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    Análise: O que o dinheiro diz sobre quais republicanos podem desafiar Trump

    O Comitê Nacional Republicano definiu requisitos mínimos de viabilidade que muitos candidatos estão tendo problemas para cumprir

    Zachary B. Wolfda CNN

    Para qualquer candidato republicano à presidência que não se chame Donald Trump, participar do primeiro debate das primárias no dia 23 de agosto em Milwaukee é um obstáculo essencial a ser superado. É a primeira e, para muitos candidatos, talvez a única oportunidade de fazer com que suas vozes sejam ouvidas no cenário nacional.

    Ainda não se sabe se Trump comparecerá ao debate que será transmitido pela Fox News, mas muitos dos candidatos estão usando a criatividade e forçando a interpretação da lei sobre financiamento de campanhas para conseguirem participar.

    O Comitê Nacional Republicano definiu requisitos mínimos de viabilidade que muitos candidatos estão tendo problemas para cumprir.

    Conversei com Fredreka Schouten, redatora de política nacional da CNN, sobre o que está acontecendo, se é legal ou ilegal, e o que ela pode dizer sobre Trump e outros candidatos com base nos relatórios de financiamento de campanha e nas divulgações financeiras pessoais que contam a verdadeira história.

    Loterias e cartões-presente: como os republicanos estão tentando atrair contribuintes?

    WOLF: Você escreveu sobre as formas criativas pelas quais os republicanos estão tentando chegar a 40 mil doadores. O que eles estão fazendo?

    SCHOUTEN: E o que é que não estão??

    Alguns dos candidatos menos conhecidos tentaram maneiras pouco ortodoxas de cumprir parte das exigências para chegar ao palco do debate republicano em agosto, como a de que devem arrecadar fundos de pelo menos 40 mil doadores únicos (incluindo pelo menos 200 doadores em 20 estados e territórios).

    A oferta que parece ser a mais generosa é a de um Super PAC (comitê de ação política, na sigla em inglês) que apoia a candidatura do prefeito de Miami, Francis Suarez, para a indicação do partido republicano.

    O comitê oferece o que chama de “Francis Free College Tuition”: com contribuições de 1 dólar para a campanha do candidato, pode-se participar de um sorteio de até US$ 15 mil por um ano de mensalidades pagas na faculdade.

    Uma das táticas mais incomuns parece já ter valido a pena. O governador da Dakota do Norte, Doug Burgum, um ex-CEO de software que está financiando sua própria campanha presidencial, ofereceu cartões-presente de 20 dólares a 50 mil doadores em troca de uma contribuição de pelo menos 1 dólar.

    Burgum anunciou no programa “Inside Politics” da CNN desta semana que atingiu o limite de doadores.

    O ex-governador do Arkansas, Asa Hutchinson, por sua vez, adotou recentemente uma ideia apresentada por outro candidato presidencial republicano, o empresário Vivek Ramaswamy, e decidiu oferecer aos angariadores de fundos uma parte do dinheiro que eles ajudarem a arrecadar em seu nome.

    Isso é legal?

    WOLF: Essencialmente, isso é pagar a alguém por uma contribuição política. Como é que isso é legal? Existe um precedente para esse tipo de ação?

    SCHOUTEN: A estratégia suscitou muitas questões. A campanha de Burgum, por exemplo, insiste que já analisou todas as opções possíveis e que sua abordagem é juridicamente correta.

    Entrevistei dois especialistas em financiamento de campanhas que dizem o contrário e argumentam que reembolsar um doador com um cartão-presente pode ser interpretado como uma violação da lei federal que proíbe a prática de fazer doações em nome de outra pessoa. No entanto, isso não é um consenso.

    E, francamente, muitos candidatos correm pouco risco de ter problemas de verdade com os reguladores.

    Alguém poderia apresentar uma queixa à Comissão Eleitoral Federal (FEC, na sigla em inglês), argumentando que o esquema viola a lei. Mas a FEC – que é dividida igualmente entre democratas e republicanos – muitas vezes tem dificuldades para chegar a um acordo sobre as ações de fiscalização.

    Quem participará do debate?

    WOLF: Nesta altura, temos uma ideia concreta de quem se qualificou para o primeiro debate? E Trump já se comprometeu a participar?

    SCHOUTEN: Na verdade, ainda não sabemos quem se qualificou.

    Vários republicanos – o governador da Flórida, Ron DeSantis, o ex-governador de Nova Jersey, Chris Christie e Ramaswamy – dizem ter atingido o limite de doadores.

    Mas há outros obstáculos: os candidatos têm de atingir pelo menos 1% em três pesquisas nacionais, ou em pelo menos duas pesquisas nacionais e duas pesquisas de estados distintos em que há votação antecipada. Portanto, o quadro de pesquisas ainda está ganhando contornos. Vamos aguardar.

    O ex-presidente, que lidera as pesquisas atuais, parece não estar inclinado a participar do debate no mês que vem, mas também diz que ainda não se decidiu. “Quando se tem uma grande vantagem, não se faz isso”, disse Trump sobre o debate durante uma entrevista à Fox News no início desta semana.

    Quem não está conseguindo arrecadações?

    WOLF: Estamos aprendendo muito com os relatórios de captação de recursos. Fiquei surpreso, por exemplo, ao ver no seu artigo que Christie trouxe mais contribuições no recente período de arrecadação do que o ex-vice-presidente Mike Pence. Quais candidatos estão satisfeitos no momento e quais estão desesperados?

    SCHOUTEN: Pence, que arrecadou cerca de US$ 1,2 milhão no segundo trimestre, certamente está com dificuldades para um ex-vice-presidente. Mas isso talvez não seja surpreendente, dada a dimensão que Trump – seu ex-chefe e hoje inimigo – tem na base republicana mais linha dura.

