Meio ambiente, big data e alergia: o que há de novo?
Datas comemorativas sempre trazem luz, reflexão e, claro, novidades sobre determinados assuntos. Entretanto, muitos desses debates acabam perdendo força e poucos são aqueles que seguem firmes, alimentando e ampliando novas discussões. O meio ambiente é um desses bons casos de persistência: está pautado no nosso dia a dia, nos pequenos e grandes detalhes.
Quando pesquisamos sobre qualquer questão ligada ao meio ambiente, como combate ao desmatamento, alternativas para produtos poluentes, melhora da qualidade do ar e o uso racional de recursos hídricos, não faltam iniciativas e posicionamentos de diferentes pontos de vista.
Agora em junho, por exemplo, celebramos a Semana Mundial da Alergia (18 a 24), e o foco está na “gestão de doenças alérgicas e imunológicas em meio a mudanças ambientais”. Não é de hoje que cientistas e pesquisadores alertam sobre o impacto da poluição, nos seus mais variados aspectos, nas condições de saúde, principalmente de crianças e adolescentes, que dependem de um ambiente saudável para atingirem o seu desenvolvimento pleno.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 35% da população sofre com alguma doença alérgica respiratória. Normalmente, essas doenças costumam se agravar no inverno e os prontos-socorros se preparam para atender a uma demanda maior que a habitual. A questão é que, com as mudanças climáticas, o aquecimento global e uma série de outros problemas, essa tradicional sazonalidade vem perdendo o seu padrão. Diante disso, é preciso se preparar. Afinal, na medicina, conhecimento científico baseado em evidência e prevenção são uma dupla de sucesso.
O crescente número de casos de doenças respiratórias no mundo todo tem estimulado pesquisas sobre rinite, asma, bronquiolite e covid-19, por exemplo. Hoje, uma das equipes do instituto de pesquisa que lidero na capital paulista trabalha, exclusivamente, para entender como as questões socioeconômicas e ambientais estão relacionadas à saúde de crianças e adolescentes.
Com financiamento da Fundação José Luiz Egydio Setúbal e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), analisamos dados diários da poluição da cidade – como temperatura, umidade relativa do ar e fluxo de automóveis – e, com o uso de inteligência artificial, estamos desenhando uma previsão de atendimentos e casos de internação para um dos maiores hospitais exclusivamente pediátrico do país. Nosso objetivo é agilizar o atendimento dos pacientes e, consequentemente, otimizar recursos.
Nesse estudo, que também está em fase final para investimento pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), temos um indicador constante: entre as crianças internadas por bronquiolite, por exemplo, a maioria vive perto de grandes vias de trânsito rápido, como as marginais. Um dado esperado, mas que não deixa de ser preocupante.
Uma outra investigação científica nossa avalia os efeitos do uso excessivo de medicação na infância, como a cortisona. Sabe aquele xarope para tosse bastante conhecido, que fica ao alcance do público na farmácia, sem necessitar de receita médica? É dele mesmo que estou falando. Eles são acessíveis e muito fáceis de adquirir. O problema é que, em longo prazo, as crianças que usam esses remédios sem a devida recomendação médica têm maiores chances de desenvolverem osteoporose na vida adulta e outros problemas como deficiência de crescimento, glaucoma ou catarata.
Diversas pesquisas ao redor do mundo têm comprovado que o contato diário com a natureza pode contribuir significativamente para a melhora do nosso sistema imunológico. Algo simples, mas que faz muito bem para a nossa saúde física e mental.
Uma infância saudável para uma sociedade melhor é o que eu acredito como pessoa e como médica. Não é possível interromper o processo mundial de urbanização, mas aquele clichê é verdadeiro: em pequenos gestos podemos promover grandes mudanças.
E aqui vai um lembrete: alergia e imunidade são coisas sérias. A alergia é uma reação do nosso organismo a alguma substância, que desencadeia uma série de sintomas, como espirros, coceiras, tosse, inchaço e até dificuldade para respirar, tontura e queda de pressão nos casos mais graves. Ela pode ser leve, moderada ou levar à morte. Cada paciente tem a sua sensibilidade. Por isso, nunca pratique a automedicação (e cuide de cada espaço verde que está próximo a você).
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