Exclusivo: Ex-detento russo conta os terrores da guerra à CNN
Correspondente Nick Walsh falou com um sobrevivente do front na Ucrânia e com a mãe de um soldado que morreu no primeiro dia em que participou dos combates
Desde o início da guerra na Ucrânia, a Rússia já enviou cerca de 15 mil homens que foram recrutados nas prisões do país para lutarem na linha de frente. Com um treinamento inadequado e inexperiência de combate, muitos estão morrendo ou voltando para casa gravemente feridos. O correspondente da CNN, Nick Walsh, falou com exclusividade com um sobrevivente, e com a mãe de um dos soldados que foi morto dias depois de ser enviado a guerra. Por questões de segurança, os nomes dos entrevistados foram mudados.
A Rússia é muitas vezes cruel para com os seus cidadãos. Em um destino mais sombrio, detentos são recrutados pelo Ministério da Defesa, basicamente para ser bucha de canhão. Os batalhões chamados “Tempestade Z” têm taxas de mortalidade altíssimas.
Essas são duas histórias raras – uma de sobrevivência e outra de uma morte rápida, contadas à CNN, sob grande risco, de dentro da Rússia.
O ex-presidiário Sergei mal conseguiu voltar. Hoje, ele tem dois empregos… e não consegue dormir por causa do zumbido no ouvido devido às bombas.
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Veja imagens que mostram a destruição da guerra na Ucrânia após cerca de um ano e meio de conflito • 30/06/2023 REUTERS/Valentyn Ogirenko
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Vista mostra ponte Chonhar danificada após ataque de míssil ucraniano, em Kherson, Ucrânia • 22/06/2023Líder da região de Kherson Vladimir Saldo via Telegram/Handout via REUTERS
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Casas inundadas em bairro de Kherson, Ucrânia, quarta-feira, 7 de junho de 2023. • Felipe Dana/AP
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Prédio destruído em Mariupol, na Ucrânia • 14/04/2022 REUTERS/Pavel Klimov
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Área residencial inundada após o colapso da barragem de Nova Kakhovka na cidade de Hola Prystan, na região de Kherson, Ucrânia, controlada pela Rússia, em 8 de junho. • Alexander Ermochenko/Reuters
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Imagens de drone obtidas pelo The Wall Street Journal mostram soldado russo se rendendo a um drone ucraniano no campo de batalha de Bakhmut em maio. • The Wall Street Journal
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Vista aérea da cidade ucraniana de Bakhmut • Vista área da cidade ucraniana de Bakhmut em imagem de vídeo15/06/202393rd Kholodnyi Yar Brigade/Divulgação via REUTERS
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Socorristas trabalham em casa atingida por míssil, em Kramatorsk, Ucrânia • 14/06/2023Serviço de Imprensa do Serviço Estatal de Emergência da Ucrânia/Handout via REUTERS
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A cidade de Velyka Novosilka, na linha de frente, carrega as cicatrizes de um ano e meio de bombardeios. • Vasco Cotovio/CNN
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Crateras e foguetes não detonados são uma visão comum na cidade de Velyka Novosilka, que foi atacada pelas forças russas. • Vasco Cotovio/CNN
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Policial ucraniano dentro de cratera perto do edifício danificado por drone russo. • Reprodução/Reuters
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Rescaldo de um ataque de míssil russo na região de Zhytomyr • Bombeiros trabalham em área residencial após ataque de míssil russo na cidade de Zviahel, Ucrânia09/06/2023. Press service of the State Emergency Service of Ukraine in Zhytomyr region/Handout via REUTERS
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Danos à barragem de Nova Kakhovka, no sul da Ucrânia, são vistos em uma captura de tela de um vídeo de mídia social. • Telegram/@DDGeopolitics
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Vista da ponte destruída sobre o rio Donets • Lev Radin/Pacific Press/LightRocket via Getty Images
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Ataque com míssil mata criança de 2 anos e deixa 22 pessoas feridas na Ucrânia, diz governo • Ministério da Defesa da Ucrânia/Divulgação/Twitter
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Foto tirada por ucraniana após ataques com drones russos contra Kiev. Drones foram abatidos, mas destroços provocaram estragos. • Andre Luis Alves/Anadolu Agency via Getty Images
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Morador local de pé em frente a prédio residencial fortemente danificado durante o conflito Rússia-Ucrânia, no assentamento de Toshkivka, região de Luhansk, Ucrânia controlada pela Rússia • 24/03/2023REUTERS/Alexander Ermochenko
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Soldados ucranianos disparam artilharia na linha de frente de Donetsk em 24 de abril de 2023. • Muhammed Enes Yildirim/Agência Anadolu/Getty Images
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Ataque de mísseis russos atingem prédio residencial em Uman, na região central da Ucrânia • Reuters
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Vista aérea da cidade ucraniana de Bakhmut capturada via drone • 15/04/2023 Adam Tactic Group/Divulgação via REUTERS
A CNN conversou com ele quando ele foi baleado pela segunda vez. Mesmo assim ele foi enviado ferido de volta ao front.
Dos 600 presos recrutados com ele em outubro, apenas 170 estão vivos, e só 2 sem ferimentos.
“Lembro muito bem a última das 9 concussões que tive. Nós atacamos e drones voaram em nossa direção. Nosso comandante gritou pelo rádio: ‘Não me interessa, avancem! Não voltem enquanto não tomarem essa posição!”, relata.
Dois de nós encontramos um pequeno buraco e ficamos lá dentro. Um drone atirou uma granada, que caiu no espaço de 30 centímetros entre a gente. Meu amigo estava coberto de estilhaços, comigo não aconteceu nada. Mas perdi a visão por cinco horas.”
Ele só ficou no hospital – e voltou para casa – porque os médicos fizeram dele um auxiliar.
Sergei afirma que tem pesadelos sobre ter de ser o primeiro a sair da trincheira.
Mas ficar na trincheira também era um pesadelo de frio, fome e sede. “Às vezes não comíamos por dias, não bebíamos por dias. Tínhamos de andar 4 quilômetros até a água. Graças a Deus era inverno e podíamos beber a neve.”
Perguntado sobre o que acontecia se alguém se recusasse a lutar, Sergei responde: “Às vezes, o comandante dá um ‘reset’ nas pessoas. ele acaba com eles, mata”.
Outros combatentes não conseguiram voltar para a contar a história. É o caso de Andrei. Ele tinha 20 anos quando foi preso por tráfico de drogas, e 23 quando foi enviado da prisão para o combate.
O treinamento foi passageiro. Sua mãe, Yulia, disse que ele ainda não tinha virado um homem, que brincava sobre tudo.
“É horrível dizer isso, mas eu já pensava nele como se estivesse morto. Ele foi embora sabendo de tudo. Todo dia eu dizia ‘não, não, não’. Mas ele não me ouviu. Quando ele disse ‘vamos atacar’, eu escrevi para ele ‘Corra, Forest, corra’”, comentou ela.
Yulia não recebeu nada, nem o corpo. Só uma carta dos militares dizendo que Andrei tinha morrido no mesmo dia em que saiu da prisão.
“A parte mais difícil é que eu tinha medo… que ele matasse alguém. Sim, por mais ridículo que pareça, eu tinha medo que ele passasse por tudo isso e voltasse como um assassino. Porque eu consigo viver com meu filho sendo um viciado em drogas, mas assassino… era difícil para mim aceitar isso.”
(Publicado por Fábio Mendes)