Prime Time

seg - sex

Apresentação

Ao vivo

A seguir

    Exclusivo: Ex-detento russo conta os terrores da guerra à CNN

    Correspondente Nick Walsh falou com um sobrevivente do front na Ucrânia e com a mãe de um soldado que morreu no primeiro dia em que participou dos combates

    Da CNN

    Desde o início da guerra na Ucrânia, a Rússia já enviou cerca de 15 mil homens que foram recrutados nas prisões do país para lutarem na linha de frente. Com um treinamento inadequado e inexperiência de combate, muitos estão morrendo ou voltando para casa gravemente feridos. O correspondente da CNN, Nick Walsh, falou com exclusividade com um sobrevivente, e com a mãe de um dos soldados que foi morto dias depois de ser enviado a guerra. Por questões de segurança, os nomes dos entrevistados foram mudados.

    A Rússia é muitas vezes cruel para com os seus cidadãos. Em um destino mais sombrio, detentos são recrutados pelo Ministério da Defesa, basicamente para ser bucha de canhão. Os batalhões chamados “Tempestade Z” têm taxas de mortalidade altíssimas.

    Essas são duas histórias raras – uma de sobrevivência e outra de uma morte rápida, contadas à CNN, sob grande risco, de dentro da Rússia.

    O ex-presidiário Sergei mal conseguiu voltar. Hoje, ele tem dois empregos… e não consegue dormir por causa do zumbido no ouvido devido às bombas.

    A CNN conversou com ele quando ele foi baleado pela segunda vez. Mesmo assim ele foi enviado ferido de volta ao front.

    Dos 600 presos recrutados com ele em outubro, apenas 170 estão vivos, e só 2 sem ferimentos.

    “Lembro muito bem a última das 9 concussões que tive. Nós atacamos e drones voaram em nossa direção. Nosso comandante gritou pelo rádio: ‘Não me interessa, avancem! Não voltem enquanto não tomarem essa posição!”, relata.

    Dois de nós encontramos um pequeno buraco e ficamos lá dentro. Um drone atirou uma granada, que caiu no espaço de 30 centímetros entre a gente. Meu amigo estava coberto de estilhaços, comigo não aconteceu nada. Mas perdi a visão por cinco horas.”

    Ele só ficou no hospital – e voltou para casa – porque os médicos fizeram dele um auxiliar.

    Sergei afirma que tem pesadelos sobre ter de ser o primeiro a sair da trincheira.

    Mas ficar na trincheira também era um pesadelo de frio, fome e sede. “Às vezes não comíamos por dias, não bebíamos por dias. Tínhamos de andar 4 quilômetros até a água. Graças a Deus era inverno e podíamos beber a neve.”

    Perguntado sobre o que acontecia se alguém se recusasse a lutar, Sergei responde: “Às vezes, o comandante dá um ‘reset’ nas pessoas. ele acaba com eles, mata”.

    Outros combatentes não conseguiram voltar para a contar a história. É o caso de Andrei. Ele tinha 20 anos quando foi preso por tráfico de drogas, e 23 quando foi enviado da prisão para o combate.

    O treinamento foi passageiro. Sua mãe, Yulia, disse que ele ainda não tinha virado um homem, que brincava sobre tudo.

    “É horrível dizer isso, mas eu já pensava nele como se estivesse morto. Ele foi embora sabendo de tudo. Todo dia eu dizia ‘não, não, não’. Mas ele não me ouviu. Quando ele disse ‘vamos atacar’, eu escrevi para ele ‘Corra, Forest, corra’”, comentou ela.

    Yulia não recebeu nada, nem o corpo. Só uma carta dos militares dizendo que Andrei tinha morrido no mesmo dia em que saiu da prisão.

    “A parte mais difícil é que eu tinha medo… que ele matasse alguém. Sim, por mais ridículo que pareça, eu tinha medo que ele passasse por tudo isso e voltasse como um assassino. Porque eu consigo viver com meu filho sendo um viciado em drogas, mas assassino… era difícil para mim aceitar isso.”

    (Publicado por Fábio Mendes)

    Tópicos