Ícone queer, retiro budista e volta por cima com Ryan Gosling, conheça a história do Ken
Incompreendido pelos fãs da Barbie, o boneco tem uma linha do tempo repleta de altos e baixos; conheça
“Barbie”, que se tornou o filme imperdível do verão, já melhorou consideravelmente a percepção cultural da estrela loira homônima e a tornou relevante para uma nova geração mais de 60 anos após sua estreia nas lojas de brinquedos.
Mas o slogan do filme imediatamente diminui Ken, seu fiel parceiro de aventuras com abdômen definido, como um pedaço menos relevante de plástico: “Ela (Barbie) é tudo. Ele é apenas o Ken.”
Enquanto as marcas estão lançando colaborações com “Barbie” e cinéfilos disputam lugares nas sessões de cinema, a influência de Ken se limita a memes. Mesmo no mundo real, Ken ainda é só o acompanhante. (A Warner Bros., que está por trás de “Barbie”, compartilha a mesma empresa-mãe, Warner Bros. Discovery, com a CNN.)
Mas quem é Ken, realmente, além de ser o namorado de vez em quando de Barbie e um acessório não essencial?
Vamos explorar a história da contraparte masculina de Barbie, desde suas origens como Kenneth Carson até sua tumultuada separação de Barbie na metade dos anos 2000 e seu renascimento, via Ryan Gosling, na tela grande.
11 de março de 1961: Quando Ken conheceu Barbie
Ken (diminutivo de Kenneth Carson) chegou às prateleiras de brinquedos como o namorado comprável de Barbie dois anos após sua estreia em 1959. Ele estava disponível em dois modelos — cabelo loiro ou castanho, feito de plástico duro — e vestia sunga vermelha muito curta. Custava $3.50 e compartilhava o nome com o filho da criadora de Barbie, Ruth Handler.
O par de plástico se conheceu durante a filmagem do primeiro comercial no mesmo ano, segundo a Mattel. Barbie, a “famosa boneca modelo adolescente”, participava de um baile em um vestido elegantemente chique e estola de pele, com seu característico rabo de cavalo alto. Ken a observava à distância de smoking. (A dança era supostamente ambientada em Willows, Wisconsin, sua cidade natal canônica.)
Foi amor à primeira vista. “De alguma forma (Barbie) sabia que ela e Ken ficariam juntos”, disse o narrador no anúncio original de 1961 que os uniu. Eles frequentariam festas de fraternidade (Barbie era estudante universitária), piqueniques e, é claro, inúmeras viagens à praia. O narrador onisciente até provocou um casamento entre os dois.
Mas Ken não era exatamente popular ou considerado essencial entre os colecionadores fanáticos de Barbie. Em seu livro “Forever Barbie: The Unauthorized Biography of a Real Doll”, M.G. Lord escreve que Ken era um “bobão com genitália seriamente abreviada que não era muito importante na vida de Barbie”. Ele teria uma batalha difícil para provar seu valor aos consumidores — e à sua namorada de brinquedo.
Décadas de 1970 a 1990: Ken tenta ser moderno
Mesmo com uma companheira sempre na moda como Barbie, Ken nunca conseguiu realmente acertar quando se tratava de estilo pessoal, embora ele certamente tenha tentado. Ele estreou várias aparências que só teriam funcionado em suas respectivas décadas e, mesmo assim, nem sempre conseguiu sustentar os looks com sucesso.
Ken de Cabelo Moderno: um boneco tipicamente dos anos 70 com uma enorme cabeleira, costeletas extra longas e pelos faciais bônus para misturar e combinar. Ele vestia uma blusa de gola alta branca e um blazer xadrez marrom e branco.
Ken do Encontro dos Sonhos: esta versão de 1982 do visual do “smoking de dança” de Ken em 1961 o apresentava de cabelos pretos em uma camisa de linho e faixa rosa claro por baixo de um paletó preto com uma rosa (também rosa) presa na lapela. Ele se vestiu para impressionar a Barbie do Encontro dos Sonhos, que chegou para o date com um vestido cheio de babados. Esta foi uma das raras roupas em que ele ofuscou Barbie.
Ken Cabelo Totalmente Irado: Ele tinha a aparência que o nome sugere — este Ken dos anos 90 vinha com uma juba longa e desarrumada, gel de cabelo de verdade e um pente pequeno que os donos podiam usar para estilizá-lo como quisessem. (Sua Barbie correspondente vinha com um penteado mais bem-sucedido, com cabelo ondulado.) Claro que ele usava algo absurdo, optando por calças roxas bufantes e uma camisa colorida com gola levantada.
