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    Afegãos acampados no Aeroporto de Guarulhos serão levados para Praia Grande, no litoral de SP

    A situação se estende há cerca de um ano, após o Brasil conceder visto humanitário aos afegãos por conta da tomada de poder pelo grupo extremista Talibã

    Ítalo Lo Re, do Estadão Conteúdo

    Os cerca de 150 refugiados afegãos que estão acampados no Aeroporto de Guarulhos, na Grande São Paulo, devem ser levados para um abrigo em Praia Grande, no litoral do estado.

    A transferência deve ocorrer entre esta sexta-feira (30) e sábado (1º), segundo o governo federal.

    Um surto de escabiose (conhecida como sarna humana) atinge o grupo há cerca de uma semana. Conforme a prefeitura de Guarulhos, 21 ocorrências da doença foram confirmadas pela gestão municipal. Os casos atingem de crianças até famílias inteiras.

    Diante da situação, o Ministério da Justiça e Segurança Pública informou nesta sexta que os cerca de 150 imigrantes afegãos que estão no Aeroporto de Guarulhos serão transferidos para Praia Grande. Segundo a pasta, eles serão acolhidos nas dependências do Sindicato dos Químicos da cidade.

    “O trabalho está acontecendo em parceria com governo de São Paulo, prefeitura de Praia Grande, prefeitura de Guarulhos, com Acnur (agência da ONU para refugiados), Cáritas e outras entidades da sociedade civil envolvidas com a temática”, informou o ministério, em nota.

    Na tarde de quinta-feira (29), representantes das três esferas de governo se reuniram no aeroporto para discutir soluções para os refugiados. Participaram também integrantes da Organização das Nações Unidas e do Frente Afegã, coletivo que atua no aeroporto.

    Anteriormente, o ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, chegou a dizer que os afegãos seriam acolhidos em hotéis, de forma temporária, mas representantes dos governos federal e estadual afirmaram depois da reunião nesta quinta que a medida ainda estava sendo avaliada.

    “Esperamos que, nas próximas horas, a gente já tenha uma medida efetiva para dar em resposta à situação”, disse Renato Teixeira, ouvidor nacional dos Direitos Humanos. “A ouvidoria esteve presente e constatou grave violação aos direitos humanos dos nossos irmãos afegãos.”

    O prefeito de Guarulhos, Guti (PSD), reconheceu a importância do envio de recursos pelo governo federal, mas cobrou uma “política de interiorização”. “São 11 mil vistos emitidos ou na iminência de serem emitidos, e por aqui passaram 4 mil afegãos”, disse. “Significa que a gente tem de 6 a 7 mil afegãos para entrar.”

    “Por quatro dias, só comi biscoito e água”

    A reportagem do Estadão passou algumas horas no Aeroporto de Guarulhos durante a quinta-feira. Há duas semanas no país, o analista de logística Mohsen Kabiry, de 38 anos, se preparava para dormir mais uma noite no chão do aeroporto. Sem saber falar inglês, ele pediu ajuda a outro afegão para dizer que metade dos nove familiares que vieram com ele estava com sarna.

    O casal de artistas Nematollah Vali, 29, e Forouzan Sediqi, 28, também foi afetado pelo surto. “Quando cheguei, não tomei banho por uma semana, então comecei a enfrentar problemas com minha pele”, disse Forouzan. “Por sorte, conseguiram me levar para tomar banho e melhorou um pouco.”

    Afegãos acampados em aeroporto de Garulhos, em São Paulo / 12/10/2022 REUTERS/Amanda Perobelli

    Na maioria dos dias, os afegãos não têm acesso a banheiros com chuveiro no aeroporto.

    Para se higienizar, muitos têm a ajuda de voluntários e até de um hotel na região, que oferece cerca de 20 banhos diários aos refugiados. Mas outros tipos de problemas são relatados. Afegãos ouvidos pela reportagem se queixam de mofo e infiltração nas paredes, cheiro ruim nas cobertas e dificuldade de se adaptar.

    “Por quatro dias, só comi biscoito e água”, disse Forouzan.

    A situação se estende há cerca de um ano, após o Brasil conceder visto humanitário aos afegãos por conta da tomada de poder pelo grupo extremista Talibã.

    “O que está acontecendo é uma tragédia anunciada. A gente já sabia disso (condições precárias) desde agosto do ano passado, quando eles já passavam 15, 20 dias sem banho”, disse Aline Sobral, atual presidente do Coletivo Frente Afegã.

    Segundo o coletivo, nesta quinta eram 175 refugiados acampados no aeroporto, todos muçulmanos. Só nesta semana, foram 35 novos acolhidos, o que mostra como o grupo tem mudado a cada semana. Em geral, os refugiados ficam em torno de três semanas esperando acolhimento. Cerca de 3 a 4 voos chegam por dia do Oriente Médio, com a possibilidade de trazer novos afegãos precisando de ajuda.

    Refugiados Afegãos no Aeroporto de Guarulhos – 26/10/2022 / Rovena Rosa/Agência Brasil

    A prefeitura de São Paulo informou ter acolhido 718 afegãos entre janeiro e 20 de junho deste ano. Em todo o ano passado, foram 714.

    A gestão das vagas dos abrigos é feita pelo governo do Estado, com suporte de um centro de atendimento instalado em área de mezanino do terminal 2 pela prefeitura de Guarulhos. A gestão municipal também fornece refeições diariamente.

    A GRU Airport, concessionária que administra o aeroporto, informou que tem contribuído no suporte à realização de procedimentos de higiene pessoal e manutenção de limpeza constante do espaço.

    “A higienização dos banheiros daquela área também foi intensificada”, disse. “O vestiário, por se tratar de uma área operacional destinada a funcionários, é viabilizado dentro das condições e disponibilidade do aeroporto, de acordo com um planejamento alinhado com a prefeitura de Guarulhos.”

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