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    Cientistas dizem que 2023 pode ser ano mais quente já registrado

    Aquecimento global e presença do El Niño levam a recordes e mudança nos padrões registrados

    Laura Paddisonda CNN

    O mundo está sendo bombardeado por novos recordes climáticos. Com eles, vem o alarme emitido por cientistas: a probabilidade de que 2023 possa ser o ano mais quente já registrado está aumentando, e a crise climática pode estar alterando nosso clima de maneiras ainda não entendidas.

    Os cientistas não medem as palavras: “extraordinário”, “terrível” e “território desconhecido” são apenas algumas das maneiras usadas para descrever o recente aumento da temperatura global.

    Nesta semana, a temperatura média diária do planeta subiu para altas inéditas nos registros modernos mantidos por duas agências climáticas nos EUA e na Europa.

    Embora eles sejam baseados em dados que só remontam até meados do século 20, os dados “quase certamente” refletem os dias os mais quentes que o planeta viveu durante um período muito mais longo –“de provavelmente pelo menos 100 mil anos”, de acordo com Jennifer Francis, cientista sênior no Centro de Pesquisa de Clima Woodwell.

    Outros superlativos também foram mencionados.

    No mês passado, o mundo experimentou o seu junho mais quente registrado por uma “margem substancial”, de acordo com um relatório do Serviço de Alterações Climáticas Copernicus da União Europeia.

    O calor dos oceanos está em níveis absurdos, com as temperaturas da superfície no mês passado atingindo níveis recorde para junho. Partes do Atlântico Norte tiveram uma onda de calor marinha “sem precedentes”, com temperaturas até 5 graus Celsius mais quentes do que o habitual.

    Na Antártica, onde as temperaturas seguem bem acima da média para esta época do ano, o gelo marinho mergulhou em níveis baixos nunca registrados, um dado que os cientistas têm ligado às águas quentes dos oceanos Índico, Pacífico e Atlântico.

    O mundo está “caminhando para um território desconhecido”, disse Carlo Buontempo, diretor do Copernicus, à CNN. “Nunca vimos nada assim em nossa vida”.

    A cara do aquecimento global

    Embora os cientistas digam que os registros são alarmantes, a maioria deles não se surpreende – embora se sintam frustrados que os seus avisos tenham sido ignorados durante décadas.

    “É exatamente o que esperávamos ver há muito tempo”, afirmou Francis à CNN.

    O que o mundo experimenta hoje são os impactos do aquecimento global combinado com o fenômeno climático El Niño – cuja chegada a Organização Meteorológica Mundial confirmou oficialmente na quarta-feira (5).

    Funciona assim: à medida que o mundo queima combustíveis fósseis e bombeia a poluição que aquece o planeta, as temperaturas globais sobem constantemente. A tendência leva a ondas de calor mais intensas, juntamente com uma série de outros impactos, como clima mais extremo, derretimento de geleiras e níveis crescentes do mar.

    Superpostas nas tendências de aquecimento a longo prazo estão as flutuações climáticas naturais. As mais significativas entre elas são La Niña, que tem um efeito de resfriamento, e El Niño, com efeito de aquecimento.

    “Assim, temos um mundo naturalmente aquecido, além da crescente mudança de sinal para o clima quente”, explicou Friederike Otto, professora sênior em ciência do clima no Instituto Grantham para as Mudanças Climáticas e o Meio Ambiente no Reino Unido.

    Embora as temperaturas recorde possam ter sido esperadas, a magnitude pela qual alguns recordes foram quebrados surpreendeu os cientistas.

    O fato de junho ter sido meio grau mais quente “é simplesmente extraordinário” para a temperatura global, segundo Buontempo. Normalmente, esses recordes – que são médias de temperaturas em todo o mundo durante todo o mês – são quebrados por um décimo ou mesmo centésimo de um grau.

    Outros pesquisadores se surpreenderam com a natureza de eventos climáticos extremos.

    “Esperávamos ver mais ondas de calor, inundações e secas em todo o mundo. Mas a intensidade de alguns desses eventos que é um pouco surpreendente”, pontuou Peter Stott, bolsista de atribuição climática do Met Office, do Reino Unido.

