Bombas de fragmentação: saiba por que esse tipo de munição é alvo de polêmica
Munições que podem causar danos a civis serão enviadas pelos EUA para a Ucrânia, de acordo com anúncio de Biden
Os Estados Unidos anunciaram um novo pacote de ajuda militar para a Ucrânia na sexta-feira (7) que incluirá bombas de fragmentação pela primeira vez.
A CNN informou na semana passada que o governo do presidente Joe Biden considerava aprovar o envio desse armamento controverso para a Ucrânia, cujas forças têm lutado para avançar numa contraofensiva que dura semanas.
Abaixo, a CNN explica o que são as bombas de fragmentação e por que elas são controversas.
O que é uma munição de fragmentação?
Munições de fragmentação, também chamadas de bombas de fragmentação, são projéteis que transportam dezenas a centenas de bombas menores, também conhecidas como submunições ou sub-bombas.
Os projéteis podem ser lançados de aeronaves, de mísseis ou disparados pela artilharia, como armas de navios ou lançadores de foguetes. Ou seja, por ar, terra e mar.
Eles se abrem a uma altura pré-definida, dependendo da área do alvo pretendido, e as bombas internas se espalham por essa área, que pode atingir até o tamanho de vários campos de futebol.
As submunições ou sub-bombas menores são acionadas por um temporizador para explodir mais perto ou no chão, espalhando estilhaços para matar militares ou destruir veículos blindados, como tanques.
Entretanto, até um terço delas falha, permanecendo um risco mortal para os civis nos anos seguintes.
Que tipo de bomba de fragmentação os EUA vão enviar à Ucrânia?
Os Estados Unidos têm um estoque de munições de fragmentação conhecidas como DPICM, ou munições convencionais melhoradas de dupla finalidade, que o país vem desativando desde 2016.
De acordo com um artigo no site eArmor, do Exército dos EUA, as DPICMs que Washington vai dar ao governo da Ucrânia são disparadas de morteiros de 155 mm, com cada projétil carregando 88 bombas.
Cada bomba tem um alcance letal de cerca de 10 metros quadrados, de modo que um único projétil pode cobrir uma área de até 30 mil metros quadrados, dependendo da altura em que é liberado.
As bombas de uma DMICM têm cargas que, ao atacar um tanque ou veículo blindado, “criam um jato metálico que perfura armaduras metálicas”, diz o artigo.
Podem ser necessárias dez ou mais bombas para destruir um veículo blindado, mas apenas uma para desativar as armas desse veículo ou torná-lo imóvel.
Bombas de fragmentação já foram usadas na guerra da Ucrânia?
Sim, tanto os ucranianos como os russos estão usando bombas de fragmentação. Mais recentemente, as forças ucranianas começaram a usar munições de fragmentação fornecidas pela Turquia no campo de batalha.
No entanto, as autoridades do país pressionavam os EUA a fornecer as suas munições de fragmentação desde o ano passado, argumentando que elas dariam mais força para a artilharia e os foguetes fornecidos pelo Ocidente, e ajudariam a restringir a superioridade numérica da Rússia em matéria de artilharia.
Por que as munições de fragmentação são controversas?
Quando as submunições ou sub-bombas caem sobre uma ampla área, elas podem pôr em perigo os não-combatentes.
Além disso, entre 10% e 40% das munições falham, de acordo com o Comitê Internacional da Cruz Vermelha. As munições não explodidas podem então ser detonadas por atividades civis anos ou mesmo décadas depois.
A Coalizão de Munições de Fragmentação, um grupo ativista que tenta banir essas armas em todos os lugares, diz que as submunições de fragmentação potencialmente mortais ainda estão “adormecidas” no Laos e no Vietnã, 50 anos após seu uso.
Em comunicado na sexta-feira, a Human Rights Watch disse que a Ucrânia e a Rússia vêm matando civis com o uso de munições de fragmentação na guerra.
“As munições de fragmentação continuam a ser uma das armas mais traiçoeiras do mundo. Eles matam e mutilam indiscriminadamente e causam sofrimento humano generalizado”, decretou Gilles Carbonnier, vice-presidente do Comitê Internacional da Cruz Vermelha, em uma conferência na Suíça no ano passado.
