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    Abin aponta youtuber como suspeito de ajudar integrantes de acampamentos a sair do DF

    Em vídeos, João Salas mostra comprovantes de passagens compradas em 10 de janeiro e divulga um número de telefone como chave Pix para o recebimento das doações

    Pedro NogueiraMarcos AmorozoTaísa Medeirosda CNN , Brasília

    Relatório da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) aponta que o empresário e youtuber João Victor Oliveira Araponga Salas transmitiu vídeos, entre 10 e 11 de janeiro, para arrecadar recursos e custear passagens de ônibus para que integrantes dos acampamentos em frente ao quartel-general do Exército, em Brasília, deixassem a capital federal.

    O documento foi enviado à CPMI do 8 de janeiro e obtido pela CNN. João Salas participou da invasão à sede dos Três Poderes, em 8 de janeiro, e também da tentativa de invasão da sede da Polícia Federal (PF) em 12 de dezembro, dia da diplomação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

    Nos vídeos, divulgados em sua conta no Instagram, João Salas mostra comprovantes de passagens compradas em 10 de janeiro e divulga um número de telefone como chave Pix para o recebimento das doações. Ele ainda disponibilizou uma conta no PayPal para receber dinheiro do exterior.

    De acordo com a Abin, João Salas “repercute notícias falsas referentes ao pleito eleitoral de 2022 e à detenção de pessoas em decorrência dos atos de 8 de janeiro” nas redes sociais. Em dezembro, Salas teve suas contas no Twitter e YouTube restringidas por decisão judicial, mas, no Instagram, ele segue ativo.

    Depois de ter as contas bloqueadas, João Salas passou a divulgar seus conteúdos na plataforma de mídia social Gettr, criada por Jason Miller, ex-auxiliar e porta-voz de Donald Trump, que é muito usada por influenciadores de extrema direita.

    Apesar de a conta no Instagram ainda ser ativa e Salas postar stories com frequência, existe apenas um post fixo no feed com a frase “um novo tempo”, de 29 de março de 2023. Todo conteúdo anterior ao dia dessa postagem foi apagado, incluindo os posts relacionados aos acampamentos no QG do Exército.

    A atuação de Salas chamou a atenção da Abin e da própria CPMI. Há um requerimento para convocá-lo a comparecer como testemunha na Comissão. A ideia é descobrir se Salas investiu apenas recursos próprios no financiamento dos atos antidemocráticos ou se ele teve acesso a algum outro tipo de fonte, como recursos públicos, para custear os protestos e apoio aos presos.

    Um membro da comissão ouvido pela CNN afirma que o ato de financiar atos antidemocráticos com recursos próprios já seria crime, mas trazer também recursos dos cofres públicos poderia ser um agravante.

    Além de estar envolvido nos atos investigados pela CPMI, João Salas também foi um dos organizadores de um ato em defesa da decisão do então presidente Jair Bolsonaro (PL) de conceder indulto ao deputado federal Daniel Silveira (PTB-RJ), condenado pelo plenário do STF a 8 anos e 9 meses de prisão. Salas contratou um dos carros de som da manifestação.

    João Salas também disputou duas eleições. Em 2022, ele foi candidato a deputado distrital pelo Partido Trabalhista Brasileiro (PTB) e recebeu 242 votos. Em 2018, concorreu ao mesmo cargo pelo Republicanos, recebendo 161 votos.

    Em depoimento à CPMI no dia 26 de junho, o ex-comandante da Polícia Militar do Distrito Federal, Jorge Eduardo Naime, ao relatar sobre planejamento para desmobilizar o acampamento em frente ao Quartel General do Exército, em Brasília, mencionou Salas por eventuais crimes cometidos na época. Segundo Naime, que está preso desde fevereiro na Academia Militar do Distrito Federal, em 28 de dezembro foi feita uma reunião com o Comando Militar do Planalto (CMP).

    No dia 29, conforme relatou o ex-comandante, uma tropa de 450 policiais militares estava à disposição para desmobilizar o acampamento. Naime disse que, a essa altura, a PM já havia recebido informes da Polícia Civil a respeito de ocorrências dos crimes no acampamento. “Nesse período, vazou um vídeo na internet onde um senhor chamado Renan Sena acusava um outro líder de manifestação, (…) João Salas. Ele teria inclusive cometido estupro dentro do acampamento. E quando a gente recebia essas notícias, a gente fazia intervenções junto do Exército para que a gente tentasse mobilizar aquele acampamento”, relatou.

    A reportagem entrou em contato com Salas. A respeito da verba arrecadada para a compra das passagens, ele afirma que todo o recurso foi angariado por meio de doações. “Eu ajudei a comprar passagem com o dinheiro que o pessoal doou, porque eu mesmo não tinha dinheiro. Foi para comprar para o pessoal que saiu da PF e depois do pessoal que estava preso e começou a ser liberado. Na hora que abrir minhas contas vai ver que eu não tinha dinheiro pra nada”, disse.

    As contas das redes sociais de João Salas foram bloqueadas em dezembro, por decisão do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). Na época, Salas perdeu o acesso ao Twitter, YouTube e Instagram — mas, apesar do bloqueio, o youtuber e empresário segue ativo na rede social. Ele relatou que não mantém mais vínculo com os apoiadores do QG.

    “Eu saí de tudo isso. Perdi muitas coisas, perdi um tempo precioso com a minha família. Faz muito tempo que nem toco nesse assunto, se eu trago um assunto desses dentro de casa só me gera desgaste. Me afastei de tudo”, afirmou.

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