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    Ex-chefe do GSI, general Heleno nega participação em plano de golpe de Estado

    Militar que integrou o governo Bolsonaro alegou que a palavra "golpe" foi banalizada; ele foi ouvido nesta quinta-feira (1º) na CPI dos Atos Antidemocráticos da Câmara Legislativa do DF

    Pedro Jordãoda CNN , São Paulo

    O general Augusto Heleno, ex-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), negou, nesta quinta-feira (31), ter participado de um plano de golpe de Estado relacionado aos atos antidemocráticos de 8 de janeiro, em Brasília.

    A declaração foi dada em depoimento na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Atos Antidemocráticos da Câmara Legislativa do Distrito Federal (DF).

    Aos deputados, o general defendeu que para se aplicar um golpe de Estado no país seria necessário um líder. Heleno foi questionado sobre áudios de militares ligados ao ex-presidente em que discutiam um plano para um movimento golpista.

    Ele negou ter participado e ainda afirmou que o termo “golpe” foi banalizado.

    “Se eu tivesse sido articulador, eu diria aqui. Eu acho que o tratamento que estão dando a essa palavra “golpe” não é um tratamento adequado. Porque um golpe, para ter realmente sucesso, ele precisa ter um líder principal, alguém que esteja disposto a assumir esse papel de liderar um golpe. Não é uma atitude simples, ainda mais em um país do tamanho e da população do Brasil”.

    O general Heleno comandou o GSI no governo de Jair Bolsonaro (PL). A comissão da Câmara distrital trata dos atos de 8 de janeiro, quando apoiadores de Bolsonaro, insatisfeitos com o resultado das urnas, que deu vitória a Luiz Inácio Lula da Silva (PT), invadiram e depredaram as sedes dos Três Poderes da República.

    Bate-boca com deputado do PSOL

    O deputado distrital Fábio Felix (PSOL) defendeu que houve um movimento coordenado para a execução de um golpe de Estado no Brasil antes de fazer questionamentos ao general. Em diversos momentos, durante as respostas do militar, houve bate-boca na casa legislativa.

    Negando que teria estimulado as invasões do 8 de janeiro, o general começou: “Se parar para pensar que um ministro de Estado vai recomendar uma coisa dessas para uma pessoa que eu mal conhecia, ‘vai lá e ataque o Supremo, joga fogos de artifício no Supremo’…”.

    Antes de concluir, Heleno foi interrompido por Felix: “Mas o senhor tem um histórico de falas muito duras contra o Supremo. Vejo que o senhor tem uma relação muito difícil com o STF”.

    “Não tenho relação difícil. Não devo nada ao Supremo. Não tenho relação difícil com ninguém, me dou muito bem com vários dos ministros”, retrucou Heleno.

    Ainda assim o deputado distrital continuou na mesma linha: “Eu digo pelas declarações [que o senhor já fez], inclusive nós temos até gravações aqui de várias declarações do senhor muito duras em relação ao STF, [enquanto estava] ocupando o cargo de ministro de Estado. A harmonia entre os poderes é um preceito fundamental, que a gente precisa preservar. Não acho que caiba a um ministro de Estado intimidar ou atacar a independência do STF”.

    Heleno disse concordar com a necessidade de ministros respeitarem o STF, mas indicou ver como necessário que a suprema corte do país também não ‘atacasse ministros’: “É um fundamento do Estado Democrático de Direito. Precisa haver dos dois lados”, disse.

    Além disso, o general garantiu que aconselhava Bolsonaro no sentido de não tomar atitudes drásticas contra o Supremo Tribunal Federal (STF).

    Em outro momento, diante de questionamentos do mesmo deputado distrital sobre a reunião que Bolsonaro realizou com embaixadores de diversos países em junho de 2022, o general Heleno disse não concordar que houve um processo histórico, com diversas ações do ex-presidente e de seus ministros, que culminou nos atos de 8 de janeiro.

    Heleno também não quis opinar se um eventual reconhecimento da vitória de Lula pelo ex-presidente teria acalmado os bolsonaristas que invadiram as sedes dos Três Poderes.

    Outros pontos do depoimento

    Sobre uma live em que o ex-presidente atacou as urnas eletrônicas, o general disse não se lembrar da transmissão e que confiava “em termos” nos equipamentos.

    “Eu acredito, em termos, mas eu acho que é preciso que haja uma evolução da urna eletrônica, para que ela seja totalmente confiável. Houve uma série de questionamentos em relação à confiabilidade da urna. Isso é normal em um regime democrático. Isso é normal. O resultado da eleição foi respeitado.”

    Heleno informou ainda que não se lembra de ter curtido uma postagem com conteúdo golpista. O tuíte foi mostrado pelos deputados na CPI.

    Sobre acusações de que teria aparelhado o GSI, o general Heleno contou que, durante a transição de governos, passou todas as informações ao general Gonçalves Dias, que ocupou o GSI nos primeiros meses deste ano, durante o governo do presidente Lula.

    “O general Gonçalves Dias, eu sempre tive um bom relacionamento com ele e me coloquei à disposição para conversar com ele sobre o que ele quisesse. Meu secretário executivo fez quatro palestras para ele [general Gonçalves Dias], em uma delas ele levou, inclusive, o ministro [Aloizio] Mercadante. Então foi passado tudo que ele quisesse saber sobre o GSI. [O secretário executivo] colocou para ele [Gonçalves Dias] que ele tiraria [do GSI] quem ele quisesse e colocaria quem ele quisesse”.

    Convocações da CPI

    Antes do depoimento de Heleno começar, os deputados decidiram convocar novamente o Coronel Jorge Eduardo Naime, ex-comandante de operações da Polícia Militar do Distrito Federal. Segundo o requerimento, foram identificadas contradições entre o primeiro depoimento dele e o do general Dutra, ex-chefe do Comando Militar do Planalto.

    Os parlamentares também aprovaram a convocação do major da PM Flávio Silvestre de Alencar e do diretor do Departamento da Polícia Especializada da Polícia Civil do DF, Victor Dan de Alencar Alves.

    A CPI terminou com bate boca após o general Augusto Heleno defender a ditadura militar no Brasil.

    Ditadura

    O deputado distrital Gabriel Magno (PT), ao questionar o general, afirmou que o golpe de 1964 foi um “atentado contra os direitos humanos, contra a vida, contra os direitos políticos e contra os direitos físicos dos brasileiros”.

    Heleno respondeu que a ação impediu o Brasil de virar um país comunista. “O deputado acha que o movimento de 64 matou mais de mil pessoas, o que não aconteceu. Acha que foi um movimento de vingança, de ódio, quando o movimento de 64 salvou o Brasil de virar um país comunista isso não tem nenhuma dúvida”.

    Após a declaração, os deputados começaram a discutir, e o presidente da CPI, deputado Chico Vigilante (PT), encerrou o depoimento.

    *Publicado com informações da Agência Brasil de notícias

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