Fevereiro de 1993: Earring Magic Ken se torna um ícone LGBTQIA+ acidental
Ken há muito tempo era alvo de piadas daqueles que faziam suposições sobre a sexualidade ou masculinidade do boneco com base em seu guarda-roupa e relação com Barbie. Em 1993, o boneco entrou no discurso que o rodeava por acidente com um novo visual “mais descolado” — o Earring Magic Ken.
Este Ken usava uma camiseta de rede que revelava seu abdômen sob um colete lilás sem mangas e um pingente de anel em seu pescoço, junto com um brinco em sua orelha esquerda. (O boneco foi lançado em uma época em que “brincos em homens ainda eram considerados uma curiosa quebra de gênero”, segundo a Sociedade Histórica de Nova York.)
O que a Mattel provavelmente não antecipou foi o quanto o Ken se tornaria popular entre os consumidores LGBTQIA+. O colunista LGBTQIA+ Dan Savage, dos Estados Unidos, observou que o guarda-roupa do Earring Magic Ken se assemelhava a trajes vistos em festas gays alguns anos antes (pelo visto Ken não acompanha as tendências). E para muitos que viram o boneco, o colar com anel em seu pescoço se parecia com um certo brinquedo sexual popular entre homens heterossexuais e gays.
“Queer Ken é o ponto alto, dependendo do seu ponto de vista. Seja da infiltração queer na cultura popular ou da apropriação desconsiderada da cultura queer por heterossexuais”, escreveu Savage após o lançamento do boneco.
A Mattel se apressou para retirá-lo das lojas, mas não antes que Savage e milhares de outros fãs comprassem os seus próprios. Mesmo que a empresa negasse que ele tenha sido projetado com homens gays em mente, foi um dos poucos brinquedos mainstream na época que conquistou os consumidores LGBTQIA+. Ken passou a próxima década sendo mais conservador.
13 de fevereiro de 2004: Barbie e Ken se separam
Foi o rompimento de celebridades que ninguém viu chegando, exceto talvez quem fazia previsões da indústria de brinquedos.
Barbie e Ken estiveram juntos por mais de 40 anos, nos fim das contas — eles permaneceram apaixonados mesmo enquanto se mudavam de casas dos sonhos, dirigiam dezenas de conversíveis e mudavam de carreira inúmeras vezes. Mas as vendas de Barbie estavam em declínio em 2004 — isso foi quando as bonecas de lábios carnudos e roupas sensuais, as Bratz, reinavam supremas — e isso pareceu afetar o relacionamento entre o casal central da Mattel.
Dias antes do Dia dos Namorados, o porta-voz da Mattel, Russell Arons, anunciou que Barbie e seu “brinquedo-menino” haviam decidido “passar um tempo de qualidade — separados”. (O New York Times relatou que a separação foi ideia de Barbie.) A declaração chocante veio naquele momento porque Barbie “não queria passar um feriado romântico sob falsos pretextos”, disse Arons à imprensa.
E no mesmo dia em que anunciou a separação dramática, a Mattel também revelou que estaria produzindo uma linha de Barbies Cali Girl, garotas surfistas que, notavelmente, estavam solteiras. (A Mattel também anunciou um novo interesse amoroso para a recém-solteira Barbie — Blaine, um surfista com mechas loiras marcantes.) Ken oficialmente entrou na “zona de amizade”.
9 de fevereiro de 2006: Ken passa por uma renovação
Desesperado para reconquistar Barbie, Ken fez uma busca interna. O New York Times relatou que o boneco viajou pela Europa e pelo Oriente Médio e explorou o budismo e o catolicismo para se reinventar. Ao retornar aos Estados Unidos, ele abandonou o espiritualismo e concentrou-se novamente na moda, recorrendo ao estilista de celebridades Phillip Bloch para orientação.
A Mattel introduziu um “novo e aprimorado” boneco Ken quase dois anos depois do seu rompimento com Barbie. O novo Ken, disponível novamente em loiro e castanho, vinha com calças cargo, uma jaqueta de couro e colares de corrente grossa. (É claro, também havia um conjunto de roupas adequadas para a praia.) Ele também tinha um contorno de mandíbula visivelmente mais nítido e um olhar mais suave para lhe conferir uma aparência mais “despreocupada”. O objetivo, segundo Bloch, era garantir que Ken estivesse “arrasando”, e Matthew McConaughey e Orlando Bloom foram a inspiração.
“Ken revolucionou sua vida — mente, corpo e alma”, disse Bloch em um comunicado aos repórteres. Levaria um pouco de tempo para os consumidores aderirem.
