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    Líderes do golpe no Níger têm prazo para ceder o poder e podem enfrentar ação militar

    Comunidade Econômica dos Estados da África Ocidental deu aos militares nigerenses um prazo até este domingo (6) para libertar e restabelecer o presidente deposto do país, Mohamed Bazoum

    Stephanie Busarida CNN

    Os líderes de um golpe no Níger estão firmes enquanto enfrentam um prazo iminente dos vizinhos para desistir do poder ou enfrentar uma possível ação militar.

    O bloco regional da Comunidade Econômica dos Estados da África Ocidental (Cedeao) deu aos militares nigerenses um prazo até este domingo (6) para libertar e restabelecer o presidente deposto do país, Mohamed Bazoum.

    Um dos funcionários do grupo disse que um plano para uma intervenção foi “elaborado”, mas que continua sendo o último recurso. Mas, com o passar do tempo, a possibilidade de uma ação militar está se tornando real.

    Como chegou até aqui

    O Níger fica no coração da região africana do Sahel, que tem visto inúmeras tomadas de poder nos últimos anos, como em Mali e Burkina Faso. Mas o Níger tem sido uma das poucas democracias remanescentes na região.

    A vitória eleitoral do presidente Bazoum em 2021 marcou uma transferência de poder relativamente pacífica, encerrando anos de golpes militares após a independência do país da França em 1960. Mas havia sinais de que a liderança militar do país acreditava que faltava apoio do governo para combater militantes e que um golpe poderia mudar essa campanha.

    O golpe foi lançado no final de julho, quando Bazoum foi tomado por membros da guarda presidencial, antes que as instituições nacionais fossem fechadas e manifestantes de ambos os lados saíssem às ruas.

    O chefe da guarda, Abdourahamane Tiani, foi nomeado o novo líder. O paradeiro de Bazoum não é claro. Em um artigo de opinião para o The Washington Post, ele se descreveu como “refém”.

    Veja: General se apresenta como novo líder do Níger

    A intervenção é provável?

    A Cedeao demonstrou vontade de agir nos casos em que os líderes se recusam a renunciar ao poder ou quando as crises políticas aumentam.

    O novo presidente da comunidade é o novo presidente da Nigéria, Bola Tinubu, que, segundo analistas, fará questão de deixar sua marca e mostrar que não é um ingênuo. Será a primeira crise de sua curta gestão na Cedeao.

    Os meios de comunicação locais relataram na sexta-feira (4) que Tinubu havia escrito para informar os legisladores no Níger, como ele é legalmente obrigado a fazer, sobre a intenção da Cedeao de intervir militarmente no Níger se os líderes do golpe “permanecerem resistentes”.

    O Senegal, uma peça-chave na região, também prometeu tropas, enquanto a ex-potência colonial do Níger, a França, disse que apoiava a posição da Cedeao.

    Após uma reunião do bloco nesta semana, o comissário para Assuntos Políticos, Paz e Segurança, Abdel-Fatau Musah, chamou qualquer opção militar de “último recurso”, mas acrescentou que “todos os elementos que entrariam em qualquer eventual intervenção foram elaborados aqui e estão sendo refinado”.

    Oluseyi Adetayo, especialista em segurança e inteligência, disse à CNN: “A preparação já está em alta velocidade, não há dúvida sobre isso e os militares estão de prontidão.”

    “No meu entendimento, o Níger não vai recuar e fará o que for preciso para devolver o país ao governo civil”, acrescentou.

    “Eles querem que o poder seja devolvido a Bazoum, mas provavelmente isso pode não ser um resultado viável. Eles podem ter que se comprometer fazendo com que a junta deixe o poder, mas sem entregar o então presidente. Alguém neutro pode entrar para comandar um governo de transição”, disse Adetayo.

    A Cedeao já interveio antes

    A última instância notável foi em 2017, quando a Cedeao usou forças militares na Gâmbia para remover o presidente Jammeh, que não queria desistir do poder após as eleições.

    Uma demonstração de força na fronteira obrigou Jammeh a renunciar, levando a uma resolução rápida. Este evento levantou a questão de saber se táticas semelhantes seriam bem-sucedidas na situação atual no Níger.

    O bloco também destacou forças de manutenção da paz, principalmente do país para zonas de guerra como Serra Leoa e Libéria. Mas esta é a primeira vez que ameaça intervir em um golpe – não houve tal resposta após golpes nos vizinhos Mali ou Burkina Faso.

    Por que o Níger

    O Níger tem um enorme significado regional. É o maior país da África Ocidental e uma porta de entrada vital entre o Sahel e o resto do continente.

    A região do Sahel enfrenta desafios de segurança, como terrorismo e insurgência, e o país é um campo de batalha crítico na luta contra o terrorismo e um foco para os esforços de segurança regionais e internacionais.

    Os EUA e a França consideram o Níger um aliado crítico e ambos os países têm bases militares no local.

    O país possui recursos naturais significativos, sendo o urânio seu ativo mais notável, crucial para a energia nuclear e outras aplicações industriais.

    Veja também: EUA, ONU e União Europeia condenam tentativa de golpe no Níger

    Como as pessoas no Níger estão reagindo

    Muitos nigerenses estão divididos – o país passou por vários golpes e ditaduras, mas, ao mesmo tempo, a má governança manchou a ideia de que a democracia é a solução.

    O Níger é um dos países mais pobres do mundo e as pessoas estão sofrendo. Necessidades básicas como comida e abrigo são prioridades.

    Alguns saudaram o golpe. Os protestos viram os nigerenses denunciarem a França e elogiarem a Rússia, cujo Grupo Wagner desempenha um papel de apoio a alguns outros líderes da África Ocidental.

    “Há protestos pró-golpe em todo o país, não apenas em Niamey”, disse à CNN Ali Sounama, um jornalista nigerense.

    “Houve má governança no Níger nos últimos 10 anos, falta de justiça e um sentimento geral de insegurança. Há também escolas e instituições de saúde precárias. Tudo isso levou as pessoas a aceitarem uma mudança de regime”, acrescentou.

    Esse tipo de sentimento sugere que, mesmo que o objetivo declarado seja restaurar a democracia, uma intervenção militar pode não ser bem-vinda em todo o país.

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