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    As donas da bola: Existe desigualdade de gênero no futebol?

    Mulheres ainda lutam por reconhecimento, mais visibilidade e igualdade salarial no futebol. Copa do Mundo de Futebol Feminino começou nesta quinta (20) na Austrália e Nova Zelândia.

    Letícia Vidica

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    Imagine você: um homem e uma mulher que exercem a mesma função deveriam ganhar o mesmo salário e ter a mesma visibilidade, não é? A resposta mais óbvia seria sim.

    Afinal, na teoria, a regra é clara: a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) proíbe essa diferença salarial se a atividade exercida é a mesma. Mas nem tudo que é teoria se aplica na prática. Ainda tem muita gente “jogando” fora dessas quatro linhas.

    E pode isso?!

    No Brasil, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), as mulheres ainda recebem 22% menos do que os homens! Uma mulher ganha em média 78% do salário de um homem no país. E esse “chocolate” na desigualdade de gênero acontece também dentro e fora de campo. Uma realidade que atinge também a nossa maior paixão nacional: o futebol.

    A Copa do Mundo de Futebol Feminino, que começou na sexta-feira (20) na Austrália e Nova Zelândia, acende uma velha discussão: a desigualdade no esporte.

    Ser hoje uma jogadora de futebol no Brasil não é uma tarefa fácil. Para conseguirem reconhecimento, as jogadoras seguem dando muito “chapéu” no preconceito, na discriminação e na desvalorização salarial.

    Um exemplo claro disso é que as jogadoras ainda não são remuneradas e patrocinadas da mesma forma que os jogadores.

    A nossa craque Marta, por exemplo, eleita seis vezes a melhor jogadora do mundo pela Fifa, chega a ter ganhos anuais de US$ 400 mil — de acordo com um levantamento do jornal espanhol “Marca”.

    Já Neymar, outro craque do futebol brasileiro, mas que nunca foi eleito melhor jogador do mundo, teve ganhos anuais apontados por um levantamento da “Forbes” que beiram US$ 50 milhões de dólares por ano.

    Até mesmo, as premiações entre as seleções masculina e feminina ainda não estão em pé de igualdade. No Mundial Feminino deste ano, a FIFA vai distribuir US$ 150 milhões entre as equipes – um valor que já é maior do que foi pago em 2019 – mas ainda bem menor o que os US$ 440 milhões pagos no Mundial Masculino no Qatar.

    Em terras tupiniquins, um dos motivos para essa desigualdade entre homens e mulheres no futebol, tem explicação na lei. Isso porque, na década de 40, o futebol feminino foi proibido no Brasil.

    Um decreto do governo Getúlio Vargas dizia que a prática não condizia com a “natureza” da mulheres! E, somente em 1983, 40 anos atrás, a prática entre mulheres foi regulamentada e a primeira Copa do Mundo Feminina só veio ocorrer em 1991, enquanto a masculina já ocorria há 60 anos (primeiro torneio aconteceu em 1930). Parece até coisa de jogador “catimbeiro” né?

    E, como frágil não é sinônimo de mulher e guerreiras brasileiras não fogem à luta, nesses últimos anos, as jogadoras tiveram e ainda seguem “fintando” muito o adversário em busca de igualdade, reconhecimento e do seu merecido lugar ao sol.

    Importante lembrar que, até 2015, a seleção feminina não tinha uniforme próprio e jogava com modelos adaptados do time masculino. E, parece que finalmente, não será mais preciso chamar tanto o VAR (árbitro de vídeo) para mostrar que o adversário está “cavando uma falta”.

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    Para tentar driblar essas desigualdades, algumas ações começaram a ser feitas. A FIFA prometeu igualar os valores pagos para as seleções feminina e masculina nos próximos mundiais. Em 2020, a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) equiparou as diárias e premiações pagas a homens e mulheres nas convocações.

    No ano passado, a Federação de Futebol dos Estados Unidos anunciou uma decisão história, pagando de forma igualitária as duas seleções masculina e feminina e compensando financeiramente até ex-atletas pelos anos de desigualdade de gênero.

    O atual presidente da CBF, Ednaldo Rodrigues, disse que valorizar o futebol feminino é uma das prioridades da sua gestão.

    Aqui, fora de campo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) sancionou uma lei, em julho deste ano, que prevê a igualdade salarial e de critérios remuneratórios entre ambos os sexos. Reforçando, mais uma vez, o que já diz a CLT: homens e mulheres não podem ter salários diferentes se exercem a mesma função.

    Enquanto isso, nós — os jogadores e jogadoras número 12 — seguimos aqui da arquibancada torcendo pelas nossas craques para que consigam os mesmos salários, os mesmos patrocínios, a mesma visibilidade e reconhecimento que os jogadores homens. Aguardamos muito gol de placa no futebol feminino – dentro e fora de campo.

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