“O Rei da Vela” e “Roda Viva” trouxeram o país para a modernidade
Ao encenar as peças de Oswald de Andrade e Chico Buarque, Zé Celso Martinez Corrêa impôs a semente plantada em 1922 como transformação cultural imprescindível para o país em um de seus momentos políticos mais trágicos
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O diretor de teatro José Celso Martinez Correa, ou Zé Celso, durante entrevista realizada na capital paulista. • MILTON MICHIDA/ESTADÃO CONTEÚDO/AE
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O diretor de teatro Zé Celso fala ao público durante audiência pública no Teatro Oficina, em São Paulo, para discutir a aprovação da Condephaat para a construção de duas torres comerciais ao lado do teatro., em setembro de 2013. • JOSÉ PATRÍCIO/ESTADÃO CONTEÚDO/AE
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O diretor de teatro Zé Celso fala ao público durante audiência pública no Teatro Oficina, em São Paulo, para discutir a aprovação da Condephaat para a construção de duas torres comerciais ao lado do teatro., em setembro de 2013. • JOSÉ PATRÍCIO/ESTADÃO CONTEÚDO/AE
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Zé Celso Martinez Correa, diretor, dramaturgo e ator, no Teatro Oficina em São Paulo. • DANIEL TEIXEIRA/ESTADÃO CONTEÚDO/AE
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Zé Celso Martinez Correa, diretor, dramaturgo e ator, no Teatro Oficina em São Paulo. • DANIEL TEIXEIRA/ESTADÃO CONTEÚDO/AE
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Retrato do ator e diretor José Celso Martinez Corrêa (c), mais conhecido como Zé Celso, durante peça teatral, em fevereiro de 1983. • ESTADÃO CONTEÚDO
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Juntos há quase 40 anos, os diretores Zé Celso e Marcelo Drummond se casaram no início de junho • Reprodução
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O diretor de teatro Zé Celso fala ao público durante audiência pública no Teatro Oficina, em São Paulo • JOSÉ PATRÍCIO/ESTADÃO CONTEÚDO/AE
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O diretor de teatro José Celso Martinez Correia, ou Zé Celso, sorri em teatro da capital paulista. • ESTADÃO CONTEÚDO
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Zé Celso atuando como Dona Poloca em ensaio de "O Rei da Vela", de Oswald de Andrade, no teatro Paulo Autran, em São Paulo, em outubro de 2017. Ele também foi diretor da remontagem da peça. • DANIEL TEIXEIRA/ESTADÃO CONTEÚDO/AE
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O diretor de teatro José Celso Martinez Correa, ou Zé Celso, durante entrevista realizada no Teatro Oficina, na capital paulista, em setembro de 1995. • O diretor de teatro José Celso Martinez Correa, ou Zé Celso, durante entrevista realizada no Teatro Oficina, na capital paulista, em setembro de 1995.
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O diretor de teatro José Celso Martinez Correa, ou Zé Celso, durante entrevista realizada na capital paulista, em agosto de 1993. • RENATA JUBRAN/AE
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Brasil, São Paulo, SP. 04/02/1983. Parte do Grupo Oficina de teatro é vista reunida com um de seus fundadores, José Celso Martinez Corrêa, mais conhecido como Zé Celso (2º à dir.). - Crédito:DOMICIO PINHEIRO/ESTADÃO CONTEÚDO/AE/Codigo imagem:39678
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O diretor de teatro José Celso Martinez Corrêa, ou Zé Celso, em camarim de teatro da capital paulista, em junho de 1978. • ROLANDO DE FREITAS/ESTADÃO CONTEÚDO/AE
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Foto de arquivo de novembro de 2014 do dramaturgo José Celso Martinez Corrêa durante entrevista concedida em São Paulo. • GABRIELA BILÓ/ESTADÃO CONTEÚDO
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Foto de arquivo de novembro de 2014 do dramaturgo José Celso Martinez Corrêa durante entrevista concedida em São Paulo. • GABRIELA BILÓ/ESTADÃO CONTEÚDO
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Dramaturgo José Celso Martinez durante audiência pública realizada no Teatro Oficina, na Bela Vista, região central de São Paulo • JOSÉ PATRÍCIO/ESTADÃO CONTEÚDO/AE/
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Foto de arquivo de novembro de 2014 do dramaturgo José Celso Martinez Corrêa durante entrevista concedida em São Paulo. • GABRIELA BILÓ/ESTADÃO CONTEÚDO
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Foto de arquivo sem data do dramaturgo José Celso Martinez Corrêa, o Zé Celso, em apresentação no Teatro Oficina, em São Paulo. • ALLAN CALISTO/SEM DATA DEFINIDA/AGÊNCIA F8/ESTADÃO CONTEÚDO
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Foto de arquivo sem data do dramaturgo José Celso Martinez Corrêa, o Zé Celso, em apresentação no Teatro Oficina, em São Paulo. • ALLAN CALISTO/SEM DATA DEFINIDA/AGÊNCIA F8/ESTADÃO CONTEÚDO
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Zé Celso lutava na Justiça contra Silvio Santos há 43 anos por terreno do Oficina • Teatro Oficina Uzyna Uzona / Reprodução
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Foto de arquivo, de novembro de 2018, do dramaturgo José Celso Martinez Corrêa, o Zé Celso, na ocasião dos preparativos da peça "Roda Viva", no Teatro Oficina, em São Paulo. • GABRIELA BILÓ/ESTADÃO CONTEÚDO
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Foto de arquivo, de março de 2017, do dramaturgo José Celso Martinez Corrêa, o Zé Celso, no Teatro Oficina, em São Paulo. • DANIEL TEIXEIRA/ESTADÃO CONTEÚDO
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Foto de arquivo do dramaturgo José Celso Martinez Corrêa, o Zé Celso, morto nesta quinta-feira (6). • Estadão Conteúdo
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Personagem ímpar na cultura brasileira, o diretor e dramaturgo José Celso Martinez Corrêa era conhecido por sua personalidade intensa e dionisíaca.
