Helen Mirren quer descartar a ideia de beleza
“Acho que deveríamos começar a dizer ‘personalidade’ em vez de beleza, porque é o que isso realmente é”, diz a atriz britânica vencedora do Oscar
“Eu vivo dizendo que precisamos encontrar outra palavra para ‘beleza’”, disse a Dama Helen Mirren enquanto esperava por sua deixa nos bastidores de um desfile de moda em Paris. “Acho que deveríamos começar a dizer ‘personalidade’ em vez de beleza, porque é o que isso realmente é.”
Na Semana de Moda na cidade no último outono (primavera no hemisfério Sul), Mirren foi a estrela do desfile da L’Oreal no Monnaie de Paris (a Casa da Moeda francesa), onde ela teve a companhia das atrizes Amber Heard, Eva Longoria e Andie MacDowell, além da cantora Camila Cabello. Quando ela finalmente pisou na passarela, Mirren não apenas andou; correu, descalça, com seu vestido Giambattista Valli em ondas atrás dela.
Aos 74 anos, Mirren encarou inumeráveis personagens durante mais de meio século nos palcos e nas telas. Seu primeiro papel foi Cleópatra, em uma montagem de Antônio e Cleópatra quando ela tinha 20 anos. Depois disso, Mirren entrou para a Royal Shakespeare Company, foi do elenco do controverso conto de excessos romanos Calígula nos anos 1980, e se tornou figura recorrente em produções de época — geralmente mais suaves —, incluindo As loucuras do Rei George (1995) e Assasinato em Gosford Park (2001).
Em 2017, na sua primeira Semana de Moda com a L’Oreal, uma colaboração entre a marca de cosméticos e a grife Balmain, Mirren usou calças e cauda em um desfile na movimentada Champs-Élysées.
Um de seus papéis mais conhecidos é o de rainha Elizabeth II, que ela personificou em A Rainha (2006) e deu a ela um Oscar. Sem economizar nas conquistas, Mirren também tem um prêmio Olivier, um Tony, prêmios Emmy e Bafta, uma estrela na Calçada da Fama de Hollywood e foi condecorada pela própria rainha em 2003 por serviços prestados às artes cênicas.
Dado seu poder de resistir, não foi surpresa quando em 2014 a L’Oreal escolheu Mirren como embaixadora de sua linha de cosméticos Age Perfect. Oito anos antes, uma Jane Fonda de 68 anos foi o rosto da L’Oreal, e Susan Sarandon foi anunciada como porta-voz para a Revlon aos 60 (em 2004), mas ainda não é comum que mulheres maduras sejam os rostos de produtos de beleza — apesar de serem um dos públicos-alvo de muitas linhas de cosméticos e skincare.
Talvez de forma incomum para uma embaixadora de uma marca de cosméticos, Mirren disse que não tem uma rotina de beleza. “Gosto de experimentar”, declarou. “Mas eu uso hidratante todos os dias. Me faz sentir bem.”
Este sentimento marca uma mudança de atitude desde que ela ganhou as manchetes há dois anos após afirmar que hidratante “provavelmente ferra tudo”, ao mesmo tempo em que participava de um painel da L’Oreal no Sul da França.
Apesar de suas reservas à palavra “beleza”, Mirren vê o uso profissional de cosméticos como parte-chave de seu trabalho. “Maquiagem e cabelo são algumas das coisas mais importantes para entrar no personagem”, disse. “Eu passo horas no espelho para achar o melhor jeito de entrar no personagem, e claro que a maquiagem é uma boa maneira de fazer isso.”
“Eu estava sendo maquiada hoje e a maquiadora disse algo que achei muito interessante: as sobrancelhas são o que nos dá personalidade”, disse. “Concordo muito com isso para cada personagem que fiz.”
Um de seus looks favoritos de todos os tempos foi cortesia de O Quebra-Nozes e os quatro reinos (2018), no qual ela atuou como Mãe Ginger, a governante do Quarto Reino, repleta de rachaduras no rosto. “Amei aquilo”, disse.
Recentemente, Mirren apareceu junto com Sir Ian McKellen em A grande mentira, e recebeu críticas positivas por seu papel como Catarina, a Grande na série da HBO de mesmo título. Dois personagens bastante diferentes, mas duas protagonistas que exigiam idade e experiência — uma raridade em uma indústria que muitos consideram obcecada com a juventude, especialmente em relação às mulheres.
“Acho que amadureci muito em relação a esse assunto”, disse Mirren sobre suas mudanças de ponto de vista sobre envelhecer. “O que é assustador sobre ser jovem é que você tem todas essas coisas maravilhosas acontecendo, mas junto com isso vem algo terrível: a insegurança.”
“É uma verdade trágica, terrível”, continuou. “Sabe, você não se dá conta disso quando é jovem: que [a juventude] não vai durar para sempre.”
Apesar de nos convocar a agarrar a juventude enquanto pudermos, todas as maiores honras de Mirren como atriz — o Oscar, o Olivier e o Tony — vieram depois dos 60. E ela tem um recado para os jovens que acham que a vida acaba depois dos 40, ou mesmo dos 50.
“O que vem depois”, disse, “é tão emocionante quanto o que acontece quando você é jovem.”