No Brasil, presidente eleito do Paraguai diz que não há alternativa ao dólar como moeda de reserva
Santiago Peña acredita, todavia, que o cenário é propício para o fortalecimento das trocas em moedas locais na América do Sul
O presidente eleito do Paraguai, Santiago Peña, disse, em evento da FGV, em São Paulo, nesta quarta-feira (26), que não há atualmente alternativa para o dólar como moeda de reserva no comércio internacional.
“Acredito que o dólar segue sendo até hoje a mais importante unidade de reserva. O que temos de ver é onde faz sentido evitar a utilização de dólar”, disse.
Durante a resposta, ele ainda destacou que, em 2017, o Mercosul aprovou regras para facilitar as trocas em moedas locais. O presidente eleito afirmou, contudo, que esse tipo de operação funciona somente entre países com moedas fortes.
“Funciona muito bem entre Paraguai e Brasil, que são países com posições externas fortes, moedas fortes. O que não acontece com a Argentina porque o sistema de compensação segue precisando de uma moeda dura”, disse.
Peña reconheceu que as dúvidas ao redor da moeda americana no período recente, ocasionadas, por exemplo, pelo patamar da dívida dos Estados Unidos. Contudo indicou que ainda não vê alternativa — nem mesmo o yuan chinês.
Ele, todavia, acredita que o cenário é propício para o fortalecimento das trocas em moedas locais na América do Sul.
Guerra do Paraguai
Ao comentar a conjuntura atual e a construção da região, Peña disse que a Guerra do Paraguai foi responsável por atrasar o desenvolvimento econômico do país.
“A guerra levou a gente a enfrentar um desafio que quase eliminou o Paraguai do mapa. Após a guerra, foi impedido o desenvolvimento do Paraguai por quase 150 anos. Acho que agora as coisas começam a mudar”, disse.
A Guerra do Paraguai, ou Guerra contra a Tríplice Aliança, foi o maior e mais letal conflito armado ocorrido na América Latina. Entre 1864 e 1870, Brasil, Argentina e Uruguai, formando a Tríplice Aliança, guerrearam contra o Paraguai liderado por Solano López.
Peña destacou as perdas humanas e territoriais causadas pelo conflito ao país. Estima-se que 75% da população paraguaia tenha morrido nos cinco anos do conflito, seja no front, seja por fome e doenças.
Durante sua fala, ele enumerou oportunidades que o país perdeu de desenvolver sua economia e instituições por conta das cicatrizes do conflito.
Futuro e energia
Para o presidente eleito, contudo, o país possui características que propiciam seu desenvolvimento neste século. Ele ressaltou a pirâmide demográfica favorável em relação aos seus pares e outras características territoriais, como a hidrografia.
Ao comentar a relação com o Brasil, o presidente eleito afirmou que o Paraguai não irá se posicionar como “um pequeno ao lado de um gigante”, mas como “um gigante ao lado de um gigante”.
O presidente eleito disse ainda que as energias renováveis são estratégicas para o Paraguai e para o continente. Ele afirmou que planeja expandir a rede de represas hidrelétricas do país, assim como a geração solar.
Em meio à renegociação do contrato de Itaipu, ele propôs uma mudança de visão, para abandonar a ideia de apenas vender energia, mas buscar caminhos para utilizá-la de maneiras mais eficientes para geração de emprego e renda.