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    Hábitos de jovens entre 18 e 24 anos aumentam o risco de doenças crônicas, diz pesquisa nacional

    Obesidade e o excesso de peso crescem entre os jovens dessa faixa etária

    Lucas Rochada CNN , Em São Paulo

    Um amplo levantamento, com o objetivo de mapear a saúde da população brasileira, apresenta dados de alerta, principalmente para a população jovem, com idades de 18 a 24 anos.

    A obesidade e o excesso de peso crescem entre os jovens dessa faixa etária. Em 2022, 9% dessa população tinha índice de massa corporal (IMC) igual ou maior que 30 kg/cm², o que configura obesidade. Já em 2023, esse percentual subiu para 17,1%.

    No contexto da saúde mental, 31,6% já receberam diagnóstico médico de ansiedade e 32,6% relatam episódio de consumo abusivo de álcool (quatro doses ou mais para mulheres e cinco doses ou mais para homens em uma mesma ocasião) nos 30 dias antes da entrevista do inquérito.

    Os dados são do Covitel 2023 (Inquérito Telefônico de Fatores de Risco para Doenças Crônicas Não Transmissíveis em Tempos de Pandemia), divulgados nesta quinta-feira (29).

    A pesquisa investigou a magnitude do impacto dos principais fatores de risco para doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) na população adulta brasileira (18 anos ou mais). Foram ouvidas 9.000 pessoas, de todas as regiões do Brasil, entre janeiro e abril por telefone.

    Desenvolvido pela Vital Strategies, organização global de saúde pública, e pela Universidade Federal de Pelotas (UFPel), a partir da articulação e financiamento da Umane e apoio da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco), o Covitel foi realizado pela primeira vez em 2022 e chega à sua segunda edição em 2023.

    “O Covitel mais uma vez vem para contribuir com a geração de dados sobre os fatores de risco de condições crônicas no Brasil. Por meio do uso de dados em saúde pública, podemos melhor informar, planejar e aprimorar programas e políticas públicas de enfrentamento destas condições tão prevalentes na população brasileira”, completa Thais Junqueira, Superintendente Geral da Umane.

    Hábitos de vida

    Os participantes da pesquisa foram questionados sobre hábitos de vida, como alimentação e exercícios físicos. Esses fatores são considerados indicadores para o desenvolvimento de doenças crônicas.

    A população de 18 a 24 anos está entre a que menos consome frutas de maneira regular. Apenas 33,5% das pessoas nessa faixa etária inclui esses alimentos na dieta cinco vezes ou mais na semana. Os jovens também são os que comem menos verduras e legumes, com 39,2% se alimentando com os itens na frequência recomendada.

    Já o consumo de refrigerante ou sucos artificiais, considerado um marcador de alimentação não saudável, também se destaca nessa faixa etária, sendo a com maior prevalência entre todas as faixas, com 24,3% das pessoas consumindo frequentemente (cinco vezes ou mais na semana).

    No quesito atividade física, apenas 36,9% dos jovens dessa faixa etária pratica os 150 minutos semanais recomendados pela OMS. Em contrapartida, eles lideram em tempo de tela, com 76,1% utilizando dispositivos como celulares, tablets ou televisão três horas ou mais por dia para lazer, ou seja, para além do tempo gasto trabalhando ou estudando online, por exemplo.

    O sono também é comprometido, com apenas cerca da metade dos jovens (54,2%) dormindo a quantidade de horas recomendadas para a idade (7 a 9 horas por dia, de acordo com a National Sleep Foundation).

    A falta de sono pode impactar alguns quadros crônicos, de acordo com os especialistas do Covitel. Os efeitos tendem a se agravar ao longo dos anos, mas já dão sinais de alerta.

    De acordo com o inquérito, 8,2% dos jovens de 18 a 24 anos já tiveram diagnóstico médico de hipertensão arterial, o que equivale a cerca de 1,4 milhão de pessoas. Os índices de depressão também chamam atenção, com 14,1% da população nessa faixa etária já tendo recebido diagnóstico médico para a condição.

    “Entender o comportamento da população brasileira quanto aos fatores de risco para as doenças crônicas não transmissíveis, que são a maior causa de morte no mundo, é fundamental para orientar as prioridades, o planejamento e ações relacionadas às políticas públicas de saúde”, diz Pedro de Paula, diretor-executivo da Vital Strategies.

    O questionário do Covitel 2023 trouxe perguntas sobre percepção geral de saúde, prática de atividade física, hábitos alimentares, saúde mental e prevalência de hipertensão arterial e diabetes, além de consumo de álcool e de tabaco. Os entrevistados também forneciam informações sobre sexo, faixa etária, raça ou cor e escolaridade.

