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    Análise: Por que os doadores de Trump estão pagando seus honorários advocatícios?

    Comitê de ação política do ex-presidente dos EUA gastou mais de R$ 190 milhões desde o início deste ano para arcar com sua defesa

    Dean Obeidallahda CNN

    Os honorários advocatícios para se defender em um caso podem ser caros – posso dizer isso em primeira mão como ex-advogado. Agora multiplique isso no caso do ex-presidente Donald Trump por duas jurisdições – o estado de Nova York e o tribunal federal da Flórida – totalizando 74 acusações criminais contra ele.

    Trump pode precisar de representação em duas outras jurisdições: em Washington, DC, onde um grande júri federal delibera sobre a investigação do procurador especial sobre os esforços para anular a eleição de 2020, e no condado de Fulton, na Geórgia, onde os promotores estão investigando supostas tentativas de anular a eleição após a derrota do ex-presidente no estado.

    VÍDEO – Ex-funcionários de Trump se tornam alvos da Justiça

    O comitê de ação política de Trump, o Salve a América, gastou mais de US$ 40 milhões (cerca de R$ 190 milhões) em honorários advocatícios desde o início de 2023, disse à CNN uma fonte familiarizada com o assunto.

    O comitê também desembolsou mais de US$ 16 milhões (cerca de R$ 75 milhões) em custos legais no ano anterior, mostram os registros da Comissão Eleitoral Federal. A equipe de Trump diz que o dinheiro está sendo usado para defender o ex-presidente, bem como alguns de seus assessores e aliados.

    “Para combater essas ações hediondas dos comparsas de Joe Biden e proteger essas pessoas inocentes da ruína financeira e evitar que suas vidas sejam completamente destruídas, a liderança do comitê contribuiu com seus honorários advocatícios para garantir que eles tenham representação contra o assédio ilegal”, disse o porta-voz da campanha de Trump, Steven Cheung, à CNN.

    Esses custos legais extraordinários podem ajudar a explicar a reportagem deste fim de semana do The New York Times de que a Salve a América solicitou recentemente o reembolso de uma contribuição de US$ 60 milhões (cerca de R$ 284 milhões) feita a outro grupo.

    Parece que um nome mais adequado ao comitê poderia ser “Salve Trump da prisão”. O ex-presidente se declarou inocente das acusações nos casos estadual e federal.

    Os enormes custos aparentemente se tornaram um problema tão grande que a equipe de Trump está criando um fundo de defesa legal para cobrir as contas crescentes, informou a CNN na noite de domingo (30), citando duas fontes familiarizadas com o planejamento.

    Lembre-se de que Trump começou a arrecadar fundos para o Salve a América após perder a eleição de 2020, buscando – como observou o Times – “doações de pequenos dólares” com base na alegação de que precisava do dinheiro para combater a fraude generalizada na corrida eleitoral. Claro, nenhuma evidência de tal fraude foi encontrada.

    Com o passar do tempo, Trump começou a arrecadar fundos para sua campanha de 2024. No entanto, mais tarde ele começou a desviar uma porcentagem maior de cada dólar que levantou online de seus cofres de campanha eleitoral para o comitê, que está sendo usado para pagar advogados para ele e outras pessoas, de acordo com o Times.

    Como resultado, o ex-governador de Nova Jersey Chris Christie – que também está disputando a indicação presidencial do Partido Republicano para 2024 – recentemente classificou como “vergonhosa” a canalização de dinheiro de Trump que os doadores deram à sua campanha para pagar seus honorários advocatícios pessoais.

    “Ele está indo para homens e mulheres de classe média neste país, e eles estão doando US$ 15, US$ 25, US$ 50, US$ 100 porque acreditam em Donald Trump e querem que ele seja presidente novamente”, disse Christie. “Eles não estão dando esse dinheiro para que ele possa pagar seus honorários advocatícios pessoais.”

    O Times informou que os especialistas em financiamento de campanha estão divididos sobre se Trump pode continuar usando o comitê para pagar suas contas legais pessoais, visto que ele se tornou formalmente candidato presidencial em novembro passado.

    No entanto, Paul Seamus Ryan, especialista em financiamento de campanha, disse recentemente ao The Washington Post que não viu nenhuma “bandeira vermelha legal” com o Salve a América pagando os honorários de Trump.

    O ex-presidente dos EUA Donald Trump. / Jeff Swensen/Getty Images

    “No final das contas, cabe aos doadores decidir se é assim que eles querem que seu dinheiro seja gasto”, disse Ryan ao Post. “Meu sentimento é que se você está dando dinheiro para Trump em 2023, você está bem com isso.”

    Christie e Ryan estão certos. É vergonhoso que Trump esteja usando fundos de pequenos doadores que eles acreditavam que financiariam sua campanha para seus próprios problemas legais pessoais. Mas, ao mesmo tempo, não ouço nenhum apoiador de Trump reclamando que o dinheiro está sendo usado para financiar sua defesa legal.

    Pode ser porque Trump diz repetidamente a seus seguidores – como fez novamente em um comício no sábado (29) em Erie, Pensilvânia – que o sistema judiciário está “armado” contra ele e, em seguida, está vindo atrás de seus apoiadores.

    Trump berrou esse mesmo ponto para a multidão no sábado: “Eles não estão me indiciando. Eles estão indiciando você. Só estou atrapalhando”.

    Ele então acrescentou com grandes aplausos: “Eles querem tirar minha liberdade porque nunca vou deixá-los tirar sua liberdade. Eu não vou deixar isso acontecer.”

    Não sabemos quantos apoiadores de Trump acreditam em suas palavras ultrajantes – quase risíveis. Não estamos lidando com pessoas movidas por fatos – elas são movidas apenas pelo que Trump lhes diz.

    No entanto, de volta ao planeta Terra, até Trump percebe que os dólares de campanha são limitados e preciosos. De fato, durante seu comício no sábado, Trump pediu aos outros candidatos presidenciais do Partido Republicano que encerrassem suas respectivas campanhas e se unissem a ele, declarando: “Cada dólar gasto pelos republicanos em me atacar é um dólar dado diretamente à campanha de Biden”.

    Ele acrescentou que seus concorrentes estão “gastando centenas de milhões de dólares que os republicanos deveriam usar para construir uma operação massiva de coleta de votos” para enfrentar Biden em novembro de 2024.

    Obviamente, o mesmo pode ser dito sobre Trump gastando mais de US$ 56 milhões (cerca de R$ 265 milhões) e contando com doações de campanha para a defesa legal dele e de outros em sua órbita.

    E isso antes mesmo de seus advogados se prepararem para vários julgamentos – que podem ser exorbitantemente caros. Pior para Trump: o presidente Joe Biden levantou US$ 72 milhões (cerca de R$ 340 milhões) em seu primeiro trimestre de arrecadação de fundos desde que anunciou sua candidatura à reeleição em abril – o dobro dos mais de US$ 35 milhões (cerca de R$ 165) que o ex-presidente arrecadou durante o segundo trimestre de 2023.

    É claro que Trump se pintará como a vítima e arrecadará dinheiro de seus apoiadores ao ser indiciado. Mas até Trump sabe que quanto mais gasta com honorários advocatícios, menos tem para sua campanha de 2024.

    A questão é: quanto mais dinheiro os doadores de Trump darão para mantê-lo fora da prisão em vez de ajudar o Partido Republicano a ganhar a Casa Branca em 2024?

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