    Há “uma preocupação crescente de que as mudanças climáticas não sejam tão lineares quanto pensávamos”, continuou. Os especialistas tentam descobrir se os próprios padrões climáticos podem estar mudando, tornando as ondas de calor muito mais intensas do que as dos modelos climáticos previstos.

    Ano mais quente registrado

    Embora os cientistas ainda não possam ser definitivos, alguns dizem que este ano está no caminho para se tornar o mais quente já registrado.

    As estrelas estão se alinhando para a quebra de recorde. Historicamente, os recordes globais de calor tendem a cair nos anos de El Niño –o atual recordista, 2016, coincidiu com um forte El Niño.

    Em maio, uma análise da Berkeley Earth colocou as chances de 2023 ser o mais quente registrado em 54%. Como o mês passado acabou por ser o junho mais quente já registrado, essa porcentagem vai aumentar, segundo Robert Rohde, cientista-chefe da Berkeley Earth.

    O tamanho do registro permanece incerto, “mas parece mais do que provável que 2023 seja um ano recorde”.

    Os registros são como o mundo mantem o controle sobre a crise climática. No entanto, alguns pesquisadores alertam que a atenção dada a esses grandes números pode ofuscar os perigos do mundo real que amplificam: as ondas de calor, inundações e secas ficaram muito mais frequentes, graves e duradouras com o aquecimento da Terra.

    “É muito frustrante”, comentou a professora Otto, do Instituto Grantham. O mundo fica todo empolgado com novo recordes, mas “esses não são números emocionantes”, disse à CNN. “Eles significam que pessoas e ecossistemas estão morrendo, que as pessoas estão perdendo seus meios de subsistência, que as terras agrícolas serão inutilizáveis.”

    O impacto do clima extremo para humanos este ano já é alarmante.

    No fim de junho, o Texas e o sul do EUA ferveram com ondas de calor próximas e acima dos 40 graus Celsius com extrema umidade, aumentando a sensação de calor e dificultando o processo de resfriamento do corpo. O calor se estendeu ao México, onde temperaturas extremas mataram pelo menos 112 pessoas entre março e o fim de junho.

    A China tem lutado com o calor sufocante há semanas. Pequim, que está enfrentando uma de suas ondas de calor mais brutais, teve temperaturas acima dos 40 graus Celsius esta semana.

    Na Índia, partes do norte têm sofrido com um calor implacável, enquanto quase meio milhão de habitantes no nordeste do país foram afetadas por inundações severas que provocaram deslizamentos devastadores de terra que causaram vítimas fatais.

    “Todos esses tipos de eventos extremos são absolutamente consistentes com o que esperamos ver com mais frequência enquanto continuamos aquecendo o mundo”, previu a cientista Francis.

    Ela acrescentou que, com o fortalecimento do El Niño, provavelmente veremos um clima mais extremo não apenas no verão, mas também no inverno, quando El Niños tem a maior influência sobre o clima do Hemisfério Norte.

    “Meu conselho é: preparem-se.”

    Avisos não ouvidos

    Para os cientistas do clima, este é o momento “eu te disse!” que eles nunca quiseram viver.

    “Não precisava ter sido assim”, lamentou Stott, do Met Office.

    Durante décadas, os pesquisadores têm alertado sobre o que aconteceria com as temperaturas globais se o mundo não conseguisse abandonar o vício em combustíveis fósseis e controlasse a poluição por aquecimento do planeta. Mas eles não foram ouvidos, disse ele.

    Ver as mudanças climáticas se desenrolarem na nossa frente “é assustador, porque isso só vai continuar a piorar e ser cada vez mais extremo. O que estamos vendo agora é apenas uma prévia do que pode acontecer se os esforços para reduzir as emissões não forem bem-sucedidos.”

    O único lado bom é que os recordes talvez ajudem a soar alarmes e persuadir as pessoas a pressionar os líderes políticos a agir, disse Otto. “Espero que mais pessoas percebam que isso está acontecendo de verdade, e é muito perigoso.”

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