Partido não define substituto para presidenciável equatoriano assassinado
Andrea González Nader, que formou a dupla para a vice-presidência na candidatura de Fernando Villavicencio, afirmou que decisões serão anunciadas após "algumas horas de luta"
Um dia após o assassinato do candidato a presidente do Equador Fernando Villavicencio na última quarta-feira (9), o seu partido, o Movimento Construye, ainda não definiu um substituto.
“Sobre a eventual substituição de Fernando Villavicencio na votação, será o Movimento Construye quem tomará a decisão final. Ele se comunicará apenas por meio de canais oficiais e porta-vozes”, informou a Construye em comunicado publicado nesta quinta-feira (10) nas redes sociais.
VÍDEO – Veja momento do ataque que matou Fernando Villavicencio
Andrea González Nader, que formou a dupla para a vice-presidência na candidatura de Villavicencio, afirmou que após algumas “horas de luto” serão anunciadas as “decisões pertinentes ao processo eleitoral de 20 de agosto”.
Por sua vez, Diana Atamaint, presidente do Conselho Nacional Eleitoral do Equador, ratificou em entrevista coletiva que as eleições antecipadas serão realizadas em 20 de agosto, conforme planejado, e explicou o procedimento para substituir o candidato presidencial de Construye.
“A organização política pode fazer isso antes mesmo da eleição. E, havendo 100% da cédula binomial impressa, mantém-se e os votos serão computados para sua substituição”, explicou Atamaint.
Entenda o caso
Fernando Villavicencio foi morto na quarta-feira ao ser baleado enquanto deixava um comício político realizado no Anderson College em Quito, capital do país.
A mídia local informou que cerca de 30 tiros foram disparados em um evento no norte de Quito. Vídeos que circulam nas redes sociais mostram Villavicencio entrando em um carro após o evento, antes do som de aparentes tiros e gritos.
Pelo menos 9 pessoas ficaram feridas no ataque, “entre elas o candidato à Presidência e dois policiais”, segundo a Procuradoria Geral do Equador.
A polícia e o Ministério do Interior do Equador não responderam aos pedidos de comentários sobre os detalhes do assassinato, mas o presidente Guillermo Lasso confirmou que a polícia detonou com segurança uma granada deixada pelos assassinos.
“Este é um crime político, que tem caráter de terrorismo, e não temos dúvidas de que este assassinato é uma tentativa de sabotar o processo eleitoral”, disse Lasso em um comunicado em vídeo após a meia-noite, horário local, após se reunir com autoridades eleitorais e de segurança.
VÍDEO – Presidente decreta estado de emergência no Equador após assassinato de candidato
Suspeitos
Um dos suspeitos de assassinar Villavicencio foi morto em Quito na noite de quarta-feira (9), segundo o Ministério Público do país.
O suspeito, que ainda não teve a identidade divulgada, foi atingido durante uma troca de tiros com seguranças pessoais do candidato. Gravemente ferido, ele chegou a ser transferido para a Unidade de Flagrantes de Quito, mas não resistiu.
“Uma ambulância dos bombeiros confirmou a morte dele”, disse o ministério.
O Ministério Público do Equador informou nesta quinta-feira (10) que seis pessoas foram presas durante incursões realizadas nas áreas de Conocoto e San Bartolo, em Quito, em conexão com o assassinato.
Ameaças
Em entrevista na semana passada, Villavicencio havia denunciado que estava sendo ameaçado por um cartel do país.
“Há três dias, um militante de Manabí [cidade do Equador] recebeu visitas de vários mensageiros de Alias Fito [líder do cartel Los Choneros] para dizer a ele que, se eu continuasse mencionando os Los Choneros, eles iriam me quebrar”, expôs no programa Vis a Vis, apresentado pela jornalista Janet Hinostroza, na quarta-feira (2).
Los Choneros são uma organização criminosa do Equador que surgiu em Manabí e é formada por duas gangues chamadas Fatales e Las Águilas. Eles atuam com extorsão, tráfico de drogas e homicídios.
Após a ameaça, Villavicencio disse que não iria suspender sua campanha eleitoral e que iria apresentar uma denúncia contra as ameaças.
Ele também responsabilizou previamente o Los Choneros por qualquer eventual atentado que pudesse ocorrer contra ele, sua família e equipe.
Villavicencio disse ainda, na entrevista, que usava o mínimo da proteção oficial do Estado, mas recusava coletes a prova de balas.
Quem é Fernando Villavicencio
Nascido em 11 de outubro de 1963, em Alausí, Fernando Alcibiades Villavicencio Valencia teve uma intensa trajetória como jornalista e sindicalista ao mesmo tempo em que abraçava a carreira política.
Estudou jornalismo e comunicação na Universidade Cooperativa da Colômbia, na qual se formou e iniciou seus trabalhos como comunicador social. Logo em seguida, iniciou na carreira política como um dos fundadores do Partido Pachakutik, em 1995.
No ano seguinte, começou a trabalhar na Petroecuador, a companhia petrolífera estatal do país. Lá, atuou com jornalismo e logo assumiu posições sindicais. Ele se manteve como um líder dos trabalhadores da companha até 1999, quando foi demitido por uma ordem do então presidente Jamil Mahuad.
Mesmo longe da Petroecuador, continuou denunciando os problemas da companhia, como delitos ambientais e trabalhistas. Ganhou notoriedade como um dos mais ferrenhos críticos do então presidente Rafael Correa.
Em 2017, concorreu e foi eleito a uma vaga na Assembleia Nacional. Ocupou o cargo até maio deste ano, quando o presidente Guillermo Lasso assinou a “morte cruzada”, que resultou na dissolução do parlamento equatoriano.
Crítico do correísmo e do governo Lasso, Villavicencio foi um dos personagens mais visíveis nas denúncias de corrupção nos setores de petróleo, energia, telecomunicações e estruturas criminosas, segundo seu perfil na Assembleia Nacional do Equador.
*Publicado por Douglas Porto