18 de junho de 2010: Ken e Barbie se reúnem em ‘Toy Story 3’
Estrelando ao lado de Woody e Buzz Lightyear, os bonecos apareceram na aclamada sequência da Pixar, que foi indicada ao Oscar de melhor filme. Na animação, Barbie e Ken vestiram looks direto dos anos 70 e 80, com Barbie em seu collant de aeróbica e polainas e Ken em seu echarpe (Michael Keaton forneceu a voz dele).
No filme, seus personagens ainda não se conheciam, mas imediatamente se apaixonaram — e fazer o filme aproximou Ken e Barbie mais do que tinham estado desde a separação. Ken recuperou seu ritmo — a Mattel disse que estrelar o filme o ajudou a “encontrar sua voz na cultura pop” e finalmente aceitar a persona amorosamente maluca que ele havia cultivado um pouco por acidente.
14 de fevereiro de 2011: Ken reconquista Barbie
Pouco antes do Dia dos Namorados, painéis começaram a aparecer em Nova York e Los Angeles, aparentemente encomendados por Ken, implorando por Barbie de volta com apelos românticos como “Barbie, podemos ser de plástico, mas nosso amor é real”.
A pressão inexplicavelmente funcionou, e Barbie aceitou Ken de volta no Dia dos Namorados de 2011. O casal anunciou a notícia ao alterar seus status no Facebook para “em um relacionamento”, relatou a CNN na época. (Isso, depois que a Mattel pediu aos usuários do Facebook para votar se eles deveriam voltar a ficar juntos.) Para monetizar sua reunião, a Mattel lançou um conjunto “Juntos Novamente” de Barbie e Ken reunidos, a primeira vestindo uma versão atualizada de seu icônico maiô preto e branco e o último usando uma versão de shorts de sua ligeiramente menos icônica sunga vermelha diminuta.
20 de junho de 2017: Ken se torna como todos os homens
Os dias de Ken como um boneco branco e tipicamente loiro terminaram em 2017, quando a Mattel finalmente lançou uma linha inclusiva de Kens em uma variedade de cores de pele, estilos de cabelo e tipos de corpo. Dois deles até usavam coques masculinos!
Desde 2017, a Mattel continuou a lançar mais versões de Kens, incluindo bonecos de pele escura e cabelo natural, outros com vitiligo e alguns que usam cadeiras de rodas.
15 de junho de 2022: O Kenaissance começa
Ryan Gosling em “Barbie” Quando a conta do Twitter da Warner Bros. Pictures compartilhou a primeira foto de Ryan Gosling, com loiro platinado e pele bronzeada, sorrindo em um colete jeans sem mangas, Ken ascendeu a um novo nível de celebridade. Gosling havia sido escolhido para estrelar como o galã no filme “Barbie”, dirigido por Greta Gerwig, e essa foi a primeira dica substancial que os fãs tiveram do Ken versão live-action.
Alguns dias depois que a foto oficial deixou os fãs em frenesi, fotos de paparazzi de Gosling e Robbie patinando na Venice Beach com roupas esportivas neon dos anos 90 surgiram online e reforçaram ainda mais que esse seria o evento cinematográfico imperdível de 2023.
Também ajudou que Gosling tenha dado inúmeras entrevistas com um tom tranquilo, enfatizando sua “Energia Ken” recém-descoberta nos preparativos para a estreia do filme em julho de 2023, mergulhando cada vez mais no personagem conforme a turnê de imprensa se desenrolava.
“Agora me importo com esse cara”, disse Gosling à GQ em maio. “Sou tipo o representante dele.”
Mas Gosling também usou sua plataforma, como muitos antes dele, para criticar publicamente Ken.
“Ken não tem dinheiro, não tem emprego, não tem carro, não tem casa”, Gosling disse à ET em 2022 enquanto promovia um filme que não tinha o Ken. “Ele está passando por algumas coisas.”
Em julho, Gosling foi ao “The Tonight Show” para promover esse filme sem Ken e mais uma vez direcionou a conversa para Ken. “Ninguém brinca com o Ken, cara”, Gosling disse ao apresentador Jimmy Fallon. “Ele é um acessório, e nem mesmo um dos legais.”
Trechos do filme parecem apoiar a visão de Gosling, mostrando seu Ken derramando lágrimas reais em uma pele falsa de vison por causa do desinteresse de Barbie antes de começar a cantar: “Sou apenas o Ken — em qualquer outro lugar eu seria um 10”, ele entoa para ninguém.
Quem viu “Barbie” sabe como a história de Ken termina no filme. Com Gosling transformando um personagem sofredor na estrela de destaque de um filme aclamado, uma sequência protagonizada por Ken é quase inevitável.