    Os candidatos mais recentes do Partido Republicano, como Hutchinson e o ex-deputado Will Hurd, ainda parecem ter um longo caminho pela frente para garantir o dinheiro necessário para sustentar suas campanhas – ou mesmo para chegar ao palco do debate no próximo mês em Wisconsin.

    Nós nos concentramos um pouco em DeSantis. Ele está em segundo lugar nas pesquisas, atrás de Trump, e arrecadou invejáveis US$ 20 milhões durante o trimestre. Porém, cerca de US$ 3 milhões desse valor é dinheiro das eleições gerais que não pode ser gasto nas primárias.

    E ele gastou dinheiro em um ritmo acelerado, gastando cerca de 40% de sua arrecadação total nas primeiras seis semanas, mais ou menos, depois de entrar na disputa.

    No fim de semana, a campanha confirmou à CNN que reduziu alguns funcionários depois de o Politico ter noticiado que “menos de 10 funcionários” do planejamento de eventos haviam sido cortados.

    (Nosso colega Steve Contorno tem uma excelente matéria sobre a situação da campanha de DeSantis e se há realmente uma grande mudança de estratégia em andamento).

    Trump ganhou quase US$ 1 bilhão desde que deixou o cargo

    WOLF: Você também escreveu sobre os quase US$ 1 bilhão que Trump e sua esposa Melania declararam, em recentes divulgações financeiras, que geraram como renda desde que deixaram a Casa Branca. Como Trump ganha dinheiro hoje em dia?

    SCHOUTEN: O ex-presidente tem interesses comerciais que abrangem o mundo todo, de campos de golfe a acordos de licenciamento. Isso não mudou.

    Pessoalmente, o que achei interessante na recente divulgação foi a lucratividade de algumas de suas palestras.

    Trump ganhou US$ 2,5 milhões para fazer comentários de celebridades em uma luta de boxe pay-per-view, por exemplo. Entretanto, Melania Trump recebeu US$ 155 mil para fazer um discurso em 2021 para um Super PAC pró-Trump – algo que não tinha sido claramente divulgado nos registros do Super PAC na época.

    O que está acontecendo com Biden?

    WOLF: A CNN informou na semana passada que alguns democratas estão nervosos com a seriedade com que o presidente Joe Biden está levando sua campanha de reeleição. O que os dados de captação de recursos sugerem?

    SCHOUTEN: A arrecadação de Biden – quando combinada com a do Comitê Nacional Democrata (DNC) – é de cerca de US$ 72 milhões no trimestre, de acordo com o anúncio de sua campanha.

    Trata-se de uma quantia respeitável, embora aquém do ritmo estabelecido pelo presidente Barack Obama e pelo DNC nesta altura da reeleição de Obama.

    Os registros, no entanto, mostram que Biden gastou muito pouco dinheiro, o que irá certamente aumentar a angústia de alguns democratas quanto à sua preparação para a reeleição.

    Em 30 de junho, por exemplo, ele tinha apenas quatro funcionários na folha de pagamento da campanha. (DeSantis, por outro lado, tinha cerca de 90 pessoas em sua equipe de campanha).

    Possivelmente atenuando as preocupações dos democratas: como presidente em exercício, o DNC pode atuar em apoio à sua reeleição – portanto, a equipe e os recursos do partido beneficiam Biden. E ainda há um campo lotado de republicanos que terão de lutar entre si nos próximos meses pelo direito de enfrentar Biden no próximo outono.

    Como este relatório é feito?

    WOLF: Por fim, como a CNN reporta esses dados? Fico sempre impressionado com os detalhes que você e nossos colegas, como David Wright, descobrem nesses relatórios. Quais são as linhas gerais de sua atuação e quais são os novos desafios nestas eleições?

    SCHOUTEN: Com muito café e pouco sono.

    Bem, falando sério, temos um plano para cada dia de arquivo sobre as histórias que temos de seguir. O David geralmente fica atento aos relatórios que chegam dentro do prazo e pega os números mais importantes que ajudam a mostrar o panorama geral, enquanto eu posso me aprofundar um pouco mais nos registros individuais.

    Temos de estar muito atentos a todas as notícias de última hora que vemos nos relatórios e, muitas vezes, escrevemos matérias individuais sobre acontecimentos interessantes.

    Um dia depois, normalmente publicamos um artigo sobre as principais conclusões para dar ao nosso público uma ideia de todas as principais manchetes das corridas presidencial e para o Congresso.

    E depois investigamos um pouco mais.

    Felizmente, uma colega da equipe de dados visuais da CNN, Alex Leeds Matthews, juntou-se a nós para fazer mais análises de dados. Sua avaliação dos números gerou um gráfico interessante publicado no início desta semana que detalha o quanto a campanha de Trump se beneficiou financeiramente de seus problemas legais neste ano.

    Um dos desafios desta eleição é o grande número de candidatos presidenciais republicanos – e seus Super PACs alinhados que iremos acompanhar – juntamente com o uso crescente do chamado “dinheiro obscuro” – ou dinheiro não divulgado – envolvido em campanhas de ambos os lados do corredor político.

    Em cada ciclo eleitoral, os candidatos e seus aliados encontram uma nova maneira de arrecadar e gastar dinheiro, e precisamos encontrar novas maneiras de rastreá-lo.

    David acrescentou esta observação importante que resume por que as noites sem dormir valem a pena: “A política é repleta de reviravoltas e pode ser difícil obter dados confiáveis, mas o dinheiro – quem tem, quem não tem e como ele é gasto – geralmente conta a história.”

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