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    Análise: Para onde irá Putin após “punhalada nas costas”?

    Presidente de Belarus negociou acordo com Yevgeny Prigozhin, líder do Grupo Wagner, para encerrar marcha do grupo mercenário em direção a Moscou

    Richard Galantda CNN

    “É uma punhalada nas costas de nosso país e de nosso povo”, disse o presidente da Rússia, Vladimir Putin, à nação no sábado (24), ao enfrentar um desafio sem precedentes de seu ex-aliado, Yevgeny Prighozin, chefe do Grupo mercenário Wagner.

    “Foi o mesmo tipo de golpe que a Rússia sentiu em 1917, quando o país entrou na Primeira Guerra Mundial, mas teve a vitória roubada. Intrigas, brigas, politicagem nas costas do exército e do povo acabaram sendo o maior choque, a destruição do exército, o colapso do Estado, a perda de vastos territórios e, no final, a tragédia e a guerra civil. Russos mataram russos, irmãos mataram irmãos.”

    Como costuma acontecer, a versão da história de Putin não era totalmente precisa. Por um lado, a Rússia entrou na guerra em 1914, mas a convulsão que ele descreveu começou em 1917, com a derrubada do czar e a eclosão de uma revolução e, finalmente, uma guerra civil.

    O regime soviético que emergiu do caos governaria a Rússia e seu império como um estado totalitário até 1991.

    Quando Putin declarou em seu discurso que a revolta era uma traição e deveria ser reprimida, Prighozin respondeu que o presidente estava “profundamente enganado”, embora mais tarde tenha dito que estava voltando suas tropas em vez de marchar para Moscou.

    O Kremlin disse que o impasse foi resolvido por meio de discussões com o presidente de Belarus, Aleksandr Lukashenko.

    Agora, aconteça o que acontecer, o episódio foi um sinal marcante de que, enquanto a Rússia luta com suas perdas na Ucrânia, a permanência de Putin no poder pode não ser mais inquestionável.

    “Os russos não foram esfaqueados pelas costas durante a Primeira Guerra Mundial, como Putin sugeriu durante seus comentários no sábado”, escreveu Peter Bergen. “Na verdade, eles travaram uma guerra terrestre ruinosa na Europa, caracterizada pela extrema incompetência de Nicolau II e sua liderança sênior. À medida que as perdas russas no campo de batalha aumentavam, os soldados russos se amotinavam, ajudando a instigar a revolução de 1917. Soa familiar?”

    “Um estudante perspicaz da história russa, Putin está ciente do que está em jogo aqui. Sua invocação dos eventos de 1917 mostra que ele sabe que o motim do grupo Wagner pode representar uma ameaça existencial ao seu regime. Ele eliminou praticamente toda a resistência de qualquer organização civil, então ele só enfrenta uma ameaça real das forças militares russas”, completou Peter.

    Nathan Hodge, da CNN, escreveu que Prighozin foi uma ameaça que o próprio Putin criou. A força do Grupo Wagner serviu ao presidente russo como uma ferramenta útil que ele poderia controlar para aventuras estrangeiras.

    No entanto, Hodge observou que, “ao dar rédea solta a Prigozhin para formar um exército privado, Putin liberou as ambições políticas do empresário e entregou o monopólio do estado sobre o uso da força”. Ele apontou que “a narrativa da ‘punhalada nas costas’ em torno da derrota da Alemanha [na Primeira Guerra Mundial] foi um dos mitos que ajudou a impulsionar os nazistas ao poder”.

    A posição enfraquecida de Putin não foi uma surpresa completa. Quando Putin se reuniu recentemente com correspondentes de guerra e blogueiros, segundo escreveu Mark Galeotti, “ele estava implicitamente reconhecendo três coisas: que o Kremlin está tendo problemas para conduzir a guerra na Ucrânia; que os comentaristas não oficiais são, à sua maneira, tão poderosos quanto a máquina de mídia estatal; e que a narrativa oficial confiante está falhando em obter muita tração.

    “Às vezes, Putin parecia inconsciente dos detalhes da guerra que ele tão notoriamente tenta microgerenciar, e às vezes ansioso para se distanciar dela. O que quer que esteja dando errado, é claro, sempre é responsabilidade de outra pessoa.”

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