“Massacre na Escola”: HBO lança série sobre feminicídio em massa em colégio do RJ
Crime de 2011 tirou a vida de 12 adolescentes, sendo 10 meninas e dois meninos; diretora explicou à CNN motivo pelo qual focou história na vida das jovens assassinadas
Luiza Paula da Silveira não imaginou que seria vítima do primeiro massacre em uma escola pública quando acordou para se arrumar em 7 de abril de 2011.
Além dela, outras nove meninas e dois meninos tiveram suas vidas tiradas por um homem de 23 anos que entrou armado na Escola Municipal Tasso da Silveira, no bairro de Realengo, no município do Rio de Janeiro, para atentar contra a vida dos estudantes. O crime foi o primeiro de vários ataques em colégios brasileiros.
Bianca Lenti, diretora de documentários como “Fio do Afeto”, sobre uma rede de mulheres quilombolas, indígenas e ribeirinhas que criaram uma confecção de máscaras na pandemia da Covid-19, se juntou a HBO Max para lançar a série “Massacre na Escola: A Tragédia das Meninas de Realengo”. Aqui, ela voltou a olhar para a vida das mulheres.
“Alguns veículos de imprensa deram [com esse foco], mas a característica do feminicídio tinha passado batido”, explica Bianca Lenti à CNN sobre o porquê quis fazer o documentário.
“Esse tema [o feminicídio] não foi priorizado porque era um crime muito novo e estava todo mundo em choque. O que interessava era: quem era o atirador? Por que ele fez isso?”.
O crime repercutiu no mundo todo. As famílias das vítimas foram tão assediadas, conta Bianca, que teve quem mudou de cidade para se afastar do caso.
“Quando a gente chega lá, 11 anos depois do massacre e depois de elas terem elaborado bastante sobre o que aconteceu e estarem tocando suas vidas de uma forma ou de outra, elas querem falar a partir de suas perspectivas pela primeira vez”, pontua Bianca.
A diretora e a equipe juntaram documentos, foram atrás dos familiares e das vítimas para contar a história pela ótica do feminicídio. Entre os depoimentos que ouviu, Bianca relembrou da conversa com o pai de uma sobrevivente, que ficou tão traumatizado com as meninas que morreram em cima de seu corpo a ponto de não conseguir mais abraçar a própria família até hoje.
“Foi um dos depoimentos mais impactante, porque ele disse: ‘A minha filha está aqui, eu não perdi minha filha, minha filha está aqui comigo. Mas, hoje em dia, desde que aconteceu o que aconteceu, eu não consigo abraçar e beijar minha filha, ninguém pode tocar nela’”, relembrou a diretora.
Segundo a pesquisa “Ataques de violência extrema em escolas no Brasil”, da Unicamp, lançada em março, o país registrou 23 ataques nos últimos 20 anos.
O objetivo do documentário de Bianca Lenti é tentar entender o porquê um massacre como o do bairro de Realengo aconteceu – e a razão pelo qual diversos outros voltaram a se repetir. A investigação da diretora e sua equipe mostrou que um dos motivos é o discurso de ódio, por exemplo, nas redes sociais.
“A gente viu a radicalização desse discurso nos últimos anos, e o acesso às armas ficando mais facilitado só contribuiu para que esse fenômeno, infelizmente, se tornasse mais frequente do que nós, enquanto sociedade, gostaríamos”, pontuou Bianca.