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    Analistas de mercado consideram “infeliz” fala de CFO da Petrobras sobre ações da Vibra

    Em reunião com analistas de mercado, Sérgio Leite afirmou que a venda da companhia - ex-BR Distribuidora - foi um "absurdo" e que ação acima de R$ 1 "está cara"; Braskem também foi alvo de comentários do executivo

    Diego Mendesda CNN São Paulo

    Analistas avaliaram negativamente as declarações do CFO da Petrobras, Sérgio Leite, sobre a Vibra Energia (antiga BR Distribuidora) e Braskem, nesta quinta-feira (11), apesar do tom de brincadeira, segundo fontes.

    Em reunião com analistas de mercado, Leite disse que a estatal não tem interesse na recompra da Vibra e criticou a empresa, dizendo que a ação da companhia acima de R$ 1,00 está cara.

    Sobre a Braskem, ele também disse que não há interesse da Petrobras em estatizar a empresa, mas que poderia ser uma boa estratégia se tiver parceiros para assumir a compra.

    As ações da Vibra não foram impactadas com o episódio, fechando o dia com alta de 0,73%, cotada a R$ 16,60.

    Os papéis da Braskem tiveram uma queda de 3,44%, a R$ 24,13. Porém, este resultado está mais ligado à divulgação do balanço financeiro. A empresa reportou prejuízo líquido de R$ 771 milhões no segundo trimestre de 2023.

    Contudo, agentes do mercado classificaram as declarações como “infelizes” e “deselegantes”.

    “As falas foram infelizes. É muito deselegante falar de uma empresa de outro acionista”, avalia Adriano Pires, comentarista de energia da CNN.

    Vendida há dois anos a R$ 26 por ação,Leite foi questionado se não valeria pensar na recompra da Vibra, agora por R$ 18. A resposta surpreendeu os economistas:

    “Mesmo que a Vibra tiver [a ação] valendo R$ 1, é caro.”

    Um dos analistas que esteve presente no encontro — realizado presencialmente na sede da Petrobras — disse à CNN que Leite “foi debochado” ao falar sobre a Vibra Energia.

    Rodrigo Glatt, sócio da GTI Administração de Recursos, também considerou “infeliz e deselegante” um CFO se pronunciar publicamente a respeito de uma companhia que ele não conhece e tentar, de alguma forma, depreciar a empresa.

    “Ele está correndo um risco de sofrer alguma sanção de algum órgão que rege o mercado de capitais ou por alguma associação. Esse preço que ele disse, de R$ 1, não tem nenhum cabimento. A empresa continua vendendo as ações em torno dos R$ 15,00. É uma companhia pública, séria, com acionistas relevantes, com uma gestão boa, mesmo depois que a Petrobras se desfez das ações há dois anos.”

    Vibra

    Na reunião, Leite foi questionado sobre a venda da Vibra Energia. O analista contou que o CFO respondeu transparecendo um certo arrependimento. “Não que ele tenha tido responsabilidade, pois entrou na Petrobras após esta venda. Mas, Leite enfatizou que a empresa não deveria ter sido vendida. Disse que foi um absurdo e uma venda completamente irresponsável”, relatou a fonte presente no encontro.

    Para essa fonte da CNN, a fala demonstrou que a Petrobras considera o ativo da Vibra importante para a estatal, mas, quando foi perguntado se fazia sentido a recompra, ele mudou o tom e disse:

    “Não faz sentido. Por que a Petrobras colocaria dinheiro em um player que tem um retorno baixo?”

    Nenhum dos analistas que estavam presentes levou a sério essa declaração, uma vez que foi feita em tom de brincadeira, disse a fonte.

    Glatt disse que o mercado chegou a especular que uma das novas aplicações do caixa da Petrobras poderia ser, eventualmente, a compra a Vibra. Coisa que Glatt não acredita. “E depois dessa declaração, ficou claro que a empresa não tem interesse em fazer isso.”

    A Vibra, antiga BR Distribuidora, já era listada no mercado na década de 90. Nesta época, a Petrobras fechou o capital e ficou dentro da estatal.

    Em 2021 a empresa foi aberta novamente e colocada no mercado, realizando duas vendas subsequentes de ações de cerca de 30% da empresa. Glatt lembra que na ocasião fizeram duas ofertas — follow on — e a empresa se tornou privada, com acionistas privados.

    Em novembro daquele ano, a estatal recebeu aval para a venda da participação remanescente de 37,5% no capital social da distribuidora de combustíveis. Hoje, segundo levantamento da TradMap, a Vibra é avaliada em R$ 18,81 bilhões.

    Braskem

    No caso da Braskem, O CFO deixou claro aos analistas que a estatal não quer estatizar a companhia ou comprar uma participação de controle. Mas, ponderou que é uma empresa estratégica.

    Leite citou que faria mais sentido, por exemplo, se outro player estratégico, “como uma LyondellBasell, uma Borealis ou uma Saudi Aramco”, por exemplo, quiserem se tornar parceiras da Braskem. Segundo ele, a Petrobras aceitaria ficar com eles — até em um processo de internacionalização da companhia.

    O presidente da Petrobras, Jean-Paul Prates, disse nesta sexta-feira (11) que a Braskem é uma companhia estratégica e que a estatal enxerga a companhia como relevante dentro do portifólio, mas não pensam em estatizar.

    Após essa fala, voltou a criticar a Vibra e fez uma comparação com a Braskem: “é como comparar vinho com água.”

    Adriano Pires ressaltou que o mercado não levou a sério este contexto, mas pelas normas da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), um CFO da Petrobras não pode falar desse jeito com agentes do mercado financeiro, os sell sides.

    “Ele tem que tomar mais cuidado, pois a Braskem está em um processo de vendas. Nessa hora, não cabe falar as intensões nesse tom de brincadeira.”

    Versão da Petrobras

    Em nota ao mercado, a Petrobras esclareceu que, em relação às notícias divulgadas na mídia, não há decisão da companhia em adquirir qualquer participação no mercado de distribuição de combustíveis.

    “A companhia informa ainda que no presente momento não conduz análises sobre entrada no mercado de distribuição de combustível, não tendo, portanto, opinião sobre valor justo de empresas que atuam nesse segmento. A companhia também esclarece que eventuais aquisições deverão, dentro da governança estabelecida na Petrobras, passar pelos processos de planejamento e aprovação previstos nas sistemáticas aplicáveis, tendo sua viabilidade técnica e econômica demonstrada. Fatos julgados relevantes sobre o tema serão tempestivamente divulgados ao mercado.”

    A CNN entrou em contato com a Vibra Energia, mas não teve retorno até o momento.

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