    Falta de sono pode impactar alguns quadros crônicos, de acordo com os especialistas do Covitel / PhotoAlto/Frederic Cirou/Getty Images

    Alimentação

    Menos da metade da população no Brasil, 45,5%, consome verduras e legumes cinco vezes ou mais na semana. Os dados revelam que o consumo permanece baixo entre os brasileiros, embora tenha ocorrido um aumento no último ano após uma queda expressiva durante a pandemia (aumento de 15,2% entre 2022 e 2023). A faixa etária que mais come esses alimentos é a dos mais velhos, com 65 anos ou mais, com 45,5% consumindo na frequência semanal recomendada.

    Os que menos consomem são os mais novos, de 18 a 24 – apenas 39,2% consomem com frequência. Segundo o estudo, o indicador mostra diversas desigualdades no consumo quando se considera sexo e escolaridade.

    As mulheres consomem mais do que os homens, 51,5% e 39,1%, respectivamente. 57,5 % das pessoas com maior escolaridade (12 anos ou mais de estudo) têm legumes e verduras na dieta a maior parte dos dias da semana, enquanto 40,9% dos menos escolarizados (0 a 8 anos de estudo) têm o hábito. As diferenças também são grandes entre Norte (36,4%) e Sul (52,6%) do país.

    A ingestão de frutas apresenta cenário similar: 41,8% dos brasileiros têm frutas na dieta cinco vezes ou mais por semana. Nesse caso, os mais velhos (65 anos ou mais) também são os que mais consomem (62,8% comem frutas com frequência) e os mais novos (18 a 24 anos) são os que menos incluem frutas na dieta, com apenas 33,5% comendo cinco vezes ou mais na semana.

    Mulheres comem mais que homens: 49,6% delas comem com frequência, contra 33,4% deles. Entre os brancos, 47,3% têm o hábito, mais do que entre os pretos e pardos (37,9%). O consumo regular de frutas está presente para 48,2% da população mais escolarizada, com 12 anos ou mais de estudo, e para 39,3% dos menos escolarizados, com 0 a 8 anos de estudo.

    Já com relação à inclusão de refrigerantes e sucos artificiais na dieta, um marcador de alimentação não saudável, 17,8% dos brasileiros consomem cinco vezes ou mais na semana. Os jovens adultos, com idade entre 18 e 24 anos, são os maiores consumidores, com 24,3% bebendo esses produtos com frequência.

    Menos da metade da população no Brasil consome verduras e legumes cinco vezes ou mais na semana / d3sign/Getty Images

    Atividade física

    A prática regular de atividade física é considerada um fator de proteção contra o desenvolvimento de doenças crônicas. Segundo o levantamento, apenas 31,5% dos brasileiros praticam pelo menos 150 minutos de atividade física moderada ou vigorosa por semana recomendados pela OMS.

    Foram identificadas diferenças consideráveis nos recortes de sexo, idade e escolaridade. Cerca de 35% dos homens são fisicamente ativos, enquanto 28,3% das mulheres são ativas. 48,3% das pessoas com maior escolaridade (12 anos ou mais) são fisicamente ativas, mais que o dobro dos menos escolarizados (0 a 8 anos de estudo), grupo em que apenas 20,9% são ativos.

    A porcentagem fica em 18,9% nos maiores de 65 anos, os menos ativos, e 37,9% na faixa etária dos 25 a 34 anos, os que mais praticam atividade física no tempo livre.

    “Os baixos níveis de atividade física da população brasileira preocupam muito. A inatividade física causa mais de 5 milhões de mortes por ano no mundo. Políticas públicas de promoção da atividade física são urgentes em todo o território nacional”, reforça Pedro Hallal, Professor da Universidade Federal de Pelotas e um dos coordenadores do Covitel.

    Excesso de peso, diabetes e hipertensão

    Os índices de excesso de peso e de obesidade são um reflexo da combinação entre dieta inadequada e prática insuficiente de atividade física, argumentam os pesquisadores.

    Atualmente, mais da metade da população brasileira (56,8%) está com excesso de peso (soma de pessoas com sobrepeso e com obesidade), ou seja, estão com índice de massa corporal (IMC) igual ou acima de 25kg/cm2. O índice chega a 68,5% na faixa etária que tem entre 45 e 54 anos e a alarmantes 40,3% entre os mais jovens, com 18 a 24 anos.

    No contexto do diabetes, 10,3% da população brasileira têm diagnóstico médico para a condição, sendo as mais afetadas as pessoas com 65 anos ou mais (26,2% dessa população é diabética) e com 0 a 8 anos de escolaridade (15,7% tiveram o diagnóstico).

    O número é superior em relação à hipertensão arterial, 26,6% dos brasileiros tiveram diagnóstico, com maiores prevalências entre mulheres (30,8% delas são hipertensas), maiores de 65 anos (62,5% desse grupo têm o diagnóstico) e aqueles com até 8 anos de escolaridade (38% são hipertensos). Chama atenção que, entre os mais escolarizados, com 12 anos ou mais de estudo, a prevalência cai para menos da metade, com 15,6% de hipertensos.