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Veja imagens que mostram a destruição da guerra na Ucrânia após cerca de um ano e meio de conflito • 30/06/2023 REUTERS/Valentyn Ogirenko
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Vista mostra ponte Chonhar danificada após ataque de míssil ucraniano, em Kherson, Ucrânia • 22/06/2023Líder da região de Kherson Vladimir Saldo via Telegram/Handout via REUTERS
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Casas inundadas em bairro de Kherson, Ucrânia, quarta-feira, 7 de junho de 2023. • Felipe Dana/AP
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Prédio destruído em Mariupol, na Ucrânia • 14/04/2022 REUTERS/Pavel Klimov
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Área residencial inundada após o colapso da barragem de Nova Kakhovka na cidade de Hola Prystan, na região de Kherson, Ucrânia, controlada pela Rússia, em 8 de junho. • Alexander Ermochenko/Reuters
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Imagens de drone obtidas pelo The Wall Street Journal mostram soldado russo se rendendo a um drone ucraniano no campo de batalha de Bakhmut em maio. • The Wall Street Journal
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Vista aérea da cidade ucraniana de Bakhmut • Vista área da cidade ucraniana de Bakhmut em imagem de vídeo15/06/202393rd Kholodnyi Yar Brigade/Divulgação via REUTERS
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Socorristas trabalham em casa atingida por míssil, em Kramatorsk, Ucrânia • 14/06/2023Serviço de Imprensa do Serviço Estatal de Emergência da Ucrânia/Handout via REUTERS
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A cidade de Velyka Novosilka, na linha de frente, carrega as cicatrizes de um ano e meio de bombardeios. • Vasco Cotovio/CNN
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Crateras e foguetes não detonados são uma visão comum na cidade de Velyka Novosilka, que foi atacada pelas forças russas. • Vasco Cotovio/CNN
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Policial ucraniano dentro de cratera perto do edifício danificado por drone russo. • Reprodução/Reuters
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Rescaldo de um ataque de míssil russo na região de Zhytomyr • Bombeiros trabalham em área residencial após ataque de míssil russo na cidade de Zviahel, Ucrânia09/06/2023. Press service of the State Emergency Service of Ukraine in Zhytomyr region/Handout via REUTERS
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Danos à barragem de Nova Kakhovka, no sul da Ucrânia, são vistos em uma captura de tela de um vídeo de mídia social. • Telegram/@DDGeopolitics
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Vista da ponte destruída sobre o rio Donets • Lev Radin/Pacific Press/LightRocket via Getty Images
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Ataque com míssil mata criança de 2 anos e deixa 22 pessoas feridas na Ucrânia, diz governo • Ministério da Defesa da Ucrânia/Divulgação/Twitter
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Foto tirada por ucraniana após ataques com drones russos contra Kiev. Drones foram abatidos, mas destroços provocaram estragos. • Andre Luis Alves/Anadolu Agency via Getty Images
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Morador local de pé em frente a prédio residencial fortemente danificado durante o conflito Rússia-Ucrânia, no assentamento de Toshkivka, região de Luhansk, Ucrânia controlada pela Rússia • 24/03/2023REUTERS/Alexander Ermochenko
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Soldados ucranianos disparam artilharia na linha de frente de Donetsk em 24 de abril de 2023. • Muhammed Enes Yildirim/Agência Anadolu/Getty Images
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Ataque de mísseis russos atingem prédio residencial em Uman, na região central da Ucrânia • Reuters
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Vista aérea da cidade ucraniana de Bakhmut capturada via drone • 15/04/2023 Adam Tactic Group/Divulgação via REUTERS
“Qualquer uso de bombas de fragmentação, em qualquer lugar, por qualquer pessoa, deve ser condenado”, continuou Carbonnier.
Grande parte do mundo proibiu o uso dessas armas através da Convenção sobre Munições de Fragmentação (CCM na sigla em inglês), que também proíbe o armazenamento, a produção e a transferência dessas armas.
Embora 123 nações tenham aderido a essa convenção, os Estados Unidos, a Ucrânia, a Rússia e outros 71 países não o fizeram.
Usar as munições para atacar tropas ou veículos inimigos não é ilegal sob o direito internacional, mas atacar civis com as armas pode representar um crime de guerra, de acordo com a Human Rights Watch.
Onde as bombas de fragmentação foram usadas antes?
As armas de fragmentação têm sido usadas desde a Segunda Guerra Mundial e em mais de três dezenas de conflitos desde então, de acordo com a Coalizão de Munições de Fragmentação.
Ainda segundo a coalizão, os EUA usaram as armas pela última vez no Iraque, de 2003 a 2006.
As forças americanas começaram a desativá-las em 2016 por causa do perigo que representam para os civis, de acordo com uma declaração de 2017 do Comando Central dos EUA.
Haley Britzky e Natasha Bertrand, da CNN, contribuíram para a reportagem