IBGE divulga PIB do 1º trimestre em meio a onda de revisões para cima
Colheita recorde e dados de consumo melhores que o esperado alimentam expectativas dos economistas por crescimento forte nos primeiros meses, mas desaceleração deve vir no restante do ano
O Produto Interno Bruto (PIB) do primeiro trimestre, que será divulgado na manhã desta quinta-feira (1º) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), deve confirmar a ampla expectativa de que o Brasil tenha tido um começo de ano bem melhor do que o esperado, e referendar a onda de revisões para cima que bancos, corretoras e consultorias têm feito em suas projeções para o crescimento econômico do país em 2023.
Entre as razões para um primeiro trimestre positivo, a despeito de uma taxa de juros que, em março, já completava seu sétimo mês em 13,75% ao ano, os economistas destacam um mercado de trabalho robusto, um alívio na inflação — que abriu mais espaço para a renda e o consumo — e, principalmente, um momento excepcional para a agricultura, com safras, como a de soja, batendo recordes.
As estimativas de economistas consultados pela CNN falam em um PIB crescendo mais de 1% no primeiro trimestre deste ano, depois de passar por uma leve queda no quarto de 2022, e um avanço em 2023 completo mais próximo de 1,5% do que do 1% das projeções iniciais.
O resultado ao fim do ano só não será maior porque os especialistas calculam que, se não já neste trimestre, no segundo semestre a desaceleração encomendada pelos juros altos deve aparecer com mais força na economia.
“O desempenho do setor agrícola é parte muito importante dessa história; ele sozinho deve responder por mais da metade do crescimento do trimestre”, disse o economista-chefe do Bradesco, Fernando Honorato.
Na ponta dos mais otimistas, o banco calcula que o PIB brasileiro tenha crescido 1,5% na passagem do quarto trimestre do ano passado para o primeiro deste. Só a agricultura, que representa pouco mais de 6% do PIB total, deve crescer 12% nessa base nas contas do banco.
Com os números fortes deste começo de ano, o Bradesco revisou sua projeção para o fechamento do ano de 1,5% para 1,8%.
“Se o Brasil não crescer mais nada nos próximos trimestres, o PIB cresce 2% só por conta do impulso desse primeiro trimestre”, diz Vitor Costa Velho, economista para macroeconomia da equipe de análise do Bradesco.
Isso acontece, explica ele, só por conta do efeito estatístico que um crescimento forte nos primeiros meses deixa de “herança” para o restante do ano.
A LCA Consultores, que conta com um aumento de 1,6% do PIB no primeiro trimestre, revisou sua projeção de crescimento para o ano de 1,3% para 1,5%.
“Esses números são consideravelmente superiores aos que projetávamos algumas semanas atrás e são impulsionados pelo grande crescimento da agropecuária e pela resiliência surpreendente do setor de serviços”, disse a consultoria econômica em relatório.
“A resiliência do consumo ocorre na esteira das condições favoráveis observadas no mercado de trabalho — que, todavia, começa a mostrar sinais de desaceleração. Isso, somado ao aperto das condições de crédito, nos leva a manter expectativa de esfriamento do consumo e da economia ao longo deste ano e em 2024”, acrescenta.
Mesmo com números mais fracos que a maioria, a ASA Investments também revisou sua projeção para o crescimento do país em 2023 — de zero para 0,5% — na esteira de um primeiro trimestre mais forte.
Esse avanço, porém, pode acabar sendo maior até o fim do ano caso os dados da atividade continuem trazendo surpresas positivas nos próximos meses.
“Esperamos uma desaceleração mais contundente da atividade no segundo trimestre”, diz Leonardo Costa, economista da ASA Investments. “Contudo, os dados mais recentes indicam uma resiliência até maio, com os dados de confiança em elevação, por exemplo. Então há a possibilidade de um ritmo mais forte da atividade em 2023″, acrescentou.
Os empresários do comércio, dos serviços e também os consumidores são alguns que estão com a confiança e o otimismo em relação à economia em alta, de acordo com as pesquisas mensais feitas pela Fundação Getulio Vargas.
A equipe econômica do Santander, que revisou de 1% para 1,2% sua projeção de para o primeiro trimestre, destaca que o avanço deve interromper uma sequência de três trimestre de desaceleração na atividade.
Depois de um avanço de 1,3% no primeiro trimestre do ano passado, sempre comparado com o trimestre imediatamente anterior, o PIB variou 0,9%, 0,3% e -0,2% nos três trimestres seguintes.
Para o fechamento de 2023, o banco ainda segue sem mexer na projeção, que é de avanço de 1% — “mas com um risco de que seja um pouco maior”, escreveu em relatório.
“Acreditamos que as condições financeiras vão continuar sufocando a atividade, e a perspectiva para 2023 continua sendo desafiadora tendo em vista a política apertada [de juros] do Banco Central e a desaceleração global que deve acontecer”, escreveu a equipe econômica do banco.