    Rio de Janeiro
    Prática regular de atividade física é considerada um fator de proteção contra o desenvolvimento de doenças crônicas / Fernando Frazão/Agência Brasil

    Tabagismo e consumo de álcool

    O Covitel 2023 mostra que a prevalência atual de tabagismo (uso de cigarro convencional, de palha, de papel, charuto e cachimbo) no Brasil é de 11,8%.

    Nos três períodos avaliados pelo inquérito (pré pandemia, 1º trimestre de 2022 e 1º trimestre de 2023), a prevalência se manteve estável no Brasil, interrompendo uma tendência consistente de redução dos últimos anos. Quem mais fuma são os homens (15,2% deles são fumantes), pessoas da região Sul do país (15,8% dessa população fuma) e as pessoas com idades entre 45 e 54 anos (15,2% das pessoas nessa faixa têm o hábito).

    “O Brasil é um país referência em políticas de controle de tabaco e muitos avanços foram registrados nas últimas décadas, mas os esforços não podem parar. Hoje temos um problema que é o fato de o cigarro convencional estar muito barato (é o segundo mais barato da região das Américas), uma vez que não há reajuste de preço desde 2016”, explica Luciana Vasconcelos Sardinha, gerente sênior de DCNT da Vital Strategies e uma das coordenadoras do Covitel.

    De acordo com a especialista, o aumento do preço de produtos que fazem mal à saúde é uma estratégia comprovada de desincentivo ao consumo.

    “É fundamental entender a importância de se estabelecer um imposto específico sobre produtos derivados do tabaco, de forma que o seu preço final volte a aumentar. E essa arrecadação deve ser destinada para ações de prevenção da iniciação e apoio à cessação ao fumo, além de cobrir parte dos custos diretos e indiretos com o tratamento das doenças relacionadas ao uso de produtos derivados do tabaco”, complementa.

    O Covitel apontou 22,1% de prevalência de uso abusivo do álcool entre os brasileiros nos 30 dias que antecederam as entrevistas do inquérito, sendo que a prevalência ficou maior entre o sexo masculino (28,9% dos homens relataram episódio), entre pessoas com maior escolaridade, com 12 ou mais anos de estudo (26,5%), e entre os jovens adultos entre 18 e 24 anos (32,6% tinham consumido álcool de maneira abusiva).

    Já considerando o uso regular do álcool, que contempla três ou mais vezes por semana, 7,2% da população brasileira relatou fazer esse consumo regular. As maiores  prevalências estão entre as pessoas do Sudeste (10,2% das pessoas dessa região bebem com frequência) e homens (11,8% deles têm o hábito de beber três ou mais vezes na semana).

    Uso de cigarro eletrônico apresenta riscos para a saúde / Mauro Grigollo/Getty Images

    Saúde mental

    Hoje, 12,7% dos brasileiros relatam já terem recebido diagnóstico médico para depressão. As maiores prevalências estão na região Sul (18,3% de pessoas com depressão), entre as mulheres (18,1% delas já tiveram diagnóstico), e na faixa etária de 55 a 64 anos (17%), seguida pelos jovens de 18 a 24 anos (14,1%).

    Já o diagnóstico médico para ansiedade chegou para 26,8% dos brasileiros. Um terço (31,6%) da população mais jovem, de 18 a 24 anos, é ansiosa, os maiores índices de ansiedade, líder dentre todas as faixas etárias no Brasil. As prevalências são maiores no Centro-Oeste (32,2%) e entre as mulheres (34,2%).

    Este ano, o Covitel também perguntou aos brasileiros se eles dormem o tempo recomendado para sua idade e 59,3% disseram que sim. Além da quantidade de sono, outro fator que contribui para a saúde dos brasileiros é a qualidade do sono. Cerca de 59% dos brasileiros dizem dormir bem, sendo que 63,9% dos homens dizem ter boas noites de sono, enquanto 54,3% das mulheres relatam ter sono de qualidade. No recorte raça/cor também há diferenças: 64,2% das pessoas brancas dormem bem, índice que fica em 55,1% entre pretos e pardos.

    O Covitel 2023 traz um retrato da magnitude das prevalências e do impacto dos principais fatores de risco para doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) na população adulta brasileira. As DCNT são quadros clínicos que não são provocados por agentes infecciosos, como doenças cardiovasculares, câncer, diabetes, doenças respiratórias crônicas e condições mentais e neurológicas.

    Essas condições são impactadas por uma combinação de fatores, como tabagismo, alimentação inadequada, consumo abusivo de álcool, sedentarismo e poluição do ar.

    Esse grupo de doenças causa 41 milhões de mortes por ano, o equivalente a 74% de todas as mortes globais, de acordo com a OMS. Por ter sua primeira edição durante a pandemia em 2022, a pesquisa ainda levantou dados específicos sobre Covid-19, que também foram incluídos na edição de 2023.

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