
Vazamento por degelo
As temperaturas mais quentes já parecem ter impactos negativos.
No início deste mês, o presidente russo Vladimir Putin ordenou estado de emergência na cidade siberiana de Norilsk, depois que 20.000 toneladas de combustível foram derramadas em um rio próximo a partir de uma usina.
Nornickel, a controladora da empresa de energia, disse que a fundação do tanque de armazenamento possivelmente afundou devido a um degelo, destacando os perigos que as temperaturas cada vez mais quentes representam para a infraestrutura e os ecossistemas do Ártico, segundo a agência de notícias estatal russa Tass.
Sergey Verkhovets, coordenador de projetos do Ártico da filial russa do WWF, disse que o incidente levou a consequências catastróficas.
“Veremos os efeitos nos próximos anos”, disse Verkhovets. “Estamos falando de peixes mortos, plumagem poluída de pássaros e animais envenenados”.
No ano passado, incêndios devastaram o Ártico em níveis sem precedentes, intensificando emissões de efeito estufa na atmosfera, segundo estimativas oficiais da Rússia.
(Com informações de Julia Hollingsworth, da CNN)