Ele mesmo era um personagem do universo que plantou há mais de 60 anos, quando começou a transformar a nossa cena cultural ao fundar o grupo de teatro Oficina, uma das companhias mais antigas do país, na Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, ao lado de nomes como Renato Borghi, Etty Fraser, Fauzi Arap, Amir Haddad, entre outros.
Entre montagens controversas que cutucaram a ferida política do Brasil no período anterior ao golpe militar de 1964, ele expandiu sua influência e marcou seu lugar na história do país a partir de duas montagens realizadas entre os anos de 1967 e 1968: a primeira versão para “O Rei da Vela”, de Oswald de Andrade, e a estreia de Chico Buarque como dramaturgo, em “Roda Viva”.
Zé Celso já vinha mexendo com as estruturas culturais quando, ainda de forma amadora, montou peças que questionavam o tenso momento político que o país atravessava desde o suicídio do presidente Getúlio Vargas, em 1954.
As primeiras montagens do Oficina foram as próprias peças do dramaturgo, como “Vento Forte para Papagaio Subir” (1958), “A Incubadeira” (1959) e “A Engrenagem” (1960), esta em parceria com Augusto Boal, que ajudaram a expandir o conceito de modernismo para o resto da classe artística.
Apesar de a Semana de Arte Moderna ter ocorrido em 1922, seu impacto foi mínimo à época e sua repercussão ficara restrita a poucos entusiastas, mesmo que as carreiras de seus autores, como Mário de Andrade, Tarsila do Amaral, Oswald de Andrade, Heitor Villa-Lobos, por exemplo, se tornassem posteriormente conhecidas do grande público.
É a partir da década de 1950 que uma série de movimentos isolados começam a concatenar os conceitos trazidos ao Brasil décadas antes no evento que completou um século no ano passado.
Há desde a arquitetura moderna de Oscar Niemeyer, Paulo Mendes da Rocha e Vilanova Artigas à poesia concreta dos irmãos Campos e Décio Pignatari, passando pela bossa nova criada pelo baiano João Gilberto no Rio de Janeiro, a Companhia Cinematográfica Vera Cruz e o Teatro Brasileiro de Comédia, estes últimos criados pelo engenheiro e produtor teatral Franco Zampari. O Oficina era um desdobramento inevitável do TBC, fundado em São Paulo em 1948.
Na década de 1960, o Oficina profissionalizou-se, conseguindo sua sede na Rua Jaceguai, no bairro do Bixiga, e tornou-se mais ativo politicamente, principalmente a partir da montagem da peça Pequenos Burgueses, do russo Máximo Gorki, que conta a história anterior à Revolução Russa de 1917.
No entanto, o grupo entrou para a história ao montar, pela primeira vez, a peça “O Rei da Vela”, que Oswald de Andrade escreveu em 1933 e só publicou em 1937. Nas mãos de Zé Celso, a peça explicitava o momento de ruptura política que as Forças Armadas impuseram ao país em 1964 ao mesmo tempo em que tornava-se mais um degrau rumo à transformação cultural que foi o movimento tropicalista.
Outras obras – como os penetráveis do artista plástico Hélio Oiticica e os filmes de Glauber Rocha – reforçavam a transformação cultural que acontecia após o golpe militar, mas foi com “O Rei da Vela” que o movimento tornou-se verdadeiramente popular, a ponto de influenciar diretamente a obra de novos compositores baianos que uniriam-se a artistas do Sudeste que puxaram o tropicalismo para si.
Gilberto Gil, Caetano Veloso, Tom Zé, Os Mutantes, Nara Leão, entre outros, só se entenderam com um movimento cultural a partir das quebras de paradigmas artísticos incitadas pelo Oficina de Zé Celso.
No ano seguinte, o grupo montou a primeira peça do compositor Chico Buarque, que estava em início de carreira. Depois de uma temporada bem-sucedida no Rio de Janeiro no início de 1968, ela foi montada em São Paulo no final daquele ano no teatro Ruth Escobar até que, no dia 9 de novembro daquele ano, foi alvo do grupo paramilitar Comando de Caça aos Comunistas (CCC).
Contrário às ideias que considerava “subversivas” do texto de Chico e da montagem de Martinez, o CCC invadiu o palco, destruindo o cenário e agredindo os artistas, em um dos episódios mais infames da cultura brasileira.
Mas isso só consolidou a fama de Zé Celso como um dos artistas mais importantes da história do Brasil. Não é exagero dizer que ele, principalmente a partir destas duas montagens, mas não só delas, foi o responsável por trazer o Brasil para a era moderna, mesmo que à força e a duras penas.